Os últimos sete a oito meses foram ricos a fornecer material a quem gosta de estar sentadinho no sofá. Por isso, até ver, 2022 está a ser um ano em que é um pouco difícil dizer "não estreou nada que me agradasse". Nem que seja porque o carrossel de novo conteúdo, especialmente nesta Era do Streaming, não pára.

No entanto, ainda que assim seja, nós estamos cá para vos dizer quais foram aquelas de que mais gostámos. Sem ordem específica de preferência, esta é a nossa lista das melhores de 2022 até à data, devidamente acompanhada por um podcast para que os interessados tenham material para discutir se temos ou não razão na nossa seleção.

Pachinko (Apple TV+)

Na verdade é uma série, na realidade é uma viagem. Adaptada a partir do popular romance de Min Jin Lee, "Pachinko" é um retrato emocional e expressivo da história de todos os coreanos que foram afetados pela colonização japonesa da Coreia no séc. XX. A fotografia é de arregalar o olho, o guião é irrepreensível.

  • No podcast Filmmaker Toolkit, do site IndieWire, a criadora e produtora executiva Soo Hugh explica como é que se conta uma história que atravessa várias gerações da mesma família.

Winning Time (HBO Max)

Em meados de abril, o nosso Miguel Magalhães escrevia que Winning Time era uma série frenética, caótica e muito Adam McKay. Por outras palavras, adorou. E não foi certamente o único, uma vez que a segunda temporada já está encomendada.

A série — é assim que deve vista e analisada, nunca como um "documentário", apesar de ser baseada em factos reais — dramatiza o apogeu e a ascensão dos Lakers, na década de 80, em que seguimos de perto Jerry Buss (o proprietário) e Magic Johnson (a estrela desta equipa de NBA), numa história desportiva muito bem contada e retratada.

  • Num episódio conjunto, os podcasts Acho Que Vais Gostar Disto (sobre cultura pop) e Bola ao Ar (sobre NBA, o qual podem subscrever aqui) jogaram na mesma equipa e falaram sobre o que mais gostaram desta série.

As We See It (Prime Video)

Como bem colocou a Rolling Stone, o forte da série de Jason Katims ("Parenthood" e "Friday Night Lights") é o facto de mostrar o espectro mais completo da experiência que é viver com o autismo. Não há casos nem situações iguais. Interpretada por três atores autistas, funciona como um autêntico abre olhos para o mundo que vive alheio à sua existência. Pela honestidade, mas sobretudo pela sensatez com que nos mostra a sua batalha diária — que pouco ou nada difere do "mundo normal". Problemas de amor, trabalho e relacionamentos. Quem não os tem?

  • O trio de protagonistas esteve no podcast "The Takeaway" e contou como foi a sua experiência dentro e fora do set de filmagens.

Severance (Apple +)

E se pudéssemos simplesmente esquecer? Nem que fosse apenas por um punhado de horas? Será que a maioria de nós estava suscetível a essa possibilidade? Frequentemente comparada a "The Office'' (afinal a ação decorre em torno de cubículos e tem como pano de fundo os meandros do trabalho rotineiro), a série, para lá da superfície, é muito mais "Brazil", "The Matrix" ou ainda "The Truman Show" — em que as corporações escondem segredos tenebrosos e as mais altas questões éticas e morais se levantam.

  • Em fevereiro, no nosso podcast, dizíamos que era uma das surpresas do ano. Hoje, temos a certeza de que é uma das melhores coisas na televisão de 2022.

We Own This City (HBO Max)

David Simon (o criador) voltou às raízes e a Baltimore, a sua cidade. Oficialmente, é uma adaptação de um livro. Na prática, parece mais uma sequela de "The Wire". Aliás, o primeiro episódio de "We Own This City" parece mesmo uma "nota de rodapé" de um guião da primeira. É que tudo soa muito familiar (no bom sentido): o sotaque, as falas, os movimentos, as escutas, a escrita irrepreensível de cada cena. Mas sobretudo porque os anos passam e o ambiente vivido demonstra que o difícil é estar do lado dos bons. Bem mais fácil, parece, é ceder à corrupção e ao colapso moral.

  • E o que dizer de Jon Bernthal? Só maravilhas, não é verdade? Foi o que nós achámos e comentámos no nosso podcast.

Irma Vep (HBO Max)

O termo "meta" está na boca do faroeste tecnológico por causa de Mark Zuckerberg, mas no mundo do entretenimento em 2022 é sinónimo de "Irma Vep". E isto acontece porque toda ela é uma ode à metalinguagem. Explicamos: "Irma Vep" é uma comédia dramática de oito episódios criada, escrita e realizada por Olivier Assayas para a HBO, que tem por base um filme de 1996 (do próprio Assayas e com o mesmo nome). Nessa fita, acompanhamos o caos que é a rodagem da adaptação de um clássico (verdadeiro) do cinema mudo francês ("Les Vampires", de 1915) pelos olhos de Maggie Cheung, atriz de Hong Kong que interpreta uma versão ficcionada dela própria.

Ora, na série da HBO, a história não é igual mas a premissa e a "meta" é parecida. Seguimos de perto o quotidiano de Mira (Alicia Vikander), uma atriz norte-americana de Hollywood e dos blockbursters, que viaja até França para ser a estrela da série "Irma Vep". Pelo meio, entre filmagens, romances e preparações, vê-se rodeada dos medos e dúvidas existenciais de René (Vincent Macaigne), o realizador.

  • Tudo isto faz doer um pouco a cabeça, mas ao longo dos episódios percebe-se tudo. A par, é um retrato imperdível da indústria do cinema e dos seus bastidores.
  • O podcast brasileiro "Cinemático" explora bem todas as nuances desta reinvenção de um realizador que adapta o seu próprio trabalho. E, claro, não deixa de esmiuçar a hipocondria brilhante do ator Vincent Macaigne.

Peaky Blinders (Netflix)

O último hurrá de Tommy Shelby (por agora) tinha obrigatoriamente de figurar nesta lista. A série que acompanha o líder dos Peaky fookin’ Blinders, que se demonstra demasiado inteligente para o seu próprio bem, regressou para a sua última temporada e esteticamente está mais bela do que nunca.

A falta de Helen McCrory (Aunt Polly) é óbvia e alguns fãs ficaram desalinhados e desiludidos com os episódios finais, mas a verdade crua é a de que estamos perante um personagem incontornável do entretenimento recente e esta temporada oferece uma das melhores cenas de toda a história — esta aqui, que pediu emprestada a igualmente brilhante canção ("Unmade") de Thom Yorke à escuridão sobrenatural sagrenta de "Suspiria". 

  • Fomos sucintos e vazios em termos de crítica no parágrafo anterior de forma propositada. Tal acontece porque podem ouvir tudo o que achámos sobre os estes episódios no nosso podcast dedicado à causa.

Better Call Saul (Netflix)

Escrever qualquer tipo de linha estraga o visionamento desta relíquia de televisão a quem nunca viu — votos para uma longa vida a Rhea Seehorn (Kim) e Bob Odenkirk (Jim) é o suficiente.

No entanto, não é só o facto de a série acabar daqui a poucos dias que entristece. É ler que Vince Gilligan, o co-criador, quer experimentar outras coisas. Depois de 15 anos no deserto de Albuquerque, sente que é tempo de pôr o Heisenberg-verse de lado. O que, em abono da verdade, é completamente compreensível.

  • O final estreou no dia 15 de agosto. A quem teve oportunidade de ver, tenha atenção aos spoilers. A quem ainda não teve, é melhor preparar para esse momento, triste e de clausura, nada como ouvir o recap do episódio 12, o penúltimo, no podcast "The Prestige TV".

Barry (HBO Max)

É uma daquelas comédias dramáticas que, por cá, devia ter outro tipo de reconhecimento. Ou ser mais falada. Escreve-se muito e de muita coisa (e nós fazemos aqui a nossa mea culpa) e pouco ou nada desta série de Bill Hader. Está mal. Portanto, o nosso caminho de redenção passa por recomendar que se faça um merecido binge das três temporadas (vê-se num fim de semana) da história que segue um assassino profissional tornado ator. Sobre a última temporada, a Variety explana ao que se vai: "Uma obra-prima do que significa perdoar e Ser Imperdoável".

  • Bill Hard esteve no podcast "The Prestige TV" a fazer recap do último episódio. 

Euphoria (HBO Max)

Bateu recordes, é uma das mais vistas de sempre da HBO Max e arrecadou 16 nomeações para os Emmy. Falamos, claro, de "Euphoria". Depois do sucesso da primeira temporada (2019) e de dois episódios já em tempos de pandemia, a série de Sam Levinson regressou para mostrar que é muito mais do que uma história de adolescentes com problemas de droga ou álcool.

Tecnicamente é excelente e a sequência na Feira é só apenas um exemplo de uma masterclass gratuita de coreografia e planeamento do diretor de fotografia, Marcel Revpor. Visualmente, então, é do melhor que se fez em televisão — o seu apelo estético, "o realismo emocional" como Levinson o designa, é precisamente o chamariz para que a série seja adorada de forma tão massificada.

  • Este vídeo ajuda-te a perceber melhor o que queremos dizer. E, claro, o nosso podcast também.

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