Nascido em 1945 na ilha da Boavista e a viver atualmente no Mindelo, Germano Almeida é autor de obras como "A ilha fantástica", "Os dois irmãos" e "O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo", estes dois últimos já adaptados para cinema.

"O fiel defunto" é o mais recente romance de Germano Almeida, cuja obra literária está traduzida em países como Itália, França, Alemanha, Suécia, Noruega e Dinamarca.

Formado em Direito em Lisboa, é advogado e foi procurador da República de Cabo Verde. Deu os primeiros passos na literatura na década de 1980, numa altura em que cofundou a revista Ponto & Vírgula.

Germano Almeida, um dos escritores mais lidos e traduzidos de Cabo Verde, é o segundo autor cabo-verdiano a ser distinguido com o Prémio Camões, depois de o galardão ter sido atribuído em 2009 ao poeta Arménio Vieira.

Horas antes do anúncio do prémio, em declarações à agência Lusa, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, assumia estar a torcer pela escolha de Germano Almeida.

"O nome cabo-verdiano mais próximo de se consagrar como Prémio Camões é Germano Almeida, pelo seu percurso e a sua obra", disse Abraão Vicente.

O júri desta 30.ª edição do Prémio Camões, que distinguiu Germano Almeida por unanimidade, foi composto por Maria João Reynaud (Portugal), Manuel Frias Martins (Portugal), Leyla Perrone-Moisés (Brasil), José Luís Jobim (Brasil), Ana Paula Tavares(Angola) e José Luís Tavares (Cabo Verde).

Para Abraão Vicente, o Prémio Camões é “um contributo extraordinário de um país como Portugal” que “dá para incentivar a crítica, a produção”.

O escritor cabo-verdiano Germano Almeida, distinguido com o Prémio Camões, afirmou-se "surpreendido", mas "muito feliz" por constatar que o seu trabalho é apreciado a ponto de receber o galardão maior da língua portuguesa.

"Estou contente, muito feliz por saber que o que escrevo é apreciado ao ponto de me darem um prémio tão prestigiado como o Camões", disse Germano Almeida em declarações à agência Lusa, por telefone, a partir da sua residência, na cidade cabo-verdiana do Mindelo.

O escritor mostrou-se surpreendido com a distinção por considerar que "existem muitos escritores que merecem o prémio tanto ou mais" do que ele.

Para Germano Almeida, o segundo cabo-verdiano a receber o Prémio Camões, depois do poeta Arménio Vieira, este galardão representa "o reconhecimento do esforço e do trabalho" que vem desenvolvendo há anos como escritor.

Júri destaca "universalidade exemplar" na obra do vencedor

De acordo com a ata do júri, a decisão de entregar o Prémio Camões do presente ano ao autor cabo-verdiano Germano Almeida foi feita por unanimidade, "pela riqueza de uma obra onde se equilibram a memória, o testemunho e a imaginação".

"A inventividade narrativa alia-se ao virtuosismo da ironia num exercício de liberdade, de ética e de crítica. Conjugando a experiência insular e da diáspora cabo-verdiana, a obra de Germano de Almeida atinge uma universalidade exemplar no que respeita à plasticidade de língua portuguesa", salientam, na ata.

O Prémio Camões

Com a atribuição do Prémio Camões é prestada anualmente uma homenagem à literatura em português, recaindo a escolha num escritor cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento "do património literário e cultural da língua comum", segundo o protocolo estabelecido entre Portugal e o Brasil, assinado em junho de 1988, que instituiu o prémio.

"Com este prémio, pretende-se ainda estreitar e desenvolver os laços culturais entre toda a comunidade lusófona, pelo que a este evento se associam os outros Estados de língua oficial portuguesa", sublinhou o comunicado do Ministério da Cultura, que anunciou a entrega do galardão.

O Prémio Camões foi atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor português Miguel Torga e, na mais recente edição, em 2017, foi entregue ao poeta Manuel Alegre.

Manuel Alegre afirmou à agência Lusa que o Prémio Camões 2018 para o escritor cabo-verdiano Germano Almeida é "justo e merecido".

O presidente da Academia Cabo-Verdiana de Letras (ACL), David Hopffer Almada, manifestou também "uma satisfação enorme" e "grande orgulho" pela atribuição do Prémio Camões a Germano Almeida, considerando que reconhece o "trajeto histórico" da literatura cabo-verdiana.

"É uma satisfação enorme a seguir ao Prémio Camões de Arménio Vieira. É um grande orgulho para o país, para os dois escritores cabo-verdianos e para a Academia Cabo-Verdiana de Letras", disse David Hopffer Almada à Agência Lusa.

 Já receberam este prémio: Miguel Torga, João Cabral de Mello Neto (Brasil), José Craveirinha (Moçambique), Vergílio Ferreira, Rachel de Queiroz (Brasil), Jorge Amado (Brasil), José Saramago, Eduardo Lourenço, Pepetela (Angola), António Cândido (Brasil), Sophia de Mello Breyner, Autran Dourado (Brasil), Eugénio de Andrade, Maria Velho da Costa, Rubem Fonseca (Brasil), Agustina Bessa-Luís, Lygia Fagundes Telles (Brasil), Luandino Vieira (Angola — prémio recusado), António Lobo Antunes, João Ubaldo Ribeiro (Brasil), Arménio Vieira (Cabo Verde), Ferreira Gullar (Brasil), Manuel António Pina (Portugal), Dalton Trevisan (Brasil), Mia Couto (Moçambique), Alberto Costa e Silva (Brasil), Hélia Correia (Portugal), Raduan Nassar (Brasil), Manuel Alegre (Portugal).