Há atividades simples que se fazem todos os dias que teriam a dificuldade aumentada drasticamente, se não se falasse a língua. Essa é uma realidade que Yana Dulina conhece bem. Metade russa, metade ucraniana e com passaporte israelita vive na Alemanha, mas não fala alemão, habituou-se a ser acompanhada por um intérprete e gastou muito dinheiro nesse serviço. Quis, por isso, facilitar a sua vida e de outros com o mesmo problema, a The Common Language quer acima de tudo criar pontes e estimular a comunicação.

Yana explica ao SAPO24, "cada vez que vou ao medico, renovar o meu visto ou qualquer outra atividade e marcação tenho que ter um interprete comigo." Brincando com o facto dos países de onde vem estarem todos envolvidos em conflitos diz, "sou metade russa, metade ucraniana e tenho um passaporte israelita. Portanto sei uma coisa ou outra sobre emigrantes e dificuldades numa vida nova". E deixa no ar a conclusão quando pede que a essa realidade se imagine "juntar isso uma outra língua".

Por isso, a The Common Language surgiu quase de forma natural, "o que fazemos é oferecer um serviço remoto de interpretes, porque é mais barato e há mais disponibilidade". Pormenoriza explicando que há logo mais facilidade e vantagens no preço por estes interpretes não se terem que dirigir in loco com o imigrante.

Orgulhosa, conta que já não é um protótipo. "Já estamos lançados e a trabalhar. Neste momento temos quatro línguas e vamos ter mais três na próxima semana". A juntar ao russo, ucraniano, alemão e inglês a aplicação passará a oferecer árabe, turco e hebraico.

Yana quer "crescer rapidamente" e acredita muito no sucesso do seu negócio, principalmente pela competitividade dos preços que oferece. Se o utilizador escolher uma hora com um intérprete profissional terá o valor de 30 euros, já se preferir um não profissional custará apenas 20 euros. "Muito mais barato do que ter uma pessoa a acompanhar-nos durante esse tempo", comenta.

E adianta que a curto prazo quer ainda tornar-se mais competitiva, "queremos ter o mais depressa possível o Chat GPT a trabalhar na app para que possamos ter mais oferta e ainda mais barata." Mas ainda com poucas línguas e apenas com um mês de atividade já 100 utilizadores pagaram pelo serviço e 1000 descarregaram a aplicação.

Mas lamenta que o trabalho não esteja a ser mais fácil e admite que agora precisa de se focar na vertente de relações governamentais. "Agora queremos ter um trabalho forte junto dos governos. Os nossos utilizadores já foram rejeitados por organismos oficiais, por levarem uma app com um intérprete remoto e não um intérprete com eles".

Esta é a única altura da conversa com o SAPO24 em que se mostra mais desanimada, "isto é desastroso, as autoridades não estarem a perceber que os tempos estão a mudar. Fico de coração partido e cheia de pena. Na realidade, nós estamos a ajudar os governos com um serviço acessível aos seus migrantes, aos seus cidadãos".

Depois do lançamento, a Web Summit foi o primeiro grande teste e veio "à procura de parceiros e investidores".

Para futuro, "o meu sonho é ter um QR Code nos serviços de migração e hospitais, ter o nosso apoio lá."

E de forma a explorar mercado questiona o número de falantes de português, os fluxos migratórios e explica que faz as perguntas porque quer "muito ter português como língua, e ter um mercado aqui também."