Os insetos artificiais têm na região inferior polinizadores constituídos por cabelos de cavalo e um gel iónico suficientemente pegajoso para colar o pólen de uma flor e depositá-lo noutra flor, segundo a investigação hoje publicada na revista Chem.

Longe de querer substituir as abelhas, os autores das “abelhas” artificiais esperam antes que a invenção possa ajudar a compensar o défice de abelhas.

De acordo com o trabalho, o gel usado para os polinizadores artificiais resultou de uma experiência que correu mal. Em 2007, o investigador Eijiro Miyako, um químico do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial (Instituto de Pesquisa em Nanomateriais), trabalhava na produção de líquidos que pudessem ser usados como condutores elétricos.

Numa das suas tentativas criou um gel tão pegajoso como a cera do cabelo, que considerou um fracasso. Depois de quase uma década colocado dentro de um frasco selado num armário, o gel foi descoberto inalterado quando se fazia uma limpeza ao laboratório.

Inspirado pelas preocupações com as abelhas e com as novas notícias sobre insetos robóticos, Miyako começou a investigar, usando moscas e formigas, se o gel podia funcionar para reter o pólen.

Este projeto é o resultado de uma descoberta por acaso, disse Miyako, acrescentando: “Ficámos admirados que depois de oito anos o gel iónico não se tinha degradado e continuava viscoso. Os géis convencionais são feitos essencialmente de água e não podem ser usados durante muito tempo, por isso decidimos usar este material na pesquisa”.

Para determinar se o gel poderia servir para agarrar o pólen o investigador apanhou formigas perto do Instituto, untou algumas com o gel e deixou-as a vaguear numa caixa com tulipas. Depois comparou as formigas com gel e sem gel e verificou que as primeiras tinham mais pólen no corpo. Noutra experiência Miyako usou moscas.

O passo seguinte seria uma máquina voadora suficientemente pequena que pudesse manobrar no meio de um campo de flores, como uma abelha. E para isso usou um “drone” de quatro hélices no valor de menos de 100 euros colocando o gel na sua superfície lisa. Não funcionou.

Com a colaboração de outros investigadores experimentaram usar crina de cavalo para imitar a estrutura da abelha e criar uma área onde o pólen se pudesse agarrar. A equipa usou os “drones” por controlo remoto e conseguiu que funcionasse o processo de polinização artificial.

“As descobertas, com aplicações na agricultura e robótica, entre outras, podem levar ao desenvolvimento de polinizadores artificiais e ajudar a combater os problemas causados pelo declínio das populações se abelhas”, disse Miyako.