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Uma agulha num palheiro
Não tem sido um ano de boas notícias. Entre o modo como o mundo mudou no último ano e os diferentes acontecimentos que resultaram disso, ler e ouvir notícias tornou-se numa experiência que consiste em encontrar uma agulha positiva no meio de um palheiro de más perspetivas. Em “News of the World”, filme original que estreou há algumas semanas na Netflix, a realidade dos EUA em 1870 conseguia ser bastante parecida com aquela que acabei de descrever.
Não houve um vírus a estagnar a economia nem redes sociais a espalhar fake news, mas tinha havido uma guerra civil cinco anos antes, que tinha destruído o país, e uma população maioritariamente analfabeta, incapaz de saber se havia razões ou não para ansiar por algo melhor. Era por estas pessoas que o Capitão Jefferson Kyle Kidd, um vetereno de guerra do lado perdedor, andava de cidade em cidade, no Texas, a ler notícias de uma seleção de jornais locais e nacionais que levava sempre consigo. As suas leituras estavam ao nível de um espetáculo íntimo de stand-up, com um alinhamento cuidadosamente preparado e onde havia pessoas sentadas e distribuídas por uma sala, às quais pedia uma modesta contribuição, enquanto aguardavam pelas palavras que iriam sair da sua boca.
Não sei como era a maior parte dos leitores de notícias no século XIX, mas se tivessem 1% do carisma e da imponência de Tom Hanks, que protagoniza a personagem principal, eu acho que nesta altura contratava um para que me lesse notícias o resto da vida. Enfim, regressando à história... Numa das suas viagens, Kidd encontra uma rapariga abandonada naquilo que pode ser definido como “o meio do nada”. Johanna, uma menina alemã de cabelo de loiro, como vem a descobrir, tinha ficado órfã de uma família por duas vezes - a primeira quando uma tribo nativo-americana a raptou da sua família ainda bebé e a segunda, recentemente, quando essa mesma tribo foi chacinada. Para além de tudo isto, a rapariga não sabe uma única palavra de inglês ou de alemão e a única língua que consegue falar é Kiowa, pertencente à tribo onde tinha crescido.
Posto isto, a tarefa do Capitão Kidd passa a tratar-se não só de informar diferentes populações daquilo que está a acontecer no mundo, mas também de proteger e encontrar uma família coesa e definitiva para a jovem. Durante o filme, que tem um registo muito western, com pistolas, índios e cowboys à mistura, Kidd e Johanna vão aprendendo a comunicar um com o outro como podem, à medida que vão ultrapassando várias aventuras. A minha favorita inclui a passagem por uma cidade governada por um tirano, que, em vez de deixar Kidd fazer a sua performance habitual, o obriga a ler propaganda local, muito longínqua da realidade. Embora adira de início ao pedido, rapidamente transita para uma história que dá esperança e incentiva um conjunto de pessoas, exploradas e enganadas dia após dia, a decidir que está na altura de algo diferente. Qualquer lição que possa ser utilizada para a atualidade não será certamente uma coincidência.
Nomeado para Óscares: Baseado na obra de Paulette Jiles, de 2016, “News of the World” está nomeado para os Óscares de Melhor Cinematografia e Melhor Composição Sonora. Apesar dos “espetáculos noticiosos” de Kidd e de uma história bem contada, para a Academia, foram as componentes visual e sonora do filme que ficaram na retina. Um pouco injusto, mas aceito.
Um amor sem tréguas
Pode um filme ser produzido apenas com o propósito de provar que um ator conhecido por um papel como super-herói consegue ter desempenhos bons para além disso? “Cherry”, que estreou há poucos dias na Apple TV+, parece representar isso para o jovem ator inglês Tom Holland, que ficou popular por protagonizar Homem Aranha no universo da Marvel. É também desse mundo que vêm os realizadores do filme, os irmãos Russo, que dirigiram, entre outros, “Avengers: Infinity War” e “Avengers: Endgame”.
“Cherry” é um filme um pouco caótico que começa por nos mostrar aquilo que achamos ser o momento de clímax do fim, mas sem obviamente percebermos como se chega lá. A personagem principal está a assaltar um banco, com uma arma apontada a uma rececionista e, como narrador, a questionar qual o objetivo de estar no mundo. É um discurso fatalista, mas que se compreende à medida que vamos descobrindo a montanha russa de eventos pelo qual o protagonista (cujo nome nunca é mencionado durante todo o filme) irá passar.
Tudo começa com um amor jovem como nunca tinha encontrado. Emily é a rapariga que conhece e à volta da qual a sua vida vida passa a girar. Tudo corre às mil maravilhas até ao dia em que “Tom” (à falta de nome para a personagem) decide dizer à sua namorada que a ama e, em vez de uma resposta recíproca, recebe uma reação assustada com o compromisso. Isto leva a que Emily decida que quer ir estudar para o Canadá e que “Tom”, por conseguinte, com a vida à deriva, acredite que conseguirá encontrar um rumo alistando-se no Exército (lógico). O problema é que entretanto a sua ex-namorada muda de opinião e afinal já quer ser feliz para sempre com o jovem. É fácil cancelar a inscrição numa escola, mas é praticamente impossível no Exército, depois de se ter desistido de tudo o resto. A solução: casarem-se e esperarem um pelo outro, enquanto “Tom” vai para a guerra no Iraque, com juras de amor eterno e de recomeçarem tudo no regresso. Quase a meio do filme, existem poucos sinais de como é que a história poderá acabar num assalto a um banco.
E não é por aqui que vão descobrir, mas posso deixar algumas pistas. Infelizmente, esta personagem tem o coração de Homem-Aranha sem a força psicológica para ultrapassar os horrores que enfrentou. Por isso, quando tenta voltar à vida civil tem dificuldade em recuperar das mazelas deixadas por uma guerra na qual rapidamente se arrependeu de participar. A forma como decide lidar com os seus problemas e o modo como a decide sustentar acabam por ser as erradas e estragar o final feliz que tinha prometido à sua namorada. Já dá para ter uma ideia?
- Os meus dois cêntimos: O filme não é perfeito e dá-se a bastantes facilitismos em algumas ligações na história. Mas a estrutura do enredo e a performance de Tom Holland (que, confirma-se, é mesmo bom ator) fazem com que valha a pena.
Créditos Finais
- Aí vem a DC: Depois das boas reviews que “Snyder’s Cut Justice League” tem tido, foi lançado o trailer para a sequela de “Suicide Squad”. Entretanto, #RestoreTheSnyderVerse já é a maior trend do Twitter nos últimos dias com milhões de pessoas a manifestarem-se pela continuação da história apresentada na semana passada.
- Os filmes mais antecipados de 2021: Já se fala de Óscares, mas a verdade é que há coisas muito boas a chegar nos próximos meses. Vê quais neste artigo da Variety.
- Álbum da semana: é este (e há filme em VOD, para quem quiser).
- Netflix: lê aqui uma lista de dez das melhores séries para ver na plataforma de streaming. Prometo que é melhor que o Top 10 atual.
- HBO Portugal: na plataforma estão algumas das melhores séries alguma vez produzidas. Encontra aqui 10 que, se ainda não viste, podem passar a fazer parte do teu dia a dia.
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