“É possível que avancemos com uma queixa no Ministério Público, porque o que ali aconteceu foi pura censura”, disse a própria à agência Lusa, indicando que a ação está a ser equacionada juntamente com o ilustrador Tiago M e a editora.
A situação, ocorrida na passada sexta-feira à tarde, foi denunciada pelo grupo editorial Penguin Randon House como “uma ameaça à liberdade de expressão”.
Em comunicado, a empresa relatou que irrompeu na livraria onde decorria a apresentação, em Lisboa, “um protesto intimidatório, de megafone na mão”, com o objetivo de “silenciar as vozes da autora e das apresentadoras" e "confrontando diretamente o público que assistia”.
Contactada pela Lusa, Lúcia Vicente afirmou que estava “mais ou menos preparada” porque quando a editora anunciou o lançamento do livro houve de imediato reações adversas.
"No Meu Bairro" reúne 12 pequenas histórias de ficção em rima, protagonizadas por crianças que falam sobre as suas vidas, sobre racismo, identidade de género, religião, bullying e ativismo: há a história da “Beatriz, a cigana feliz”, do “Magalhães, o menino que tinha duas mães” ou de Rodrigo, que “quer ir comprar um vestido”.
No Facebook da escritora são visíveis várias mensagens de ódio e insultos, como “Deixem as crianças serem crianças. Seus pervertidos (…) parem de impor a vossa agenda nojenta” ou “a senhora é uma retardada”.
De acordo com a escritora, a apresentação estava prestes a começar quando reparou que sete pessoas entraram e que estariam ali para “desestabilizar o lançamento” do livro.
“No entanto, sentaram-se ordeiramente e assistiram à apresentação”, contou. Antes de o ilustrador terminar a sua exposição, entraram mais três a quatro pessoas, uma delas com um megafone, impedindo que a apresentação continuasse.
Segundo a autora, foi contactada a Esquadra do Rato, cujos agentes identificaram os manifestantes.
Também o PEN Club Português emitiu um comunicado para repudiar o sucedido e defender o respeito mútuo entre pessoas e povos, bem como a liberdade de expressão.
Lúcia Vicente contou ainda que o protesto, que considerou “uma manifestação ilegal”, foi filmado por pessoas na assistência. “Hão de aparecer vídeos distorcidos do que ali foi dito”, antecipou.
“O objetivo era intimidar fisicamente”, acrescentou.
Para Lúcia Vicente, teria sido “muito fácil” publicar o livro sem usar linguagem inclusiva, mas “é preciso dar o primeiro passo, alguém tem de dar o corpo às balas”.
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