"É o paradoxo desse livro. Embora tenha 70 anos, mantém a sua atualidade", acrescenta o professor que participa na organização do Prémio Orwell da Juventude, cujo intuito passa por estimular os jovens a manifestarem as suas opiniões políticas.
Escrito em 1948 — origem do título do livro, apenas com a inversão dos últimos dois números — e publicado a 8 de junho de 1949, "1984" descreve um futuro, no qual o Partido lidera um país totalitário sob o olhar inquisidor do "Big Brother" [Grande Irmão]. O passado é reescrito e uma nova língua impede todo e qualquer pensamento crítico.
Para Jean Seaton, diretora da Fundação George Orwell, que perpetua a memória do escritor falecido em 1950, aos 46 anos, a sua obra é "incrivelmente visionária". Professora de História dos Media na Universidade de Westminster, Seaton compara os "dois minutos de ódio" do livro, um ritual em que a população é incitada a odiar o "Inimigo do Povo", às "pessoas que destilam ódio nas redes sociais".
Impulsionado por Trump
Em sete décadas, o livro nunca desapareceu da cena editorial e até registou picos de vendas.
Em 2017, o facto de uma assessora de Donald Trump usar a expressão "factos alternativos" — um termo empregado em "1984" — deu um grande impulso e visibilidade ao livro, originando novas reimpressões. Desde a sua publicação, a obra já vendeu 30 milhões de exemplares nos Estados Unidos e, naquele ano, as vendas aumentaram 165% em relação a 2016, disse à agência France-Press (AFP) a editora Penguin Books.
No Reino Unido, as vendas dispararam em 2013, após as revelações do ex-analista Edward Snowden sobre a vigilância do governo americano promovida pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).
O professor Michael Callanan afirma que, "nos últimos dois anos, com o auge de Trump, um número significativo de estudantes preocupou-se muito com o rumo que mundo está a tomar".
Já Seaton aponta que o livro marca "mesmo aqueles que não o leram" devido à sua influência na cultura pop — dos filmes à música, passando pelos videojogos.
Quando abrem o livro pela primeira vez, os alunos de Callanan "reconhecem imediatamente algumas coisas", como o "Big Brother", a "novilíngua", ou a "polícia do pensamento". São "fórmulas de Orwell que estão de acordo com o nosso tempo e que os jovens percebem", revela o professor.
"1984" continua a ser um clássico porque "as pessoas leem quando são jovens e, depois, quando o relêem, mais velhos, adquirem uma compreensão diferente das coisas", observa Seaton.
"As pessoas lêem-no à procura de pistas sobre aquilo que devem temer hoje em dia", acrescenta.
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