A obra, uma coprodução anglo-suíça do início da década de 1950, tem como ponto de partida os Alpes, lugar onde se reúnem sobreviventes do conflito e uma história de amor entre dois instrutores do campo que acolhe crianças. Porém, o centro do drama prende-se com a instrumentalização das personagens, por parte dos poderes políticos - "e de quem sofreu com eles", escreve a Cinemateca - e com "as jovens vidas que se veem sem raízes", num continente ainda marcado pela "maior das feridas".
O filme "Aldeia Branca" foi selecionado para o Festival de Cannes, em 1953, estreado em Portugal um ano depois e faz parte do núcleo de ensaios de Delfim Santos dedicados ao cinema, que também integra a reflexão sobre títulos como "O Terceiro Homem", de Carol Reed, "The River", de Jean Renoir, "Umberto D.", de Vittorio De Sica, e "Anos Felizes", de William Wellman, entre outras produções.
Para Delfim Santos, o primeiro catedrático português de Pedagogia, que iniciou a carreira docente no ensino secundário e foi um dos pioneiros na adoção dos meios audiovisuais no ensino, "Aldeia Branca" é a evidência de que “não são as crianças descendentes dos adultos, mas sim os adultos descendentes da criança que foram e de que (...) se esqueceram”, como se lê na área dedicada ao cinema das suas Obras Completas, publicadas pela Fundação Calouste Gubenkian.
A obra de Delfim Pinto dos Santos (1907–1966) vai do tratado filosófico ao ensaio, da crítica à crónica, e soma títulos como "Conhecimento e realidade", "Cultura e História", "Da Ignorância", "Filosofia e Ciência", "Meditação sobre Cultura", além de dezenas de outros títulos e de centenas de conferências e de artigos, em publicações especializadas ou em jornais como o Diário de Lisboa e o Diário Popular.
Nascido no Porto, em 1907, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras desta cidade, onde teve por companheiros Agostinho da Silva e Adolfo Casais Monteiro.
Na década de 1930, fixou-se em Viena, como bolseiro do antigo Instituto para a Alta Cultura (IAC), para o estudo da Filosofia das Ciências. Seguiu-se Berlim, onde teve Nicolai Hartmann como tutor e onde veio a ser leitor de língua e cultura portuguesas. Mais tarde prosseguiu a investigação em Londres, na University College, e no Trinity College de Cambridge, para onde se exilara grande parte do Círculo de Viena, após a anexação nazi da Áustria, em 1938.
Fez o doutoramento em 1940, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com uma dissertação sobre "Conhecimento e Realidade". Na cidade, aproximou-se do grupo Presença, de José Régio e João Gaspar Simões.
Em 1943, fixou-se em Lisboa, como assistente de Letras onde, em 1950, se tornou no primeiro professor catedrático de Pedagogia, em Portugal.
Fundou o Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian, no início da década de 1960, que dirigiu.
Os escritores José Cardoso Pires e Luiz Pacheco contam-se entre alguns dos seus alunos. Ao longo do seu percurso, privou com Hermann Hesse, Sigmund Freud e Mircea Eliade, além dos seus mentores, como os filósofos John MacMurray, Charlie Dunbar e George Edward Moore.
Delfim Santos morreu em 25 de setembro de 1966. Na passagem dos 50 anos sobre essa data, a Biblioteca Nacional de Portugal fez a exposição "Delfim Santos: o filósofo do diálogo" e a Hemeroteca de Lisboa passou a disponibilizar os seus artigos na imprensa portuguesa, no endereço http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/delfimsantos/DelfimSantos1.htm.
"Aldeia Branca" passa na sala Félix Ribeiro da Cinemateca, a partir das 19:00, na segunda-feira, 51 anos após a morte de Delfim Santos.
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