Com estreia marcada para sexta-feira, pelas 21:00, com uma segunda récita pelas 19:00 de sábado, “Bisonte” mostra, no Teatro do Campo Alegre, um “ringue entre a histeria e a melancolia”, descreveu à Lusa o criador, Marco da Silva Ferreira.

“É uma peça mais emocional, com as emoções à flor da pele, e que vai saltando entre a histeria e a melancolia”, revelou, traçando o percurso marcado pela “tentativa de ser viril” e pela “hipermasculinização da sociedade”, um dos temas presentes.

Depois de ter trabalhado “o indivíduo no coletivo” nos últimos dois trabalhos, desta vez o foco virou-se para “as relações diretas entre os bailarinos, ao nível do um para um, e que tivesse a ver com as relações íntimas, para falar sobre relações íntimas e um espaço mais íntimo”.

Ao mesmo tempo, é construído em cena “um corpo muito viril e pujante” que se vai munindo de armaduras, no sentido físico, mas também "no emocional e psicológico", para reportar ao conceito de uma intimidade “não tão natural, carregada de automatismos e estereótipos que levam à sua falência”.

O título, “Bisonte”, remete para um “animal pujante, grande e forte, mas que é mais presa do que predador”, uma ideia que segue a própria coreografia, questionando o “invólucro de proteção, a armadura, que por dentro é muito mais sensível”.

O espetáculo partiu de “algumas coisas autobiográficas e memórias”, refletindo também sobre “o que é o estado de um ser humano, um corpo atual e urbano que vive numa sociedade de consumo, individualista e que acaba por ser muito saciadora do ego”.

Essa reflexão sobre a “questão muito pertinente das relações atuais” evolui, depois, para desconstruir “estas figuras viris que são o ‘standard’ do masculino”, que Marco da Silva Ferreira descreve como “ideias contaminadas de erros”, sobre um pano de fundo em que se colocam “questões ocidentais, urbanas, contemporâneas de uma era ‘pop”.

O coreógrafo, artista associado do Teatro Municipal do Porto para 2018/19, assume a interpretação ao lado de Anaísa Lopes, André Cabral, Duarte Valadares, Erica Santos e Leo, numa produção da associação Pensamento Avulso, em conjunto com o Teatro Municipal do Porto, o São Luiz Teatro Municipal, o parisiense Théâtre de la Ville e o belga Charleroi Danse.