Desenhos, ‘cadavre-exquis’ feitos com os seus companheiros, colagens e pinturas de Mário Henrique-Leiria (1923-1980) vão poder ser vistos até dia 27 de maio, numa mostra que conta com peças de outros artistas, anunciou hoje o CAMB em comunicado.
Deste legado fazem parte obras de Artur do Cruzeiro Seixas, João Artur, Jorge Vieira, Mário Cesariny, António Domingos, António Maria Lisboa, António Areal, Carlos Calvet, Carlos Eurico da Costa, Fernando Alves dos Santos, António Paulo Tomaz, Henrique Risques Pereira, Pedro Oom ou João Artur da Silva.
Este imenso “património para descobrir” pertence ao espólio de Mário Henrique-Leiria, adquirido após a sua morte, em 1980, por Manuel de Brito, por estar em risco de se perder.
Poeta, escritor, pintor, crítico de arte, crítico literário, tradutor, gráfico ou editor tinha o espírito de colecionador, guardava tudo dele, dos seus parceiros e de outros escritores e pintores, guardava desde desenhos e pinturas, os cartazes feitos à mão das exposições surrealistas até às fotografias, catálogos, manifestos e tudo o que se relacionava com as artes e letras.
Da sua biblioteca, com cerca de sete mil livros, destacam-se as obras dos seus poetas e escritores favoritos como Baudelaire, André Breton, Aragon, Prévert, Marquês de Sade ou Kafka.
Mário Henrique-Leiria sempre desenvolveu também um “enorme interesse pelas diversas correntes artísticas”, de que se destaca uma coleção sobre os movimentos surrealistas, pelos artistas de todo o mundo, do Brasil, México ou Peru até à China, indica o CAMB.
“São muitos os livros de escritores e poetas portugueses e brasileiros que lhe são dedicados, de Almada Negreiros a Jorge Amado ou Erico Veríssimo”, assim como jornais e revistas, da Time à Newsweek, da Hara Kiri à Charlie, do Mosquito ao Mickey, do erotismo à ficção científica, do jazz ao cinema.
Do poeta surrealista existem também os álbuns que fez com as reproduções de artistas de que gostava - como Nuno Gonçalves, Goya ou Cézanne -, de Marilyn Monroe, de figuras públicas e eventos políticos.
Poeta, escritor, tradutor, pintor, crítico de arte e editor, Mário-Henrique Leiria envolveu-se ativamente no Grupo Surrealista Português entre 1949 e 1951.
Estreou-se individualmente em livro com os “Contos do Gin Tónico”, em 1973, mais de 20 anos depois de ter começado a participar nas manifestações públicas e coletivas do Grupo Surrealista Dissidente, do qual faziam parte outros vultos daquela corrente artística, como Mário Cesariny ou António Maria Lisboa.
No ano seguinte, publicou “Novos Contos do Gin”, e estes dois volumes acabariam por fazer de Mário-Henrique Leiria um dos autores surrealistas portugueses de culto, tendo somado várias reedições.
Nascido em Cascais em 1923, estudou na Escola Superior de Belas Artes, tendo sido expulso em 1942 por motivos políticos.
Foi preso pela PIDE e acabou por se exilar, em 1962, no Brasil, onde desenvolveu várias atividades, entre as quais a de encenador e de diretor literário da Editora Samambaia.
Em 1970, regressou a Portugal, onde colaborou em vários jornais, com pequenos contos.
Teve um final de vida difícil, a viver em casa mãe, na pobreza e com uma doença óssea degenerativa. Morreu em 1980, aos 57 anos.
As obras completas de Mário Henrique-Leiria foram publicadas recentemente pela e-primatur, cujo último volume é um álbum a cores de capa dura com toda a sua produção iconográfica, editado em maio de 2022.
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