A equipa composta por historiadores, cientistas, peritos em inteligência artificial e perfumistas levará a cabo o projeto “Odeuropa”.

Do fedor das primeiras indústrias aos odores perdidos dos perfumes usados no combate a certas doenças, este projeto pretende utilizar a inteligência artificial para identificar em obras de arte – como pinturas e livros – os aromas que pairaram no continente até ao início do século XX.

"Queremos ensinar o computador a ‘ver’ um cheiro", explicou Peter Bell, professor de humanidades digitais na Universidade Alemã de Erlangen-Nuremberg.

"O nosso objetivo é desenvolver um 'olfato informático' capaz de rastrear cheiros e experiências olfativas", acrescentou.

Posteriormente, químicos e perfumistas de uma equipa que reúne especialistas de seis países reproduzirão as fragrâncias, que serão apresentadas ao público em museus de todo o continente a partir de 2021.

Segundo explica William Tullett, historiador da Universidade Anglia Ruskin em Cambridge e membro do projeto, o cheiro esteve no centro de importantes transições na história da Europa.

“A colonização, a urbanização, a industrialização, o nacionalismo, a comercialização, quase todos os processos históricos importantes influenciaram o que cheiramos”, assegura.

O arquivo será armazenado online, ficando à disposição de todos através da primeira enciclopédia histórica de odores do mundo, que facultará informações sensoriais sobre o passado.

A investigação "vai mergulhar nas coleções do património digital para descobrir os principais cheiros da Europa e as histórias que contam, o que nos trará de volta aos nossos olfatos atuais”, refere Inger Leemans, professora de história cultural da Vrije Universiteit de Amsterdão.

Tullet refere ainda que "a covid-19 ilustrou os efeitos profundamente negativos que a perda do olfato – um sintoma e efeito colateral da doença – pode ter no nosso bem-estar físico e mental".

"A pandemia revelou a fragilidade do nosso ambiente sensorial e a necessidade de preservar os odores que têm significado para as comunidades", conclui.

Com uma duração prevista de três anos, o projeto terá início em janeiro e contará com um orçamento de 2,8 milhões de euros, financiado pela União Europeia.