O filme: “Blitz” (Apple TV+)

O novo filme de Steve McQueen, artista que virou cineasta mas que não gosta que os outros o definam, recua aos anos da Segunda Guerra Mundial no Reino Unido para acompanhar Rita (interpretada por Saoirse Ronan, que, com quatro nomeações aos Óscares, este ano deve voltar a estar na corrida pela almejada estatueta dourada, seja por este papel ou pelo de “The Outrun”), uma trabalhadora numa fábrica de munições, e o seu filho George. Quando Rita decide enviá-lo para o campo, longe da agitação e do perigo das balas citadinas, para sua segurança, George salta do comboio e regressa a Londres em busca da mãe. Durante o resto do filme, ambos tentam reencontrar-se, numa experiência angustiante para mãe e filho (e, diga-se, também para quem assiste, como esta cena de um minuto demonstra).

“Blitz” desafia as normas dos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial de várias formas. Primeiro, porque nunca vemos o “inimigo invisível”. Depois, porque McQueen, realizador de filmes como “12 Anos Escravo”, “Hunger” e “Shame”, foca-se nas mulheres que mantiveram o país a funcionar, em vez de destacar apenas os homens em uniforme a combater. “Elas cuidam dos pais idosos, retiram os seus filhos e trabalharam em fábricas de munições e hangares por toda a Grã-Bretanha, fornecendo as munições para os homens na linha da frente. Estas mulheres têm sido negligenciadas na história do cinema”, explicou o realizador em entrevista à IndieWire.

Inspirado pela sua própria experiência em 2003, quando passou dez dias integrado numa equipa de soldados britânicos no Iraque, McQueen quis explorar os laços de camaradagem e resiliência que se formam em tempos de crise. No entanto, o propósito central de “Blitz” é a família. “Se baseares a história no amor, tudo o resto torna-se mais fácil, porque esse é o núcleo do filme”, revelou na mesma entrevista.

Para complementar a visão que tinha para esta produção — a maior da sua carreira até agora —, McQueen contou com os serviços de Hans Zimmer, vencedor de dois Óscares (“O Rei Leão” e “Duna”). O compositor alemão trouxe uma sensibilidade única, influenciada pela experiência da sua própria mãe durante a Blitz em Londres. “Hans entendeu a história porque a sua mãe viveu em Londres durante os bombardeamentos e, depois disso, foi para a Alemanha, onde conheceu o seu marido”, contou o realizador britânico. A banda sonora começa com o som de flautas infantis e evolui para uma orquestra completa, refletindo a jornada emocional durante as duas horas de duração.

Os eventos centram-se nos bombardeamentos estratégicos realizados pela Alemanha Nazi contra o Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1940 e 1941, conhecidos como Blitz, que empresta o título ao filme. Este período de destruição e medo, que causou a morte de milhares de civis e a devastação de inúmeras cidades britânicas, é também lembrado como um símbolo de resiliência e união, com os britânicos a adaptarem-se e a resistirem em circunstâncias extremas. Aqui, pela lente de uma mãe e um filho e o seu amor. Para quem procura um filme visual e emocionalmente poderoso, esta é uma escolha fácil.

A série: “Temos um Infiltrado” (Netflix)

Para quem procura uma mistura de humor, drama e uma pitada de mistério, “Temos um Infiltrado” é a escolha acertada. Com Ted Danson no papel principal, a série é uma adaptação livre do documentário “The Mole Agent”, nomeado ao Óscar em 2020. Danson interpreta Charles, um viúvo reformado que decide sair da sua rotina ao responder a um anúncio de uma detetive privada. A missão? Tornar-se um agente infiltrado numa residência sénior em São Francisco para desvendar o desaparecimento de uma herança de família.

Mike Schur, conhecido por séries como “The Good Place” e “Parks and Recreation”, é o criador e explicou ao site Tudum que viu o filme original — que decorre no Chile e acompanha um viúvo de 83 anos chamado Sergio — e que se deixou levar rapidamente pela história. Além de Sergio,“um ser humano adorável”, o documentário mostra também “uma bela meditação sobre o envelhecimento, um tema que somos particularmente terríveis a confrontar, lidar ou discutir neste país [EUA]”. Sobre Sergio, o The Guardian conta mais aqui.

Porém, embora Schur tenha ficado emocionado com o que viu, a sua primeira reação não foi adaptá-lo como série — até que um colaborador sugeriu fazer um remake e dar a Ted Danson, com quem trabalhou em “The Good Place”, o papel principal. “Assim que ele disse isso, tornou-se muito claro que havia uma forma de pegar nessa história, trocando o carisma único de Sergio pelo carisma único de Ted”. Feita a troca de carisma, temos Charles, o viúvo ficcionado.

Enquanto Charles investiga, cria novas amizades, descobre as complexidades dos residentes e redefine a relação com a sua filha, Emily (interpretada por Mary Elizabeth Ellis). A série abre uma jornada que, ao longo de oito episódios, aborda o envelhecimento com humor e sensibilidade, mostrando que nunca é tarde para recomeçar.

Embora Charles seja a estrela e protagonista, não está sozinho. O elenco secundário é outro espetáculo à parte e acrescenta dimensão à história. Stephanie Beatriz (“Brooklyn Nine-Nine”) brilha como a gestora perspicaz da residência, enquanto Lilah Richcreek Estrada interpreta Julie, a detetive que contrata Charles e simula ser sua filha para manter o disfarce. A química entre as personagens é complementada por veteranos como Stephen McKinley Henderson (que este ano já vimos em “Civil War”) e Sally Struthers (a Gloria Bunker de “Uma Família às Direitas”), que dão vida a residentes cheios de personalidade, prontos a entreter o espectador.

  • A primeira temporada já está disponível na Netflix