“Chamei-lhe ‘Bárbara’ porque é uma conversa de mim para mim e de mim para toda a gente. É um álbum muito genuíno, uma coisa irrepetível, especial, e a essência dele é um bocadinho o meu diário e é um bocadinho estranho, porque toda a gente está a ler o meu diário”, referiu a artista em entrevista à agência Lusa.
Bárbara Tinoco tem 22 anos e tornou-se conhecida do público em 2018, quando entrou na fase de ‘provas cegas’ do programa de talentos “The Voice Portugal” da RTP. Não foi selecionada, mas teve a oportunidade de apresentar um tema original - “Antes d’ela dizer que sim”, que abre o disco.
“Estava muito tranquila, apesar de não ter passado. O meu objetivo com ir ao programa era cantar uma das minhas canções. Não sabia muito bem como ia ser o meu percurso ou não, mas sabia que a partir dali eu ia saber se era pela música ou por outro caminho qualquer”, recordou.
Autodidata, só estudou música já na faculdade, no curso de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, do qual tem uma cadeira por concluir.
“Desde miúda sempre escrevi poemas. Obviamente que na altura eram sobre morangos ou assim, mas sempre gostei muito de brincar com música e de fazer pequenas melodias ao piano”, partilhou, lembrando que com 13 anos quis aprender a tocar guitarra, como o pai.
Embora na família de Bárbara não haja músicos profissionais, o avô paterno tinha uma loja de instrumentos musicais, que acabou por passar para o pai da cantora e onde ela costumava ir “nos dias em que não tinha escola”.
“O meu pai toca guitarra e o meu avô tocava guitarra e era um grande cantor, um bom cantor. Na verdade, a minha família é uma família de música. Em cada canto da casa havia uma guitarra, um ‘cajon’, um piano, um instrumento qualquer”, contou.
Foi na adolescência que começou “a ter mais noção do que era uma canção” e a querer fazê-las, como aquelas que ouvia e de que gostava.
Bárbara Tinoco sente-se uma “filha do ‘folk’, tanto português como americano”. Como primeiras referências na música destaca Suzanne Vega, Bob Dylan, Mark Knopfler e Miguel Araújo, sendo o músico português a sua “maior referência e influência”.
“Acho que é a minha maior influência, porque me apanhou numa fase em que eu estava a descobrir aquilo que queria ser enquanto compositora. Ele é um bom contador de histórias e era isso que eu queria ser também, uma compositora que contava histórias”, partilhou.
Quando começou a escrever os temas que compõem “Bárbara”, a cantora “não sabia que estava a escrever um álbum, nem sequer sabia o que era fazer um álbum”.
“Eu só escrevia canções porque precisava de escrever canções, porque precisava de processar alguma coisa que vivi, de pensar sobre aquilo, e aquela é a minha forma de pensar, de pôr numa lógica”, referiu.
No álbum, além da voz de Bárbara ouvem-se também as vozes dos avós maternos e de uma tia, que fazem a introdução de duas canções – “Cartas de Guerra” e “Para o Rafael e para a Maria Vitória”, respetivamente - “que são presentes”.
“Essas canções, que ofereci aos meus avós e à minha tia e aos pais da Maria Vitória, têm uma pequena introdução, porque aquela história não é minha, eu só a contei”, explicou, salientando que, para ela, aqueles dois temas “são o momento mais emocionante do álbum, porque são duas histórias fortes: uma mais feliz e outra um bocadinho mais triste”.
“Cartas de Guerra” conta uma história de amor e “Para o Rafael e para a Maria Vitória” aborda a morte de crianças.
“Ainda ponderei muito se punha a canção do Rafael e da Maria Vitória no álbum, porque é uma canção muito pessoal, mas falei com os pais das crianças e eles ficaram muito contentes de eu ter feito aquela canção e de os nomes dos filhos estarem, porque uma coisa que eu ouvi dos pais foi ‘não se esqueçam deles’, e não há uma forma melhor para não esquecer do que estar numa canção para sempre”, contou.
Esta e outras canções foram sendo criadas com tempo, um tempo que Bárbara conseguiu ter graças à pandemia da covid-19: “à parte de todas as coisas horríveis que vieram com a pandemia, principalmente para o setor cultural, a mim deu-me tempo para parar”.
Bárbara Tinoco tem noção que a sua entrada no mundo da música “foi muito rápida”.
“Eu não estava preparada. O meu concerto não era assim tão bom, estava ainda um bocado dividida com a sonoridade que queria fazer, à procura de uma coisa, não tinha assim tantas canções. Estava em busca de qualquer coisa e sinto que a pandemia me pôs um pé no travão, que eu precisava para conseguir crescer bem, e deu-me tempo para preparar melhor o meu álbum, o meu concerto ao vivo, e para poder ter orgulho e ir cantar com outra confiança”, afirmou.
“Bárbara” sai em edição de autor por opção. “No início não havia ninguém interessado e depois, com o tempo, tive de aprender como se faziam as coisas – eu, a minha agência (Primeira Linha) e o meu ‘manager’ – e depois de perceber, as editoras deixaram de ter alguma coisa para me oferecer”, contou.
Além disso, Bárbara Tinoco gosta da “total liberdade” que tem “para fazer o que quiser”, “sempre em conjugação” com a sua “grande equipa”.
É com a equipa que prepara os cinco concertos nos Coliseus de Lisboa, Porto e Ponta Delgada, em novembro, “um conjunto de momentos novos e especiais e um culminar de três anos de trabalho” com a banda que a acompanha, que terá convidados surpresa, “porque os Coliseus são uma coisa especial”.
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