Não é uma feira gastronómica, nem um festival de bandas, mas é um evento onde os prazeres da mesa estão no centro e em que a música está sempre presente. Chama-se Chefs on Fire, realiza-se no Estoril e este ano esgotou nos dois dias em que decorreu, neste fim de semana de 17 e 18 de setembro.
A impressão dominante no recinto, além do inconfundível cheiro a lenha a arder, é a de um gigantesco almoço de família e amigos que se prolongou tarde e noite dentro e em que ninguém tem pressa para chegar a lado nenhum. Há casais, famílias, grupos de amigos a passear para cima e para baixo na única rua em que decorre o evento, ora desviando-se para experimentar um petisco, ora parando numa mesa, junto a um fardo de palha ou simplesmente numa roda de pessoas à conversa com prato numa mão e copo na outra.
Aqui faz-se justiça à ideia de que não há como os portugueses para falarem do que a mesa lhes oferece, antes, depois e durante cada refeição. Com a particularidade de haver muito de que falar já que em cada dia há mais de uma dezena chefs a cozinhar no fogo pratos tão distintos quanto o tradicional polvo à lagareiro ou as sandes de courato, de onde se pode seguir para a azelha de atum em brioche de abóbora hokkaido e picles japoneses ou para um pastrami, finalizadas como uma belíssima tarte de queijo da Dona.
Neste domingo, estrelas da cozinha como Henrique Sá Pessoa ou Noélia Jerónimo partilharam o recinto com novos valores. O método é igual para todos, mas diferem na capacidade instalada. Enquanto os chefs conceituados servem 2000 doses diárias, o que exige uma logística e staff já comprovado, as "rising stars", como são denominados os novos talentos, têm como meta as 1000 doses diárias.
Os passes à venda - de dois dias, um dia ou meio dia, com valores entre os 150 e os 65 euros - são acesso à experimentação de 5 a 10 doses e 2 a 5 bebidas e o roteiro é definido por cada um, de acordo com as preferências gastronómicas e/ou a curiosidade da experimentação.
Este ano, os bilhetes esgotaram nos dois dias, atingindo a capacidade máxima de 2500 pessoas no recinto. No próximo ano, o desafio é outro: o Chefs on Fire salta fora de fronteiras e vai ter uma edição em Amsterdão. Mas, também em Portugal, o objetivo é crescer.
"Precisamos crescer para dar resposta à procura, mas queremos continuar neste espaço que é mágico e que tem uma sobreposição perfeita entre o que é o DNA deste evento e o de Cascais", diz-nos Gonçalo Castel-Branco, o promotor da iniciativa. Para dar resposta a essa vontade, o caminho mais plausível será alargar o Chefs on Fire a dois fins de semana, mantendo-se no mesmo local.
Fora de Portugal, e depois de várias pesquisas, a opção foi por levar o festival para Amsterdão. Não exatamente por ser uma cidade ou um país conhecido por uma gastronomia especialmente apreciada, mas pelo estilo de vida de quem lá vive. "Tem o público certo e uma cultura de slow living que vai ao encontro do que propomos".
Em Amsterdão deverão marcar presença chefs portugueses e chefs locais, ainda sem estarem definidos nomes e programas.
No princípio desta história esteve a ideia de organizar um evento à imagem de preferências que Gonçalo Castel-Branco reconhece como suas. "Faço coisas para o meu umbigo e depois rezo para que outros pensem como eu". Quatro anos depois, já é certo que há outros a gostarem do mesmo.
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