Bobby Axelrod é o CEO da Axe Capital, um empresa fundada após o 11 de Setembro, papel desempenhado por Damian Lewis, cara conhecida de “Segurança Nacional” onde interpreta o papel de Nicholas Brody, o militar americano feito prisioneiro de guerra pela Al-Qaeda, que regressa aos Estados Unidos, desempenho com o qual ganhou um Emmy. Agora, na série "Billions", Axelrod é um magnata americano de origem irlandesa, que veio do nada para se tornar uma das personalidades mais influentes da indústria americana. O sonho americano, afinal.
A história leva-nos até ao ataque terrorista que dizimou as Torres Gémeas, onde estava localizado o escritório da antiga empresa de Axelrod que teve a sorte então de se encontrar fora do edifício noutro compromisso, o mesmo não se podendo dizer dos seus sócios que acabaram por não sobreviver. Antes de se saber que o ataque que tinha sido de origem terrorista, Bobby apostou contra a economia americana, o que lhe permitiu fazer a fortuna para começar a Axe Capital.
Esta ação e a forma como o ataque impactou a sua vida são temas explorados na primeira temporada e que dão uma visão mais realista e humana do típico homem de Wall Street. Outra dinâmica muito explorada na série é o paradoxo entre o homem de negócios disposto a tudo para ser bem-sucedido e o homem de família, casado com dois filhos, que acabam por ser sempre a sua prioridade. É aqui que se distancia de Lobo de Wall Street, onde o sentido de família ou de consciência não propriamente as prioridades na linha da frente do protagonista.
O contraponto a Bobby Axelrod é Chuck Rhoades, o procurador, especialista em crimes financeiros, com um pai também milionário que vê no filho a oportunidade do seu nome ter a relevância política que não conseguiu atingir. Protagonizado por Paul Giamatti, vencedor de um Globo de Ouro com A Minha Versão do Amor, Chuck é casado com a Dr.Wendy Rhoades (a Tara de "Sons of Anarchy") que é psicóloga na Axe Capital e amiga próxima de Bobby Axelrod. É com a sua relação que a série começa, numa cena de bondage sex com ambos, uma temática frequentemente abordada durante a primeira temporada.
Quando a equipa do procurador Rhoades lhe entrega documentos que indiciavam insider trading por parte da empresa onde a sua mulher trabalha, também ele entra num conflito de interesses. Por um lado, tem a oportunidade pela qual esperava para subir na carreira, mas por outro, isso pode ter como preço prejudicar a mulher com quem vive. De certo modo, encontramos em Rhoades o mesmo paradoxo que em Axelrod. Alguém que se apercebe que a lei poderá não ser suficiente para vencer o seu caso e que terá de pôr em causa os seus valores morais, éticos e até familiares para jogar com as mesmas armas que um multimilionário. Um destes momentos acabará por causar a separação do procurador e da psicóloga e ao mesmo tempo colocar a tão ambicionada progressão na carreira em risco.
Um dos criadores de "Billions" é Andrew Ross Sorkin, colunista financeiro do New York Times. Talvez, por isso, a série tenha a capacidade de tornar o mundo da alta finança e da lei ao mais alto nível algo com o qual qualquer um de nós se pode relacionar. Tem também a virtude, pelo menos para alguns, de nos pôr a torcer por alguém que está no lado errado da razão e cujo perfil, é aquele que provavelmente levou à crise económica e financeira de 2008. Simultaneamente, mostra a inaptidão do sistema de justiça americano (e dos sistemas de justiça no geral) para conseguir de forma concreta e inequívoca condenar formas pouco éticas de atuar no mercado devido à dificuldade que existe em prová-las e à subjetividade inerente que existe no modo como cada pessoa olha para estas práticas. Um tema também bastante discutido nos últimos anos - e nas últimas semanas - em Portugal.
Assim, não é surpresa que "Billions" seja um dos sucessos mais recentes da televisão americana, ao retomar novamente a discussão da atuação no mercado financeiro não apenas como um tópico de estratégia empresarial e económica, mas também numa perspetiva política e jurídica, especialmente numa altura em que as empresas parecem demonstrar mais confiança no mercado desde a entrada da Administração Trump, republicano e antigo homem de negócios. Neste contexto, a série também foi reconhecida positivamente por ter introduzido na segunda temporada, que arrancou no final de fevereiro, a primeira personagem sem-conformidade de género na televisão americana, uma estagiária da Axe Capital na qual Bobby vê potencial, numa decisão da produção que foi interpretada como uma reação ao conservadorismo que Trump tem demonstrado relativamente a este tipo de temas.
Nos Estados Unidos, a série bateu o recorde de audiência numa estreia da Showtime, com perto de três milhões de espectadores e o sucesso da atual temporada já valeu a renovação para uma terceira no próximo ano. Em Portugal, a transmissão é assegurada pela TVCine -Séries às 22h45 de sábado e tem uma semana de atraso relativamente ao canal americano.
Comentários