A história da GameStop valeu várias metáforas quando, no início de 2021, abanou por completo os mercados financeiros, com milhões de investidores - institucionais e comuns utilizadores de plataformas de trading - a subitamente prestarem atenção às ações de uma empresa aparentemente em falência.
Para algum contexto, a GameStop é uma cadeia de lojas americana, muito ligada a videojogos e acessórios que, na era da Internet e do comércio online, vinha a perder cada vez mais relevância. Esta realidade agravou-se ainda mais a partir de março de 2020, com a pandemia a colocar milhões de pessoas em confinamento obrigatório, tornando a opção online ainda mais apelativa (e segura) do que a deslocação a uma loja GameStop.
Os prejuízos da empresa aumentaram com o decorrer do ano e, sendo cotada na Bolsa americana, a expectativa da maior parte dos investidores era que a situação da GameStop piorasse e não o contrário. Por isso, alguns dos principais fundos de investimento de Wall Street e arredores decidiram fazer “apostas” volumosas na queda do valor de mercado da GameStop (também conhecidas por “short positions”), esperando com isso conseguir retornos significativos a curto-médio prazo.
No entanto, algures perto de Boston, um homem chamado Keith Gill tinha uma opinião diferente. Sendo analista financeiro numa empresa americana, teve como hobbie fazer uma investigação mais a fundo sobre a GameStop e concluir que, na realidade, havia alguns sinais animadores. Por isso, não só decidiu investir 50 mil dólares em ações da retalhista de videojogos, como passou regularmente a publicar conteúdo no Reddit e no YouTube, onde demonstrava e comentava regularmente a evolução da GameStop.
É mais ou menos este cenário que “Dumb Money”, que estreou esta semana nas salas de cinema portuguesas, começa por nos apresentar. Realizado por Craig Gillepsie (“I Tonya”, “Cruella”), o objetivo do filme é precisamente demonstrar como é que a história da GameStop se tornou um fenómeno global, explorando algum dos principais fatores sem complicar no jargão financeiro.
Vemos um conjunto de investidores de Wall Street, protagonizados por Seth Rogen, Vincent D’Onofrio ou Nick Offerman, e a sua respetiva fortuna. Vemos como é que o “aborrecimento” da pandemia e uma plataforma de trading - a Robinhood - atraíram uma série de utilizadores comuns aos mercados financeiros (também chamados investidores de retalho). Utilizadores esses que começaram a acompanhar o conteúdo de Keith Gill (protagonizado por Paul Dano) à medida que o preço das ações da GameStop subia e a utilizá-lo como bússola para os seus investimentos: uma enfermeira com poucas poupanças, duas estudantes universitárias e um trabalhador numa loja da GameStop.
Contar mais do filme é estragar um pouco da experiência da visualização e daquilo que é a descoberta desta história, mas há duas notas que são importantes destacar:
- A comparação mais direta para este filme é “Big Short” de Adam Mckay (disponível na Netflix), que em 2015 revisitou a crise económica de 2008 e também utilizou um conjunto de narrativas paralelas para explicar este acontecimento. Nesse filme, não há heróis, sendo ética e a literacia financeira os temas mais explorados, através das personagens de Steve Carell, Ryan Gosling ou Christian Bale.
- “Dumb Money” é um filme com bom ritmo e é mais uma boa oportunidade para refletir novamente sobre esses tópicos, apesar de parecer mais interessado em ter um final feliz. Gill é apresentado como o herói da história, os investidores de Wall Street vêem os seus milhões diminuir e o “average guy/girl” que investiu na GameStop consegue lucros significativos. Não foi bem isso que aconteceu, na vida real.
Foi por aqui que andou a discussão no episódio mais recente do podcast Acho Que Vais Gostar Disto entre mim e o João Dinis, onde tentámos dar o melhor uso à nossa educação em Gestão e Finanças para explicar a história e o porquê de ser relevante para todos nós.
O episódio está disponível na Apple Podcasts, no Spotify e, a partir desta semana, na Popcasts, a plataforma de podcasts do Grupo Renascença, que nos vai permitir chegar a mais ouvintes e talvez à Joana Marques.
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