A rede nacional assinala os 15 anos da implantação do Banco de Tempo no país, um mecanismo com débitos, créditos e movimentos de conta que tem permitido aos seus membros "valorizar outros tempos", criar novos "vizinhos" e reconstituir tecido social numa sociedade onde o tempo é um bem cada vez mais escasso, disse à agência Lusa a coordenadora da rede nacional, Eliana Madeira.

"Na origem, está o desejo de dar resposta a este problema de conciliação de trabalho e família. Somos pobres de tempo, estamos sempre a correr, e há esta dificuldade, este malabarismo", notou Eliana Madeira, considerando que, na prática, este banco vai para lá do seu efeito paliativo, permitindo confrontar as pessoas "com o valor do tempo" e com outros tempos.

Segundo a responsável, "valorizam-se outros tempos: o tempo de cuidar, o tempo de lazer, o tempo de aprender", num mecanismo que suscita questões sobre o modo como se vive hoje.

Sinal disso mesmo são os serviços mais frequentes registados ao longo dos 15 anos deste banco singular presente no país.

Entre as categorias onde há mais trocas de tempo, está a companhia e acompanhamento - seja companhia para ir às repartições públicas ou companhia para andar a pé -, lições de "tudo e mais alguma coisa" (informática, línguas ou manualidades), mas também serviços de "caráter mais prático", como "pequenos arranjos ou ajuda para tratar de animais nas férias".

No entanto, para além dos serviços trocados, Eliana Madeira destaca as relações que se criam entre os membros do banco.

"Criam-se vizinhos onde eles não existem. Reconstitui-se este tecido social, o que é um excelente antídoto da solidão", sublinhou, referindo que, entre os membros, criam-se "relações positivas, significativas e solidárias", bem como "igualitárias".

"O enriquecimento relacional das pessoas é, sem dúvida, aquele que saudamos de forma mais positiva e que aparece de forma mais consistente. As pessoas podem contar umas com as outras", frisou.

O Banco de Tempo, coordenado pelo Graal, um movimento internacional de mulheres, tem como "moeda" o tempo, sendo que há "débitos, créditos, movimentos de conta", cheques pelas horas gastas em serviços trocados e é "indiferente ter-se a conta positivas ou negativa, desde que não ultrapasse as 20 horas".

De acordo com Eliana Madeira, as agências do Banco de Tempo têm em média cerca de 70 membros, sendo que há o objetivo de conseguir expandir a rede, visto que "ainda há muitas zonas do país a descoberto".

Hoje, é realizada uma mesa redonda no auditório da Casa da Sagrada Família, em Coimbra, às 15:00, em que se vai debater este mecanismo.

Também hoje é inaugurada a exposição "Banco de Tempo: 15 anos, 15 histórias", na Casa da Esquina, em Coimbra, exposição que depois vai circular depois pelas outras agências do país.

Em novembro, é promovido um encontro internacional, em Lisboa, com pessoas de Bancos de Tempo de Espanha, Inglaterra e Itália, referiu a membro da equipa de coordenação de Coimbra, Rute Castela.