Viajar no espaço e no tempo, mergulhar na mente, perder-se na imaginação.
Não há paredes de cimento capazes de travar o génio e é isso que se celebra hoje, 23 de abril, Dia Mundial do Livro. E quando os tempos são de isolamento, abraçamos os personagens e as ideias às quais a palavra dá corpo e seguimos caminho na expectativa de um destino que na realidade só conhecemos na última página.
Para assinalar a data, desafiámos a equipa do SAPO24 a partilhar o que tirou da estante e escolheu como companhia para estas semanas de pandemia. Há quem dê mais do que um giro em simultâneo, outros aproveitam para se encontrar com velhos conhecidos. Porquê? Ninguém melhor para contar do que os próprios.
Quem sabe não encontra aqui o impulso ideal para embarcar na sua próxima viagem.
Rute Sousa Vasco
Há cinco semanas ia ser uma "limpeza" de estantes com livros a aguardar tempo de leitura. Realidade, cinco semanas depois? Nada mudou no que respeita nem ao tempo nem à vontade de ler. Em leitura por estes dias:
- As Mil e uma Noites, que pareceu muito apropriado logo no início da quarentena como leitura para entreter não o rei mas o tempo (era bom era)
- A civilização do espetáculo, de Mario Vargas Llosa, sobre esta coisa de hoje sermos todos cultos ou incultos
João Dinis
Estou a ler dois livros, na verdade. Um equilibra ou complementa o outro - estou a tentar perceber ainda de que forma, visto que ainda não os terminei. Explico já de seguida. O primeiro chama-se "Factfullness", de Hans Rosling, Anna Rosling Rönnlund e Ola Rosling, e podemos dizer que é um livro positivo, ainda que o seu autor prefira provavelmente chamá-lo de "realista". É sobre a forma como a nossa perceção do mundo pode não ser a mais exata no que diz respeito à forma como olhamos para nós e para os outros. O nome "cheira" a auto-ajuda, mas parece-me que é só isso. No fundo, o livro tenta mostrar - provar, na verdade... - que o mundo melhorou muito desde os anos 60, não obstante continuarem a existir desigualdades em vários quadrantes, do dinheiro ao género. Mas o facto do caminho ainda ser longo não significa que uma parte significativa do mesmo não tenha já sido percorrido. E que não nos devamos sentir orgulhosos com isso enquanto humanidade.
O segundo, por seu turno, chama-se "Ditadura da Felicidade", de Edgar Cabanas e Eva Illouz, e fala da ascensão da chamada "Psicologia Positiva" e da forma como se tornou numa indústria de milhões, com tudo o que de bom e mau que isso representa. Ainda estou no início do livro, mas parece-me uma boa leitura para colocar água na fervura no que diz respeito à forma como todos nós lidamos com sentimentos como a tristeza ou a frustração, bem como ao processo que temos de levar a cabo para os ultrapassar, ou melhor, para aceitar que fazem parte da vida. É também sobre o facto da felicidade não ser uma "escolha", algo que promete abanar alguns alicerces do positivismo que pululam nas redes sociais (e não só).
Margarida Alpuim
Já vou atrasada na leitura deste livro? Provavelmente. Ainda vale tentar apanhar o “comboio”? Com certeza. Aliás, às tantas o (atrasado) timing, quem sabe, acaba por ser perto de perfeito.
"Sapiens", escrito por um historiador e filósofo israelita, Yuval Noah Harari, foi publicado em 2014, é um sucesso internacional, já vendeu mais de 14 milhões de cópias e está traduzido em mais de 50 línguas.
Um livro que interpreta, com uma visão provocadora e desafiante, os principais processos de evolução da Humanidade, desde os primórdios até à atualidade, é capaz de ser uma das melhores companhias para encontrar chaves de leitura que tragam luzes para discernir que tempos são estes que estamos a viver.
Que ligações são estas que nos tornam corresponsáveis com as pessoas no nosso quilómetro quadrado e com quem está do outro lado do mundo? Que equilíbrios e desequilíbrios estão em causa entre a Natureza e nós, Humanos (principalmente, na nossa dimensão industrial, científica, cultural…)? Que sentidos damos, e queremos dar, às dinâmicas que construímos?
Tenho estado a conseguir avançar na leitura como acharia que ia acontecer? Nada disso. Mas a lentidão não me passa despercebida, e faço dela motor para entender outros processos simultâneos mais profundos. E dessa forma me ponho em comunhão com o livro.
Que esta partilha sirva para me empenhar na leitura. Até porque, depois deste, quero seguir diretamente para os sucessores da coleção: “Homo Deus, Uma Breve História do Amanhã” e “21 Lições para o Século 21”.
Inês F. Alves
O meu primeiro encontro com Dulce Maria Cardoso foi n'O Retorno, por indicação da Rute Sousa Vasco. Como filha de retornados cresci com os relatos de quem chegou a Portugal com uma mala para 15 dias e nunca mais voltou. Sabia dos hotéis, do IARN, do que era sentir-se bicho estranho no seu próprio país, sabia que isso tinha moldado a minha família. Sou fruto disso — dificilmente os meus pais se teriam encontrado se o retorno não tivesse ocorrido, eles que nasceram em Angola, separados por 12 horas de viagem, mais de 900 quilómetros. Li este O Retorno de uma assentada, de forma quase sôfrega e recomendei-o a todos com quem me cruzei a seguir, começando pelos cá de casa.
Havia portanto razões mais do que válidas para aceitar um segundo encontro. Arranquei para Os Meus Sentimentos, que começa com um acidente numa noite de temporal. O relato é triste, decadente até, reflexo de Violeta, a protagonista. Como acontece n'O Retorno é impossível ficar indiferente e a crueza requer-me mais tempo de digestão. Assim sendo, ainda não avancei muito na narrativa, mas dou testemunho do génio de Dulce Maria Cardoso, que é no fundo a minha recomendação para estes tempos de pandemia.
(Nota lateral para confessar existe um outro livro que me tem ocupado as noites e tirado tempo a Violeta — e também ele me antecipa uma incursão única e inédita este ano: Estamos grávidos! E agora?, de Carmen Ferreira, mais conhecida por "enfermeira Carmen", um fenómeno do Instagram. O nome do livro diz tudo, o romance que pode resultar daqui caberá a mim escrever um dia).
Pedro Soares Botelho
Eu sou o Pedro Soares Botelho. Não importa a idade, que já me sugeriram ignorar o aniversário deste ano, tampouco onde estou, que as paredes que me rodeiam podiam estar em qualquer lado. Sou jornalista no Norte, isto bastará.
Comecei há poucos dias O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Tenho uma mania de não ler sinopses, críticas ou trailers, quer dos livros, quer dos filmes que vejo. Acho-me, assim, mais impoluto, imparcial, como se encapuçado com o véu da ignorância, que me deixa só os olhos abertos à história.
Neste caso, não sou totalmente ignorante. Assisti à peça "1936, o Ano da morte de Ricardo Reis", de Hélder Mateus da Costa, n'A Barraca, em Lisboa, quando lá estreou (2016). Mas já foi há tempo suficiente para a minha memória de papel se esquecer das tranças da história. Pude, então, pegar agora no livro, que leio à noite, como ansiolítico para apelar às ninfas do Douro que me tragam o sono (ele nunca vem, de qualquer modo).
Antes de pegar neste, hesitei na releitura do Ensaio Sobre a Cegueira, livro mostrengo, que nos confronta com a arquitetura obscena da mente humana. Saramago tem sempre esse poder: de nos pôr a questionar e a temer; a odiar e a amar. E fá-lo sem sequer nos conduzir os sentimos — traz sempre protagonistas que nem são pessoas, mas sentimentos, causas ou heranças.
Estou na página 84 (de 494). Ainda só chove no Chiado, correndo o lodo no Cais do Sodré. Encontrei o Jacinto, do eterno Eça, e muito povo à roda do Rossio na passagem do ano. O mais há de vir lá quando o tempo deixar.
Tomás Albino Gomes
Olá, espero encontrar-te bem.
Estou a ler os "Contos do Gin-Tonic", do Mário-Henrique Leiria, uma coleção de textos e poemas satíricos publicados originalmente em 1973.
Não há qualquer outro motivo para o estar a ler em tempos de pandemia para além a saudade de um encontro com os surrealistas e o timing — finalmente consegui encontrar o livro na edição pretendida e a um preço convidativo. Também é um livro com o nome da bebida que mais me tem feito companhia esta quarentena, mas em relação a isso, roubo as palavras do autor: "as coincidências têm causas matemáticas bastante curiosas".
Alexandra Antunes
Dizer que tenho apenas um livro em mãos é impossível — costumo ler vários ao mesmo tempo (e não, não chego a baralhar histórias nem personagens).
A quarentena ainda não tinha começado e o livro que me acompanhava nas viagens para Lisboa era O Deus das Moscas, de William Golding (Prémio Nobel 1983). Ainda não o terminei, ao fim de 46 dias em casa. E são apenas 258 páginas, que estão ainda a meio. O que é isto de acharmos que temos tempo para tudo em isolamento?
O livro — um dos que recebi no último Natal — tornou-se a leitura do momento só porque sim. Não houve um motivo exacto para começar este e não outro dos tantos que dormem na estante, à espera que os desperte. Contudo, tornou-se bastante atual. Ora vejam (prometo não deixar spoilers, até porque eu própria não sei ainda como termina): um avião despenha-se numa ilha deserta e um grupo de rapazes, de várias idades, tem de se adaptar a uma nova vida. Estão sozinhos, não sabem bem o que fazer, têm de se alimentar e cuidar uns dos outros (ou pelo menos tentar). Ao fim de um tempo, o medo impera. Os barulhos assustam, as ideias de monstros que espreitam na floresta começam a surgir. É preciso sobreviver, viver de uma forma que não se conhecia. Atrevo-me a dizer que esta ilha deserta é o isolamento de todos nós, com todos os receios e angústias que nos traz. Mas, certamente, vamos conseguir superar tudo. Haja coragem!
Mas as minhas leituras não são feitas apenas de livros que seguem na mochila. Esses, normalmente, são os que têm menos páginas — as minhas costas agradecem. À mesa de cabeceira costumam ficar os ditos "calhamaços". De momento, e tendo começado bem antes d'O Deus das Moscas, por lá está Contos Completos 1947-1992, de Gabriel García Márquez (Prémio Nobel 1982). Uma nota defensiva, para não ser eu própria catalogada: não, não leio apenas autores premiados. E não, também não os leio por ordem de atribuição do Nobel.
A escolha de ter o "Gabo", com as suas 709 belas páginas, à mesa de cabeceira é simples: o realismo mágico é um óptimo refúgio quando é preciso entrar noutro mundo — o que também é aconselhável nestes tempos estranhos ou apenas para fugir à banalidade de alguns dias. Há melhor do que pensar em quem será Um Senhor muito Velho com Umas Asas Enormes ou O Afogado Mais Bonito do Mundo? Ou embarcar n'A Última Viagem do Navio Fantasma? Ou ainda partilhar A Incrível e Triste História de Cândida Eréndira e da Sua Avó Desalmada? Eu cá acho que não. Afinal, com a nossa vida semi-parada, precisamos que outras histórias apareçam diante de nós.
António Moura dos Santos
"Hei-de cuspir-vos na campa" de Boris Vian, 1.ª ed., Col. Marginália, Lisboa, Meridiano, 1977
Não sei se toda a gente tem a sorte de ter uma relação assim, mas eu e a minha madrinha — minha tia, irmã da minha mãe — temos há muito um contrato bibliográfico. Quando chega a altura da Feira do Livro, ela oferece-me um título entre os milhares dispostos no Parque Eduardo VII. Recentemente, foi adicionada uma nova cláusula, na qual a minha querida tia passou a prescindir anualmente de um livro da sua coleção para engrossar a minha. Primeiro foi "O Que Diz Molero", de obra torrencial de Dinis Machado, e a última oferenda foi "Hei-de cuspir-vos na campa", do francês Boris Vian, que me tem feito doentia companhia durante esta fase.
O cenário é simples: anos 40 no sul dos Estados Unidos da América (presume-se, dadas as referências às famílias de plantadores de algodão no Haiti). Lee Anderson, um jovem mestiço, muda-se para uma pequena cidade depois do seu irmão ter sido linchado por se ter envolvido com uma rapariga branca. Aceitando trabalho como livreiro, Lee imiscui-se no grupo local de jovens, entre sexo e drogas a rodos. A tradução não é a melhor — há passagens algo trapalhonas e toda a gente fala com um distanciamento esquisito dada a idade dos protagonistas —, mas não detrai da história. O objetivo último de Lee, sem querer revelar grande coisa do enredo, é vingança.
O que não é spoiler nenhum é contar as implicações reais da publicação deste livro para Vian. Obra violenta e sexualmente polémica, pastiche consciente da fórmula da literatura noir e pulp, o autor francês — cujo propensão multidisciplinar também o levou a ser engenheiro de profissão e uma figura importante da cena de jazz parisiense da época — publicou esta obra sob uma identidade falsa, a do afro-americano Vernon Sullivan, fazendo-se passar por seu tradutor. O artifício quase resultou: a obra deu escândalo e foi um sucesso de vendas, mas Vian foi acusado de cumplicidade pelo seu papel na edição e acabou por admitir ser ele o autor. No entanto, há uma reviravolta ainda maior nesta história do que na narrativa que lhe deu gás: Vian cedeu os direitos de "Hei-de cuspir-vos na campa" para uma adaptação cinematográfica, mas o resultado desagradou-o de tal maneira que morreu num acesso de raiva com um ataque cardíaco na sala de cinema, em 1959.
José Couto Nogueira
Estou a reler as "Obras (completas) de Bocage", edição da Lello & Irmão, 1968; e "Da natureza das coisas", de Lucrécio, edição Relógio d'Àgua, 2015.
O Bocage porque era um heterodoxo, um provocador, numa época em que sê-lo era muito perigoso, o que me lembra da necessidade de pôr em questão o estabelecido para criar novos valores; e também porque são textos divertidos, satíricos, que me fazem esquecer estes tempos acachapantes em que vivemos.
O Lucrécio, um autor da Roma clássica, porque é o livro chave do Epicurismo, um filosofia que, resumidamente, defende o prazer (no sentido de satisfação) como modo de atingir a tranquilidade e vencer o medo - exactamente o que precisamos agora!
Abílio dos Reis
Duna, de Frank Herbet. Saída de Emergência. Edição ou reimpressão: outubro de 2016.
Há quem goste de colecionar moedas ou selos, eu gosto de comprar livros que sejam adaptados para cinema. Cada um com a sua, certo?
Assim, desta vez, aproveitei para mergulhar no mundo criado pelo escritor norte-americano Frank Herbet (1920-1986). E o exemplar que está na mesa de cabeleira é o primeiro da saga Dune (Dune Messiah, Children of Dune, God Emperor of Dune, Heretics of Dune e Chapter House Dune).
Não sou fã incondicional do género de ficção científica, mas gosto de diversificar e de estender os horizontes nas minhas leituras. E Duna é considerado um dos melhores romances de sempre do género — há quem diga que se trata mesmo do Senhor dos Anéis deste estilo. Andava na mira há imenso tempo, há anos que fazia a intenção de o ler, só que ainda não tinha sido feito aquele click para o fazer. Isto até ver as primeiras imagens da nova adaptação do realizador canadiano Denis Villeneuve, com data de estreia marcada para o final do ano nos Estados Unidos.
Tendo adorado O Primeiro Encontro (2016) do realizador - o filme dos ovos da Páscoa alienígenas que desceram à Terra - e deppois de ter visto as fotografias com os atores Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson… teve de ser. Tive de avançar e bater com os olhos "no planeta mais perigoso do universo". Além disso, estava a bom preço.
David Lynch já fez uma adaptação — a The Atlantic escreveu há uns anos que foi incompreendida — do romance em 1984, há ainda uma mini série de 2000 do Sci-Fy, mas parece que esta é que vai ser a derradeira prova dos nove. Para já, o filho de Herbet sugere que o pai ficaria "incrivelmente orgulhoso". Vamos ver. A leitura está a sê-lo e é tudo aquilo que prometia. A ver se filme segue o mesmo caminho.
Carolina Muralha
O livro que decidi ler durante esta pandemia foi o “O Mundo sem Fim”, do Ken Follet, que, na verdade, é composto por dois volumes, o I e o II — e eu já estou a acabar o segundo.
Escolhi este livro, porque é a sequela de Os Pilares da Terra (também do mesmo autor) e porque já o estava para o fazer há algum tempo. Confesso que andar com um calhamaço no comboio da linha de Sintra não era algo que me encorajasse a tirar o livro da estante.
No entanto, com o isolamento social dediquei-me ao “Mundo Sem Fim” , que se passa em Kingsbridge, durante o século XIV — exatamente no período em que a Peste Negra assolou a Europa. A história centra-se essencialmente em cinco personagens e enquanto as vamos acompanhando ao longo do livro, e da sua vida, apercebemo-nos de como as nossas crenças e a forma como vemos o mundo são incrivelmente suscetíveis a mudanças, seja quando o tempo passa por nós ou quando nos deparamos com acontecimentos que viram a nossa vida de pernas para o ar, como é o caso de uma pandemia. Nestas páginas, crenças estão a ser abaladas e novas formas de pensar o indivíduo e a sociedade estão a emergir, o que não será muito diferente do que vivemos agora no século XXI devido à covid-19.
Se o leitor não sabe que livro ler, “O Mundo sem Fim” é a minha recomendação.
Nota importante: Não terá que ler “Os Pilares da Terra”, porque o “Mundo sem Fim” passa-se 200 anos depois e não é preciso saber a história anterior.
Miguel Morgado
“O Combate” de Norman Mailer, ed. Dom Quixote.
Porquê?
Adoro boxe. A estratégia, a força, a resistência à dor, o jogo psicológico, os egos e o carisma, a cumplicidade entre pugilistas e o abraço final. À primeira vista, poderemos pensar tratar-se de um relato intimista, 238 páginas, sobre o maior combate de boxe do século XX entre Muhammad Ali (Cassius Clay) e George Foreman, em 1975, no Campeonato Mundial de Boxe de Pesos-Pesados, em Kinshasa, Zaire. Mas é, acima de tudo, uma descrição de duas Américas (negras) retratadas em cada um dos intervenientes no ringue. Sou um europeísta convicto que adora a história da América.
Porque estamos neste período deixo duas citações curiosas.
“Desculpe não lhe apertar as mãos... Era importante manter as mãos nos bolsos. E também era importante manter o mundo à distância... Flanqueado por guarda-costas exatamente para manter à distância quem quisesse apertar-lhes a mão, conseguia estar no meio de cem pessoas e não ter contacto com ninguém”, pág. 50.
“(Zaire) país que os pugilistas e a imprensa e trinta e cinco turista de boxe... visitariam depois de vacinados contra a cólera, a varíola, a febre tifóide, o tétano, a hepatite... injeções contra a febre-amarela e comprimidos para a malária...” p.108.
Isabel Tavares
Quando era miúda, e até muito tarde, era incapaz de ler mais de um livro ao mesmo tempo. Hoje não sei viver de outra maneira e preciso de estar a ler três ou quatro livros em simultâneo, quase sempre dois atuais, um que ficou para trás por falta de tempo e uma releitura.
E é mais ou menos isso que se passa agora: acabei "Leitão de Barros A Biografia Roubada", de Joana Leitão de Barros e Ana Mantero, um livro que valeu às autoras e netas do biografado o Prémio Sophia da Academia Portuguesa de Cinema na categoria Arte & Técnica. Se ler, vai perceber porquê. Porque gosto e por motivos de trabalho (vez aí um novo livro!) leio também "Marcelo Caetano Tempos de Transição", organização de Manuel Braga da Cruz e Rui Ramos, "Nixon e Caetano Promessas de Abandono" e "Salazar Caetano Cartas Secretas (1932-1968)", ambos de José Freire Antunes, três livros que testemunham a época do Estado Novo e que os mais curiosos devem ler.
Por fim, e desta vez em espanhol, uma pechincha comprada numa feira de rua em Madrid: "Filomeno, a mi pesar", de Gonzalo Torrente Ballester, primeira edição (1988), a história de um rapaz com raízes galaico-portuguesas, oriundo de uma família aristocrática pelo lado materno, mas a quem o pai impõe, em homenagem à avó, um nome que acaba por se tornar um fardo, por ridículo e efeminado, sobretudo para um galã da alta roda. Um livro cheio de ironia e humor, que valeu a Ballester diversos prémios literários, e que não pode perder.
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