Já há algum tempo que estava a pensar se deveria escrever ou não sobre "The Book of Boba Fett". A nova série do universo de Star Wars estreou na Disney+ há cerca de cinco semanas e, na altura em que foi lançada, estava muito curioso para ver como iria continuar a narrativa iniciada por "The Mandalorian".
Para quem não está a par, um resumo rápido. "The Mandalorian" estreou em 2019 e foi a série bandeira do serviço de streaming da Disney, quando este foi lançado. Em termos de timeline, decorre cinco anos após o "Episódio VI - O Regresso de Jedi" e apresenta-nos uma nova personagem chamada Din Djarin (Pedro Pascal), um caçador de recompensas (bounty hunter em inglês) que faz parte de uma legião de guerreiros chamada Mandalorians, com costumes muito específicos, sendo um deles o facto de nunca poderem tirar o seu "capacete" e revelar a sua cara. Depois de receber uma missão por parte do Império que visava capturar e entregar Grogu (aka "Baby Yoda"), uma criança que estava em ligação com a Força, o Mandalorian muda de ideias e passa as duas temporadas da série a proteger esta criatura, com a qual cria uma relação muito forte.
O episódio final da segunda temporada é um dos maiores exemplos de serviço aos fãs e inclui um certo senhor com um lightsaber verde. Mas não é sobre isso que quero falar. "The Mandalorian" foi amplamente elogiado pela crítica por ser capaz de introduzir novas personagens sem se esquecer de adicionar alguma nostalgia, por ter um tom mais negro de western e explorar outro tipo de narrativas — aposta que valeu duas nomeações para Melhor Série Dramática nos Emmys (e que perdeu para "Succession" e "The Crown", em anos consecutivos).
Daí a minha expectativa para "The Book of Boba Fett". Boba Fett, para os mais esquecidos, é uma personagem que fez parte da trilogia original de "Star Wars" e que, até "The Mandalorian", era dado como desaparecido, depois de um confronto com Han Solo. Na segunda temporada, ele aparece novamente (sem sabermos bem como) para ajudar Din Djarin numa missão e é representado pelo ator Temuera Morrison que, nas prequelas de Star Wars, tinha protagonizado a personagem Jango Fett, "pai" de Boba Fett.
Esta nova série tinha como objetivo avançar o universo de TV do Star Wars, um pouco como a Marvel fez com os cinco projetos que lançou no último ano. E é aqui que reside o meu problema com os primeiros quatro episódios de Boba Fett e a razão pela qual não me senti muito motivado a escrever sobre a série até agora: a história não avança grande coisa.
Jon Favreau, que acumula os cargos de showrunner tanto em "The Mandalorian" como em "The Book of Boba Fett", tentou que estes tivessem um registo semelhante, mas tomou a decisão de que os primeiros episódios fossem compostos por um loop entre o presente e o passado da personagem, que nos explica o porquê de nós, enquanto audiência, voltarmos a reencontrá-la. Para quem viu por exemplo a série da DC "Arrow", é um registo semelhante.
No presente, Boba Fett tornou-se numa espécie de lorde do crime da cidade Mos Espa (a mesma que era governada por Jabba The Hutt) e tenta afirmar o seu poder num lugar onde a sua tomada do poder não é bem vista por toda a gente. Sem sabermos bem porquê, Boba toma banhos regulares numa espécie de câmara hiperbárica para recuperar de algum tipo de condição. É nestes momentos que tem flashbacks, que nos permitem perceber como é que sobreviveu e como é que chega ao ponto onde o encontramos em "The Mandalorian".
Poderão descobrir vendo a série. Agora, na minha opinião, durante os quatro episódios, passa-se demasiado tempo a tentar criar empatia com a personagem através do passado e pouco tempo a fazê-lo com as decisões que toma no presente. A narrativa de "Boba Fett" tem potencial para mostrar o lado mais político do submundo de Star Wars (que "The Mandalorian" foi fazendo a espaços), mas perde-se um pouco no processo de garantir que não fica nada para explicar sobre a personagem. E, por isso, as coisas avançam, digamos, de forma… lentinha.
Há cenas de ação e diálogo interessantes em ambas as dinâmicas da série, mas para quem, como eu, estava ansioso por ver este mundo avançar e por haver até uma interligação maior entre as duas séries, não deixei de ficar um pouco desiludido. Mas, entretanto, chegou o episódio 5, na semana passada, e tudo o que eu desejava tornou-se realidade.
Com o título "Return of The Mandalorian", o capítulo mais recente de "Boba Fett" foi inteiramente dedicado a mostrar-nos como estava Din Djarin desde a última vez que tínhamos colocado olhos sobre a personagem. Agora sem Baby Yoda, mas com um sabre de luz negro, que está a aprender a manusear, o "Mando" procura encontrar membros da sua legião que o possam ajudar neste desafio.
Só que essa demanda não corre como esperava e acaba não só excluído da legião, como novamente sozinho na galáxia, sem um rumo definido. É este não-percurso que o vai levar de volta ao planeta Tatooine e perto do local onde a todos os acontecimentos de “The Book of Boba Fett” estão a decorrer. Sem revelar muito, é um episódio cheio da nostalgia de que gostamos, com uma série de referências à saga, seja através de personagens, seja através de naves espaciais clássicas, seja através de cenas icónicas, que são quase que alvo de uma recriação. Mas é também um episódio que nos remete imediatamente para a luta eterna de uma personagem que nos é querida e que transmite logo, só com a sua presença no nosso pequeno ecrã, toda a energia e ambiente que penso que esta nova etapa de Star Wars anda à procura.
Inevitavelmente, o Mandalorian vai acabar por se juntar a Boba Fett e ajudá-lo a consolidar o controlo de Mos Espa e, quem sabe, até de mais regiões. Penso que o último episódio foi completamente transformador para a série e mal posso esperar para o que vem a seguir.
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