[O Francisco tem 19 anos, estuda nos Países Baixos e está em viagem com um passe de Interrail que o vai levar por esta Europa fora e este é o seu diário de viagem publicado no SAPO24]

Dia 7 (15 de julho): Dica #9 para futuros viajantes: se acompanhados, tomem conta uns dos outros. Nem sempre estamos com a mesma pedalada, as mesmas vontades ou a mesma energia - é preciso ultrapassar eventuais divergências. Penso que nesta viagem com Amelia temos conseguido manter o equilíbrio entre o que cada um procura. Ambos estamos cansados, mas continuamos a comunicar e a tentar perceber a melhor maneira de recuperar o rapidamente o fôlego.

Hoje é um dia bastante calmo. Estamos de saída do Equity Point - fica mais barato dormir um mês neste hostel do que pagar um mês de renda em Lisboa. Partimos da estação Budapest-Nyugati, mais pequena que a estação principal, por onde chegámos, mas tem o seu charme. Melhor ainda é o comboio, do mesmo formato do anterior. Estas vão ser umas longas seis (foram quase sete horas e meia), mas vamos arranjando forma de nos entreter.

Leio uma das peças húngaras do livro que comprei ontem,"Pigs", de Gabor Czakó, nascido em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, e que morreu em Fevereiro deste ano. Tem algumas semelhanças com "Animal Farm", de George Orwell, embora o autor garanta nunca ter ouvido falar do livro quando escreveu a peça. Sim ou não, recomendo a leitura - cómica nas horas e de uma ironia que quase dói.

Além do livro, uma aplicação cheia de jogos para jogar sem rede. E a hipótese, instalada em mim, de uma sesta feita a qualquer momento. Não estou tão bem equipado como devia: uma máscara para os olhos e uma almofada de viagem para o pescoço teriam sido ideais, mas com o cansaço adormeço da mesma forma. Qualquer estudante tem mil maneiras de gastar tempo (procrastinadores, mãos ao alto!).

Enfim, chegamos a Praga (aleluia!) pelas três e meia da tarde. Felizmente, o hostel fica bastante próximo - conseguimos um quarto privado para dois bem barato para esta área da cidade, surpreendentemente perto da estação, mas numa zona mais residencial. Trocamos os forint húngaros que nos sobram por koruna checos e seguimos de elétrico até à estação mais próxima daquela que será a nossa casa nos próximos dias. Espera-nos uma rua íngreme, que a custo conseguimos subir. Ah, o treino da minha querida Lisboa!

Deixamos as nossas coisas e vamos almoçar. Não comemos muito no comboio e o estômago já se queixa ruidosamente. Percebemos a importância de ter sempre snacks para matar a fome nas viagens de comboio, pela nossa experiência, não há muitos comboios com carruagem bar ou restaurante a bordo. Uma pesquisa no Google Maps leva-nos ao Happy Bean, um restaurante vegetariano perto de uma igreja com um design que se destaca dos demais edifícios, construída nos anos 30 e com um relógio enorme que nos chama à atenção (onde não entramos por estar a haver missa). No restaurante pagamos algo como quinze euros por pessoa, mas até um forreta como eu se atreve a dizer que valeu cada koruna - optei por uma sanduíche com batatas (divinas), enquanto a Amelia passou o resto do dia a falar da bebida de maracujá com que acompanhou a refeição.

Damos uma volta grande no caminho de regresso ao hostel para explorar os parques e a área residencial. Depois de um dia no distrito mais vibrante de Budapeste, há algo quase terapêutico neste passeio. Amelia já se vê a viver aqui, não fosse o facto de não saber checo. Também estou impressionado.

Abastecemo-nos com alguns snacks, sumos e uma garrafa de Grüner Veltliner (uma espécie de vinho verde austríaco), e terminamos o dia com uma sessão de cinema. Filmes parvos, mas bem executados? Personagens um tanto exageradas? Este era um desses filmes, fielmente inspirado numa banda desenhada. Fiquei muito fã de "Scott Pilgrim vs. The World" ["Scott Pilgrim contra o mundo"]. À medida que o filme avança, rio cada vez mais do enredo. Talvez o vinho tenha ajudado. Nisso e a dormirmos que nem uns anjinhos.