Já todos ouvimos (e dissemos) coisas como “Tens de ver esta série, é incrível. O primeiro episódio não puxa mas depois…” ou “Aquilo lá para a terceira temporada tem um twist épico, só tens é de aguentar até lá chegar”. Bem… ain’t nobody got time for that! Ou, pelo menos, às vezes sentimos falta de um conteúdo que nos agarre logo desde o início.
Não sei se foi por estar embalada por um binge watch de “After Life” (cuja terceira temporada chegou à Netflix há uns dias), mas as parecenças ajudaram ao efeito de “amor à primeira vista” que me aconteceu com uma das estreias mais recentes da HBO. “Somebody Somewhere” chegou sem grandes alaridos. Nem os atores nem os próprios criadores têm nomes super reconhecíveis (vale o que vale, mas alguns nem página de Wikipedia têm), mas cheira-me que vai ser daqueles conteúdos que vai ganhar estatuto com o tempo.
Mas, afinal, o que é que a série de Ricky Gervais e esta nova estreia têm em comum? Primeiro que tudo (e provavelmente a única coisa): o tema. Tal como Tony (em “After Life”) está perdido e revoltado depois da morte da sua mulher, em “Somebody Somewhere” conhecemos Sam, que está igualmente perdida depois de ver a sua irmã partir (nos dois casos devido a doença). Os acontecimentos mais recentes obrigaram-na a voltar à sua cidade natal, no Kansas, e, para além do luto, enfrenta uma travessia no deserto que a faz duvidar de quem realmente é e onde pertence.
Tirando isto, pouco ou nada tem a ver, e acredito que as parecenças só tenham surgido pela proximidade com que vi os episódios. Mas vou deixar a apreciação de “After Life” para o nosso podcast e vou focar-me na minha mais recente descoberta.
Há várias razões que me vão fazer continuar a ver “Somebody Somewhere”. Para começar, a personagem principal, Sam, é interpretada por Bridget Everett, uma comediante que colabora frequentemente com Amy Schumer, e aqui percebe-se de caras que as vibes são muito parecidas. (Aliás, deixo-te aqui uma das suas performances mais icónicas). Depois, a simplicidade da história que conta são muito cativantes. Desde a família disfuncional de Sam que, em vez de se unir neste momento difícil, opta por piorar todas as situações, às recordações traumáticas que voltar à sua cidade, onde todos parecem ter sido melhor sucedidos do que ela, lhe traz. Quem nunca?
Claro que, ainda assim, “Somebody Somewhere” não me parece deixar de fora alguma excentricidade. O maior apoio da personagem principal (ou pelo menos assim parece ser pelo primeiro episódio) é Joel, responsável por um “grupo coral” que é, na verdade, só uma desculpa para juntar umas quantas pessoas para fazer a festa. Ainda que a sua personagem pareça ser mais tímida e recatada, é neste detalhe que Bridget Everett dá algum do seu cunho à personagem, com performances que trazem de volta a voz pela qual Sam era conhecida na altura do secundário. Neste primeiro episódio, temos direito a um dueto fofinho da música “Don’t Give Up” de Peter Gabriel e Kate Bush. O que é que será que se segue?
Pouco ou nada se sabe sobre o que é que vem aí, mas se tivesse de apostar, colocaria todas as minhas fichas numa comédia dramática sobre o luto e o estado de dormência. Mas confesso que gostava de ver algum empowerment misturado com esta comédia dark e irónica. Talvez até um glow-up de Sam com um final feliz e fofinho, com uma moral da história previsível tipo “nunca estás sozinha e existem pessoas que vão estar lá sempre para ti, passe o tempo que passar”. Porque nem todas as séries precisam de ser épicas e de ter um twist. E uma comédia dramática cheesy também faz bem de vez em quando.
Os episódios de “Somebody Somewhere” estreiam semanalmente, a primeira temporada vai ter sete, e o melhor é mesmo esperar para ver.
Já viste o primeiro episódio da série? Concordas com aquilo que disse? Conta-me tudo e faz a tua aposta em respondendo a este email ou através do endereço vaisgostardisto@madremedia.pt.
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