Sob o mote “Feed the world. Make it a better place” (“Alimentar o mundo. Torná-lo num lugar melhor”, na tradução em português), especialistas internacionais reuniram-se hoje num dos palcos da Web Summit e confirmaram perante uma plateia cheia que a capacidade de a humanidade se alimentar no presente e no futuro apresenta-se como um dos grandes desafios mundiais.
E fizeram questão de recordar que atualmente há cerca de 821 milhões de pessoas no mundo a passar fome, número que aumentou pelo terceiro ano consecutivo.
A explosão da população mundial (segundo as antevisões da ONU deverá atingir os 9,8 mil milhões em 2050), a crescente urbanização (população em áreas urbanas vai atingir os 2,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo em 2050), as alterações climáticas e o desperdício alimentar foram alguns dos vários problemas identificados sobre esta temática por Christiana Figueres, uma diplomata costa-riquenha que chefiou as negociações para o Acordo de Paris sobre o clima, aprovado sob os auspícios da ONU na capital francesa em dezembro de 2015.
Para Christiana Figueres, a comunidade tecnológica poderá desempenhar um papel importante na abordagem deste desafio, nomeadamente através da criação de sistemas operativos que contornem a ineficácia observada atualmente na oferta, na procura e na distribuição dos alimentos.
Mas a diplomata, uma vegetariana convicta, também confrontou a plateia com ideias que classificou como mais provocatórias para conseguir uma agricultura mais sustentável (com mais áreas de cultivo e menos áreas de pasto) e uma alimentação mais responsável.
Entre elas, a hipótese de os restaurantes adotarem as regras aplicadas atualmente aos fumadores às pessoas que desejem consumir carne.
“Se querem comer carne têm de ir para uma zona exterior”, afirmou Christiana Figueres, que também propôs, entre outras ideias, a produção de fertilizantes orgânicos através de desperdícios alimentares.
Para o diretor de Inovação e Gestão de Mudança do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU, Robert Opp, a criação de base de dados, produtos e sistemas que ajudem os agricultores a antever e a contornar os efeitos das alterações climáticas podem ser uma grande mais valia para os anos futuros. Por exemplo, sistemas que consigam analisar os ciclos das chuvas ou a sua ausência.
A criação de novas tecnologias que ajudem a distribuição dos alimentos, “um grave problema” dos tempos atuais segundo Robert Opp, ou que permitam uma relação mais direta entre os agricultores e o mercado também foram referidos pelo representante da organização com sede em Roma.
A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo Web Summit nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Lisboa, devendo permanecer na capital portuguesa até 2028.
A edição deste ano realiza-se até quinta-feira no Altice Arena (antigo Meo Arena) e na Feira Internacional de Lisboa (FIL), em Lisboa.
Segundo a organização, nesta terceira edição do evento em Portugal, participam cerca de 70 mil pessoas de mais de 170 países.
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