Duarte Coimbra, de 21 anos, quis fazer “uma história de amor, um filme romântico, que se passasse nos dias de hoje” em Lisboa, cidade onde cresceu e passa os dias.

O filme, trabalho final do curso de Realização da Escola Superior de Teatro e Cinema e o primeiro “a sério” que fez, “é muito pessoal”.

O homem e a mulher que aparecem nas fotografias mostradas no início são os pais do realizador e as cartas lidas são inspiradas em missivas trocadas pelo casal.

“Li algumas cartas que os meus pais escreveram [um ao outro] e tirei algumas ideias achava interessantes para o filme, nomeadamente a ligação com o cinema, o ela ir muito ao cinema, e ele estar longe dela”, partilhou.

Além disso, Duarte Coimbra identifica-se “muito” com a personagem principal, Manel, interpretada por Manuel Lourenço, que no mundo da música é Primeira Dama.

Com o “amigo” Manuel Lourenço, Duarte partilha a admiração pela cantora Lena D’Água, cuja música está presente em “Amor, Avenidas Novas”.

“Escrevi na nota de intenções que gostava de fazer um filme que tivesse uma força como se fosse uma canção 'pop', orelhuda, e fez todo o sentido para fechar o filme, como subtexto [incluir uma canção de Lena D'Água]”, recordou.

No meio de uma história de amor, Duarte Coimbra conseguiu aflorar assuntos que o deixam “confuso ou perturbado” em Lisboa.

“Queria que as coisas que me frustravam em relação à cidade estivessem no filme de alguma maneira. Achei que a ideia de transportarem o colchão pela avenida [Almirante Reis] e toda essa trama podia ser um bom mote para falar dessas coisas”, referiu.

As “coisas” são o excesso de turistas, a multiplicação de ‘tuk tuks’ e os aumentos incomportáveis das rendas.

“Amor, Avenidas Novas” estreia-se no domingo, às 18:30 no Cinema São Jorge, onde volta a ser exibido na quinta-feira. Na Culturgest, a curta-metragem será exibida na terça-feira e no dia 04 de maio.

Além de querer continuar a realizar filmes, Duarte Coimbra “também gostava de escrever poemas, fazer coisas fora do cinema”.

Para já é o cinema que ocupa a agenda do realizador. Depois do IndieLisboa, o filme será exibido no Festival de Cinema de Cannes, na Semana da Crítica.

A participação no festival francês parecia “um sonho desmedido”, que quando se torna realidade dá uma sensação que “é difícil de explicar”.

Duarte Coimbra “já estava muito contente com o IndieLisboa, em estar em duas competições (nacional e internacional), e de repente esta notícia super-surreal”.

“Foi um sonho até ao dia em que foi anunciado. Quando ouvi o meu nome é que pensei ‘isto é mesmo verdade’”, recordou.

Embora estivesse longe de sonhar que tal poderia acontecer, Duarte Coimbra já tinha vivido de perto experiência semelhante com um colega de turma – David Pinheiro Vicente levou em fevereiro "Onde o verão vai (episódios da juventude)" ao Festival de Cinema de Berlim, onde esteve em competição.

O filme de David Pinheiro Vicente foi também o trabalho final do curso de Realização. “É uma coisa super incomum acontecer”, referiu Duarte Coimbra, recordando que os dois ajudaram-se “mutuamente no processo criativo” dos filmes.

Duarte Coimbra esteve em Berlim este ano durante o festival, “mas só a passear e ver filmes”. Em maio, vai estar em Cannes e está “muito ansioso e curioso para perceber como funciona um festival tão grande”. O realizador antevê que “ter um filme num festival deve ser uma experiência empolgante”.

A 15.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Lisboa – IndieLisboa decorre até 06 de maio.