As benzodiazepinas são fármacos "universalmente usados para induzir o sono" e úteis para o tratamento durante "duas ou três semanas", mas a sua utilização em insónias durante mais de dois meses acaba por afetar o sono e transformar aquilo que seria um sintoma "numa doença", disse à agência Lusa o presidente da ASP, Joaquim Moita.
A partir dos dois meses de utilização, "o sono passa a ser um sono fragmentado e com má qualidade", para além de serem fármacos "altamente aditivos" notou o também diretor do Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
No simpósio "O Essencial da Medicina do Sono para a Medicina Geral e Familiar", que vai decorrer em Coimbra, a 23 de março, a Associação Portuguesa do Sono vai alertar para esta problemática e debater alternativas às benzodiazepinas que, para além de criarem dependência, provocam perdas de memória e estão associadas à demência precoce, sublinhou o responsável.
"Há outras formas que não sejam a prescrição das benzodiazepinas para tratar uma insónia que pode começar por ser apenas um sintoma de uma depressão ou de ansiedade, mas que se não for abordada de forma correta passa de sintoma a doença", explanou.
No simpósio, haverá destaque a três patologias: síndrome de apneia de sono (que se estima afetar ou vir a afetar 49% dos homens), insónia crónica (cerca de 9% da população) e síndrome das pernas inquietas (10%).
"Estamos a falar de doenças muito prevalentes e é o médico de família que é a porta de entrada no Serviço Nacional de Saúde", sublinhou Joaquim Moita, considerando que, na área da apneia do sono, a associação pretende aprofundar as experiências que já decorrem em alguns hospitais do país na referenciação e seguimento dos doentes entre os médicos de família e as unidades hospitalares.
Segundo o especialista, no diagnóstico da apneia do sono - que tem tratamento -, se houver informação mais completa do doente quando é encaminhado do centro de saúde para o hospital, poderá permitir aos especialistas dar prioridade a casos considerados mais graves.
"Isso é extremamente importante. Se a lista de espera for muito grande, doentes correm risco de ter problemas cardiovasculares" caso não sejam tratados de forma célere, vincou Joaquim Moita, considerando que tem de haver protocolos formalizados na área da referenciação e uma posterior incorporação no sistema, por parte da tutela.
No simpósio, vão ser também abordadas todas estas patologias por parte de pediatras, acrescentou.
O evento é organizado pela APS e pela Comissão de Trabalho de Patologia Respiratória do Sono da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, tendo como destinatários principais os profissionais de medicina geral e familiar.
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