Trata-se de uma obra, com coreografia de Nélia Pinheiro, da CDCE, resultante “do culminar de um percurso de experimentação coreográfica em torno do comportamento humano perante situações de crise, violência e isolamento”, explicou hoje a companhia.

“Os conflitos interiores, o medo, o individualismo como forma natural de existir, as questões éticas e morais associadas ao comportamento em sociedade, elencam a natureza temática e comportamental dos intérpretes”, acrescentou a CDCE, em comunicado enviado à agência Lusa.

Em cena, através da interpretação de três bailarinos, que assumem diferentes personagens da obra do escritor José Saramago, “a natureza humana é exposta de forma crua, sem emoção, para suscitar ativação do espetador”, frisou.

A peça coreográfica, que já teve uma primeira versão no verão de 2019, então apresentada em Évora, fruto de uma coprodução entre a CDCE e aquela câmara municipal alentejana, foi alvo de novo trabalho de criação, mantendo agora “apenas o nome e a coreógrafa”, realçou hoje à Lusa Rafael Leitão, da companhia de dança.

“Houve uma primeira apresentação no ano passado, no Mercado de Évora, mas agora trata-se de uma peça completamente nova. o tempo de duração é diferente, o elenco também mudou e incorporou mais um elemento, os autores dos figurinos, do desenho de luz e da coreografia são os mesmos, mas o que produziram é totalmente novo”, disse Rafael Leitão.

Segundo a CDECE, “Nélia Pinheiro, por sua vontade, regressou ao estúdio no início deste ano para, “num processo de investigação, sinalizado pelo confinamento nacional no contexto da covid-19, e distanciamento no processo de trabalho entre os intérpretes, experimentar novos conteúdos expressivos e refletir sobre a nova realidade social e comportamental imposta pela pandemia”.

Este “processo de investigação e experimentação entre a coreógrafa e os intérpretes, produziu uma nova linguagem coreográfica, cenográfica, figurinos, desenho de luz e ambiente sonoro”, sublinhou.

“Com um formato próximo da instalação artística/coreográfica, a criação apresenta uma linguagem experimental, tanto ao nível visual, como ao nível do posicionamento do corpo, do movimento e da cena”, disse a organização.

O público pode “observar o espetáculo em três frentes”, indicou a CDCE, referindo que a criação, “além da dança, inclui um trabalho de exploração verbal e sonoro do texto de José Saramago”.

A estreia de “Ensaio sobre a Cegueira” no ROOF Dance Festival, em Marvila, Lisboa, está agendada para as 21:30 de sábado, seguindo-se uma apresentação, no dia 25 deste mês, à mesma hora, em Oeiras (Lisboa), no Auditório Municipal Eunice Muñoz.

A coreografia “regressa” a “casa”, a 03 de outubro, para ser apresentada no Festival Internacional de Dança Contemporânea (FIDANC) em Évora.

Com figurinos de José António Tenente, e desenho de luz de Nuno Meira, a coreografia é interpretada por Nélia Pinheiro, Fábio Simões e Gonçalo Almeida Andrade, estando ainda previsto que seja apresentada, até final do ano, em Castelo Branco, Moita, Estarreja e Ponte de Lima.