A classificação da “Produção de Figurado em Barro de Estremoz”, vulgarmente conhecida como bonecos de Estremoz, vai ser decidida na 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) para Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a realizar na Coreia do Sul.
Trata-se de uma arte de caráter popular, com mais de 300 anos de história, que pode ser o primeiro figurado do mundo a merecer a distinção de Património Cultural Imaterial da Humanidade, se a candidatura da Câmara Municipal de Estremoz, no distrito de Évora, for aprovada na reunião que vai decorrer na Ilha de Jeju, na Coreia do Sul, a partir de segunda-feira e até ao dia 09 deste mês.
“O que estamos de facto a pretender classificar é o saber fazer do boneco, não é o boneco em si. E isto é que é o património imaterial”, explica à agência Lusa o diretor do Museu Municipal de Estremoz, Hugo Guerreiro, responsável técnico da candidatura.
Com mais de uma centena de figuras diferentes inventariadas, a arte, a que se dedicam vários artesãos do concelho, consiste na modelação de uma figura em barro cozido, policromado e efetuada manualmente, segundo uma técnica com origem pelo menos no século XVII.
Na opinião do diretor do museu, o “saber fazer com uma continuidade temporal de mais de 300 anos, sempre com a mesma técnica, é de facto algo de único”.
“É isso que nós acreditamos que a UNESCO vai entender classificar e estamos com uma ótima expectativa de que tal aconteça”, diz, considerando que a distinção seria “um reconhecimento do trabalho dos artesãos”.
“Acho que é para eles [artesãos] algo de notável, sempre que o seu trabalho é reconhecido em termos internacionais”, salienta, prevendo que a classificação poderá dar “mais motivação” aos artesãos para ensinarem as novas gerações e para que os jovens se “interessem e que agarrem nesta arte”.
Observando que o “selo” da UNESCO, a ser concedido, tornará os bonecos de Estremoz no primeiro figurado do mundo a ser considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade, Hugo Guerreiro aponta, em termos futuros, a criação de um centro interpretativo e a certificação desta arte pelo município.
Entre os artesãos do concelho, Maria Inácia Fonseca trabalha com a irmã Perpétua no ateliê e loja que criaram e são conhecidas na arte por Irmãs Flores, tendo já um continuador, o sobrinho Ricardo Fonseca.
Dedicada a esta arte popular há 45 anos, Maria Inácia explica que os bonecos de Estremoz, feitos em barro, têm vários temas, que vão “da parte religiosa à parte mais profana”, incluindo os costumes do Alentejo.
“As figuras mais procuradas são a ‘Primavera’ e o ‘Amor é Cego'”, diz, assinalando que “todas se vendem” e que “há muita procura”, por parte de portugueses e estrangeiros, de “uma arte muito reconhecida” e que tem “muitos colecionadores”, sobretudo de presépios.
Se a candidatura for aprovada pela UNESCO, Maria Inácia, que tem dedicado a vida a fazer bonecos de Estremoz, diz que será “um reconhecimento a nível mundial” e que os benefícios “são muitos” para a economia da cidade, que passará a receber mais visitantes.
Outro artesão, Afonso Ginja, trabalha no seu ateliê e loja com a mulher, Matilde, e mostra-se orgulhoso por já ter feito muitos bonecos nos últimos 40 anos.
Lembrando que “não há escola disto, nem nunca houve”, Afonso Ginja reconhece que, atualmente, os bonecos “vendem-se à mesma, mas não é aquilo que se vendia dantes, é muito menos”.
“Tudo o que fizerem a bem dos bonecos é bom. Já houve uns anos em que isto esteve esquecido, melhorou e, agora, as pessoas que fazem bonecos têm mais de 50 anos. Há um ou dois que não e a gente espera que haja mais uma ou duas pessoas novas que venham e deem continuidade a isto”, afirma.
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