“Hélia Correia reflete a influência de Guerra Junqueiro tanto na parte literária, na sua poesia e no discurso poético da sua obra, como nas convicções políticas que sempre o entusiasmaram”, escreve, no anúncio da decisão, a organização do Freixo Festival Internacional de Literatura (FFIL), que cabe ao município de Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança.

“O legado de Guerra Junqueiro é e continuará a ser uma fonte de inspiração para a formação de muitos poetas e escritores do século XX e XXI. E, enquanto assim for, podemos celebrar em pleno a língua portuguesa”, disse a curadora do prémio literário, Avelina Ferraz.

Vencedora do Prémio Camões, em 2015, Hélia Correia (1949) licenciou-se em Filologia Românica, foi professora de Português do Ensino Secundário, e destacou-se de imediato com as primeiras obras, a poesia de “O Separar das Águas” (1981), a que se seguiu “O Número dos Vivos” (1982) e a novela “Montedemo” (1984), que a companhia de teatro O Bando pôs em cena, com sucesso.

Apesar do seu gosto pela poesia, foi como ficcionista que Hélia Correia afirmou o seu percurso, constituindo uma das mais consistentes revelações da novelística portuguesa da geração de 1980. Os seus contos, novelas ou romances surgem sempre, porém, impregnados do discurso poético.

É de poesia o seu mais recente livro, “Acidentes”, editado no final do ano passado, e foi com a poesia de “Terceira Miséria” que venceu o prémio Correntes d’Escritas/Casino da Póvoa, na Póvoa de Varzim, em 2013.

“Um Bailarino na Batalha”, “A Teia”, “A Chegada de Twainy”, “Adoecer”, “Insânia”, “Soma”, “A Casa Eterna”, “Bastardia”, “Lillias Fraser”, “Villa Celeste” e os contos de “Vinte Degraus” são outros títulos da escritora, numa carreira literária de 40 anos.

Hélia Correia revelou, desde cedo, o gosto pelo teatro e pela Grécia Antiga, o que a levou a representar “Édipo Rei”, a escrever “Rancor – Exercício sobre Helena”, e a revisitar “As Troianas” (com Jaime Rocha) e “Medeia”, de Eurípides, que transpôs para “Desmesura”, e “Antígona”, de Sófocles, para “Perdição”, textos que companhias como A Comuna, Espaço das Aguncheiras e A Escola da Noite puseram em cena.

Foi também a Grécia que a levou a escrever “A Coroa de Olímpia” e “Mopsos – O Pequeno Grego”, para leitores mais novos, a quem também dedicou “A Ilha Encantada”, versão da “Tempestade”, de Shakespeare, “A Luz de Newton” e “Os Papagaios de Natal”, livro de contos, com ilustrações de Manuel Botelho, o seu título mais antigo, publicado em 1977, pela Cooperativa de Acção Cultural – Vozes na Luta.

Entre outros prémios, Hélia Correia recebeu o PEN Club e o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco e o Grande Prémio de Romance e Novela, ambos da Associação Portuguesa de Escritores.

O FFIL divulgou igualmente os autores distinguidos com o Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia 2021: Albertino Bragança (São Tomé e Príncipe), Vera Duarte Pina (Cabo Verde), Abraão Bezerra Batista (Brasil), Abdulai Sila (Guiné-Bissau), Luís Carlos Patraquim (Moçambique), Agustín Nze Nfumu (Guiné Equatorial), João Tala (Angola) e Xanana Gusmão (Timor-Leste).

O Prémio Literário Guerra Junqueiro, que em 2020 foi alargado à Lusofonia, “é um importante contributo para um movimento criador de uma união cultural lusófona e responsável”, disse a curadora, Avelina Ferraz.

Este ano o prémio reúne escritores dos nove países da união lusófona e de língua oficial portuguesa

“Ter Guerra Junqueiro como filho da terra é, por si só, motivo de orgulho. Perceber que existe uma ligação afetiva e efetiva ao património das letras e da cultura das palavras, torna esta missão cultural ainda mais desafiadora junto das nossas comunidades na Diáspora”, disse Maria do Céu Quintas, presidente da Câmara de Freixo de Espada à Cinta e anfitriã do Prémio Guerra Junqueiro em Portugal, citada pelo comunicado de anúncio dos vencedores.

O primeiro autor homenageado pelo FFIL foi o poeta e político Manuel Alegre, seguindo-se o poeta Nuno Júdice, em 2018, o prosador José Jorge Letria, em 2019, a poeta, ensaísta, tradutora e professora Ana Luísa Amaral, no ano passado. O ano de 2021 é o de Hélia Correia.

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