Conhecido sobretudo pela série de retratos de doentes de Alzheimer, o fotógrafo tem já também um currículo extenso na captura em luz de aves de capoeira, apresentando-as como pinturas neoclássicas em que o animal ganha uma pose já não longe de retratos de realeza.
Entre cliques e cacarejos, Alex Tem Napel montou um estúdio na aldeia de Ul, em Oliveira de Azeméis, onde explicou à Lusa que “a galinha perfeita é aquela que se mexe muito e que está curiosa acerca daquilo que a rodeia”.
“Têm fama de animais estúpidos, mas têm personalidade e só não parecem espertas quando estão assustadas ou ansiosas”, explicou o fotógrafo, aludindo à sua predileção por temas que não pode controlar e que, portanto, o surpreendem.
Para o holandês, é essencial apenas o domínio sobre a produção fotográfica, em jeito de contrapartida face à liberdade dos sujeitos que prefere retratar.
“Quero ter controlo absoluto sobre a técnica, a luz, o tratamento da imagem e a impressão, mas há uma coisa sobre a qual não quero qualquer controlo: o modelo”, frisou, contrapondo que “quando se retrata pessoas pode-se pedir-lhes que se virem para a esquerda ou direita, mas é sempre a mesma história. Não há surpresas.”
O holandês arrisca ainda a comparação – apenas no que à captura de imagens diz respeito – com doentes de Alzheimer e crianças pequenas, na medida em que por mais que tente dirigi-los, “acabam sempre por fazer o que querem”.
“Nesse sentido, são parecidos [enquanto modelos fotográficos] com as galinhas. Nunca sei o que vai acontecer. Tenho de esperar pelo que acontece, o que acaba por ser sempre uma prenda para mim”, diz à Lusa, sublinhando que tenta retratar as aves corriqueiras com “o caráter que merecem”.
“Quando se olha para galinhas, olha-se de cima para baixo, mas o que eu quero mostrar é que elas têm caráter, que podem parecer modelos, ou ginastas, ou diretores executivos de grandes empresas”, sublinhou Alex Ten Napel, que se prepara agora para o “casting”, ou seleção, de galinhas nas aldeias de Burgos, concelho de Felgueiras, Areja, pertencente a Gondomar, e Porto Carvoeiro, de Santa Maria da Feira.
Os cartazes daí resultantes deverão promover as iniciativas do “Há Festa n’Aldeia” com os animais autóctones de cada localidade abrangida, até porque “as galinhas são um animal representativo de cada aldeia de Portugal, sendo poucas as pessoas da aldeia que não têm uma capoeira em casa”, disse à Lusa Rita Pinto, coordenadora do projeto que terá lugar num fim de semana por mês, entre junho e setembro, em aldeias de Valongo, Felgueiras, Santa Maria da Feira, Albergaria-a-Velha e Oliveira de Azeméis.
Quando reflete sobre o que acaba por ser um dos símbolos nacionais mais reconhecidos no estrangeiro, Alex Ten Napel não esconde o fascínio que o leva a fotografar galos imponentes, depois de mais de 25 anos a fotografar humanos: “Quando olho para algumas fotos antigas que fiz, vejo que são maravilhosas e que nunca as poderia ter planeado”, disse à Lusa, prestes a voltar a perseguir galinhas.
O Há Festa na Aldeia é um projeto de desenvolvimento do território que visa recuperar a identidade e a memória de aldeias do norte.
O projeto inclui iniciativas promovidas em cada uma das aldeias em articulação com a população local, de modo a dotá-la de novas competências que lhes permitam rentabilizar em projetos profissionais e microempresariais as suas tradições e hábitos locais.
Comentários