“Queria pedir desculpa por este sotaque brasileiro mas tem que ser, não faria sentido estar a cantar músicas brasileiras sem esta musicalidade”, disse o fadista entre “Amar em paz” e “Inútil paisagem”, as duas canções com que iniciou o concerto Feito especialmente para o Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos.

Recém chegado dos Estados Unidos, o fadista, que confessou à Lusa não ter tido, no último mês, “oportunidade de ensaiar”, cantou sentado e de óculos “para poder ler as letras que “na adolescência, quando cantava muita música brasileira, sabia de cor” e que, esta noite, perante o público Folio, não queria correr o risco de “esquecer”.

“A minha música é o fado”, afirmou, garantindo que a passagem pela bossa nova é “apenas uma experiência” em resposta a um convite feito pelos curadores do Folio, “um festival de que gosto muito e em que tenho muito gosto em participar”.

Num registo intimista, Camané cantou, fumou, e apreciou o silêncio do público, interrompido apenas pelos aplausos.

“Gosto deste silêncio, parece que estou a cantar fado”, disse antes de entoar “Corcovado”, “Luiza” ou “Chega de saudade”.

E para não ficar apenas pela parecença, Camané cantou mesmo “Inútil paisagem” em registo fado, “uma surpresa” que reservava “para aqueles que apreciam o meu trabalho, aquele que é o meu registo, porque se não fosse fadista não cantaria qualquer outro tipo de música”

O fado e a bossa nova de Camané, juntos num mesmo espetáculo, poderá até deixar “saudade”, tema de Jobim e tónica do Fado, mas, como disse à Lusa, se depender do autor, “dificilmente” a atuação será repetida noutro palco.

“Gosto muito de livros, deste ambiente especial, e só aqui este concerto faz sentido”, rematou o fadista que faz sempre questão de, quando atua noutros países, “cantar um tema na língua local”.

Mas em Óbidos cantou e encantou, em português do Brasil. E com ele o público que se soltou ao som de “Garota de Ipanema”, cantando também “a beleza que existe” em Camané a cantar Tom Jobim.

Ou fado, a sonoridade que escolheu para homenagear Tom Jobim no final do concerto.

O concerto de Camané fechou este sábado a programação do penúltimo dia do Folio, festival que na sua segunda edição celebra os 500 anos da ‘Utopia’ de Thomas More, o Ano Internacional do Entendimento Global, o centenário do nascimento de Vergílio Ferreira, os 500 anos da morte do pintor Hieronymus Bosch e os 400 da morte dos clássicos William Shakespeare e Miguel de Cervantes.

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