Na sala de S. Pedro da Biblioteca da Universidade de Coimbra realiza-se o colóquio “Estudar, orquestrar e tocar Fragoso”, que reúne compositores, intérpretes, maestros e musicólogos.

No âmbito do colóquio, o diretor da Antena 2, João Almeida, modera um debate sobre a obra do António Fragoso (1897-1918), com a participação dos compositores Alexandre Delgado, Rui Paulo Teixeira e Vasco Mendonça, dos maestros José Andrade Campos e Vasco Mendonça, e dos musicólogos José Leandro Andrade Campos e Paulo Ferreira de Castro.

Eduardo Fragoso, em declarações à agência Lusa, enfatizou o facto de “a programação, do que se pode chamar ‘o Ano Fragosiano’" ser "importante para interessar ainda mais [o público] por um compositor que morreu precocemente", pela "qualidade da obra", e por se "distinguir do que se fazia em Portugal na época".

O responsável referiu “que muitas iniciativas vão continuar em 2019, nomeadamente a edição em CD da obra completa de música de câmara e a sinfónica do compositor.

No sábado, precisamente quando passam cem anos sobre a morte de António Fragoso, vítima da pneumónica, em 1918, é celebrada de manhã uma missa pelo cónego Pedro Miranda, na capela de S. Miguel da Universidade de Coimbra.

Às 21:30 no auditório do Convento S. Francisco realiza-se um concerto totalmente preenchido por obras de António Fragoso.

A orquestra Sinfónica Movimento Patrimonial da Música Portuguesa (MPMP), sob a direção do maestro Pedro Neves, interpreta um programa constituído por “La Ville d’Autonne”, orquestrada por Sérgio Azevedo, seguindo-se “Petite Suite”, em três andamentos, orquestrada por Edward Luiz d’Abreu, e o "Concerto Romântico" para violino e orquestra, em que é solista Tamila Kharambura, numa orquestração de Sérgio Azevedo a partir da “Suite Romantique”, de Fragoso.

A violinista ucraniana atualmente frequenta o mestrado na Universidade das Artes de Graz, na Áustria, com Vesna Stankovic, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo vencido, em 2000 e 2006, o Prémio Tomaz Borba.

O programa do concerto inclui ainda o Noturno em Ré Bemol Maior, que foi o último trabalho que António Fragoso completou.

Em declarações à Lusa, o maestro João Paulo Santos disse que, se António Fragoso não tivesse morrido precocemente, poderia ter-se tornado num grande compositor. Todavia, “é admirável o que ele escreveu, principalmente entre os seus 17 e 21 anos, quando morreu. São obras extremamente pessoais e de uma extraordinária força, a par do que se passava no mundo”.

“Quando digo que poderia ser, é porque ele morreu tão novo e a obra é muito reduzida, e só podemos imaginar o que poderia ter sido a sua repercussão no panorama musical português, visto o que ele escreveu de tão fantástico, numa idade tão jovem”, esclareceu.

“As obras que ele deixou, não são de uma pessoa sem experiência. São de tal modo maduras e intensas, que uma pessoa se espanta, [e interroga-se] com o que poderia vir a ser a sua personalidade” musical.

António Fragoso estudou no Conservatório Nacional, em Lisboa, sob a orientação de Luís de Freitas Branco e Marcos Garin.

A assimilação da expressão impressionista da época, patente na sua obra, quando ainda era rara no panorama português, e a morte prematura levaram especialistas a estabelecer um paralelismo entre o compositor, na música, e Amadeo de Sousa Cardoso, na pintura.

À Lusa, Alexandre Delgado salientou que a obra de António Fragoso “é muito refrescante", no contexto da época, tanto mais que "o impressionismo chegou muito tarde" a Portugal.