Até meados de março, a previsão de visitantes na Web Summit Rio girava em torno dos 5 mil a 10 mil participantes. Foram 20 mil, segundo a organização, e somando convites e equipa técnica o número poderá chegar aos 30 mil. Claro que ainda distante dos números de Lisboa – que em 2022 ultrapassou os 71 mil visitantes enlouquecidos por descobrir o que está por vir no mundo da tecnologia, mas o perfil de audiência não muda mesmo com um oceano de distância.

A Web Summit é um dos maiores eventos de inovação do mundo e, na sua edição carioca, podemos destacar que o foco da organização foi em banca/fintechs, venture capital, inteligência artificial e, óbvio, startups.

Nem tudo correu bem, mas é preciso entender que foi a primeira edição no Rio de Janeiro e que se apresentou com diversos desafios. A maioria dos problemas foi de ordem técnica: microfones que não funcionavam, problemas com decksde alguns palestrantes como o do apresentador Luciano Huck: “Gente, vou parar de falar em inglês porque meu inglês é péssimo e acabo de perder o TP (teleprompter), apareceu uma campanha de um banco aqui. O que faço?”. Tudo recebido com humor pela audiência.

Como a sessão de abertura do evento acontece num ambiente fechado, com limitação de pessoas, aproximadamente duas mil ficaram de fora, mas isso também acontece em Lisboa. Quem vai a um evento como esse, não estranha esse tipo de limitação.

Web Summit Rio de Janeiro 2023
Paddy Cosgrave na Web Summit Rio

O próprio Paddy Cosgrave, fundador da Web Summit, na área de entrevistas do evento, afirmou que houve um erro de cálculo baseado na baixa perspectiva de presença. É preciso dar um desconto. O evento em si foi muito bom e, certamente, na próxima edição estará mais bem preparado. E a gerar essa conexão incrível criada com pessoas de visões tão diferentes que estão a circular num mesmo ambiente.

O que dá um sabor especial ao evento é quando se quebra a aridez com uma das vozes mais ouvidas no Brasil, que é o caso da empresária Luiza Trajano, CEO da Magalu, uma rede de retalho que está entre as três maiores empresas no país. Luiza, como é simplesmente tratada, é uma mulher com atitude e dona de uma simpatia genuína capaz de abrir sorriso em qualquer semblante fechado. “O mercado mudou. O CEO que não estiver a contratar mais mulheres e mais negros, não estará a fomentar a diversidade em sua empresa. Ele não vai sobreviver”, ensina a CEO, “quem está a pedir isso é o consumidor final”. Antes de ser aplaudida pela plateia que lotou o palco principal para ouvi-la, Luiza ainda disse: “no cenário que vivemos, não podemos mais falar só em crescimento a qualquer custo, precisamos falar em crescimento com eficiência, além de empatia.”

Mas se há um tema que tem conquistado espaço sem fazer o menor esforço, é a Inteligência Artificial. Claro que não podemos dizer que foi surpresa, já que ferramentas como o ChatGPT fizeram tanto barulho nos últimos meses. Por onde quer que você esbarrasse numa palestra, lá estava a IA a ser abordada a partir do grande hype que se tornou a IA generativa. Na Web Summit Rio se falou sobre o avanço da IA e os desdobramentos de sua aplicação em variados setores, sem deixar de falar sobre a substituição da mão de obra humana. Isto tudo no momento em que se fala em aumentar eficiência com IA.

Web Summit Rio de Janeiro 2023
Alex Collmer, CEO da VidMob

No ecossistema do marketing digital, a IA também foi destaque em alguns palcos. Um deles, no palco Panda, a Inteligência Criativa foi explicada por Alex Collmer, CEO da VidMob, empresa americana líder global em seu segmento. Disclaimer: esta é a empresa com que atualmente trabalho e que conheço naturalmente melhor que as outras, mas acreditem quando digo que realmente ajuda a impulsionar as campanhas pondo fim no “achismo” criativo com o seu algoritmo. A VidMob apura com precisão, frame a frame, tudo o que existe na campanha e cruza esses dados com desempenho dos criativos nas redes sociais. Desse cruzamento surgem as golden rules da marca que respondem ao que funciona e o que não. E mais importante, ao porquê. “Nesse mar de conteúdo que está surgindo, capaz de preencher todos os espaços das campanhas com qualidade, quem se destacará? Aquele que souber falar diretamente com a sua audiência, sem ruídos", apontou Alex Collmer. Respondeu ainda a uma inquietação atual que é sobre a substituição da mão de obra humana pela IA: “Não é a IA quem vai substituir alguém em seu emprego. Quem fará isso será aquele que melhor souber utilizar a IA em sua função.”

Web Summit Rio de Janeiro 2023
À esquerda, Cristina Ferreira. À direita, Txai Suruí, líder indígena e ativista pela preservação da Amazônia.

A Web Summit Rio de Janeiro trouxe ao palco a diversidade e a importância da presença da mulher na liderança das organizações. Para fomentar a presença de mulheres, dinamizaram, como também acontece em Lisboa, a iniciativa “Women in Tech” que ofereceu ingressos com 75% de desconto, além de palestras com diversas figuras de destaque, desde a influencer brasileira Boca Rosa - que conta com 18 milhões de seguidores no Instagram e 5,4 milhões no YouTube – à fundadora do Black Lives Matter, Ayo Tometi. Contou inclusive com a líder indígena e ativista pela preservação da Amazônia, Txai Suruí, uma representante dos povos originários do Brasil, anterior à chegada dos portugueses. Já a presença feminina de Portugal foi garantida por Cristina Ferreira, e como prova de que tudo na vida pode melhorar, ao contrário do que aconteceu na Web Summit Lisboa, no Rio de Janeiro ela não vendeu bifanas e falou mesmo em português.