“A boa música não escolhe géneros, nem escolhe fronteiras”, acredita Carlos Seixas, programador do festival, que, ao completar 20 edições, apresenta o maior alinhamento de sempre, com 59 concertos de 38 países e regiões, de todos os continentes, entre 19 e 28 de julho (19 a 22, na aldeia de Porto Covo, e 23 a 28 de julho, na cidade de Sines).
Desengane-se quem pensa que à 20.ª edição tudo é mais fácil. No mundo de hoje, com “as grandes questões ligadas às migrações”, há até “mais dificuldades do que há uns anos”, compara Carlos Seixas.
“Continua a ser difícil trazer músicos” da Ásia, dos países árabes, de África para apresentar ao Ocidente, reconhece, assinalando a contradição entre vivermos hoje num “mais pequeno, no sentido da informação que nos chega todos os dias”, mas num ambiente global de “fechamento”.
Perante este “estado do mundo”, o FMM opta por “abrir um caminho alternativo, viajar por outras latitudes, descobrir o que neste momento se tornou a música, cheia de influências, de transformações”. E fá-lo pela “qualidade” das chamadas músicas do mundo, mas também com a certeza de que “cultura é política”.
Recordando que muitos dos músicos que pisam o palco do FMM “não têm a ‘chance’ de mostrar aquilo que são e aquilo que fazem noutros festivais” e, mesmo nos seus países, enfrentam “dificuldades e riscos” para o fazer, Carlos Seixas assume que tenta, “cada vez mais”, que os artistas convidados “mostrem não só aquilo que a nível musical criam, mas também a sua própria vontade de mostrar e de sentir a sua identidade”.
A música “é um veículo daquilo que o artista do presente sente, tem sempre uma mensagem, essas mensagens às vezes são incompatíveis com a prática política que se exerce, quer nos seus países, quer também a nível mundial”, reflete.
O alinhamento deste ano “satisfaz” os organizadores, que seguem a filosofia de “mostrar aquilo que de novo se cria” na música. “O alinhamento deste ano, como desde o início, é um espelho dessa vontade, de ter não só uma continuidade, um percurso, mas também uma filiação, (…) mostrar aquilo que de mais brilhante se cria no mundo”, explicita Seixas.
O FMM — orçado em 780 mil euros e totalmente financiado pela Câmara Municipal de Sines, que recorre a apoios — reivindica um “caráter de serviço público”, revelado na gratuitidade de quase dois terços dos concertos.
Existe “uma vontade enorme de promover a cultural popular musical, (…) contribuir para a construção do imaginário futuro”, justifica Carlos Seixas, que atribui uma “identidade única” ao FMM, alheia a mudanças políticas. “Para se preservar a sua identidade, é necessário que o caminho continue livre”, frisa o programador.
“A música ao vivo, que hoje é uma poderosa e lucrativa indústria, tornou-se mais entretenimento do que propriamente um tipo de atividade”, observa Seixas, realçando que a cultura “é condição prévia ao respeito mútuo”.
Satisfeito por ver entrar alguma música do mundo nos festivais mais pop rock, o programador identifica “uma necessidade de que as fronteiras cada vez sejam mais abertas aos outros”.
A música reflete “a diversidade de expressões culturais”, contribui para “a transmissão de valores”, “reforça a integração, a coesão social, e ajuda sobretudo a criar um espaço para o diálogo”.
Entre o primeiro alinhamento e este que aí vem, 20 anos depois, foi só “uma questão de ser resiliente”, porque “a própria comunidade em Sines recebeu o festival com um espírito de pertença”, recorda Carlos Seixas.
“Sempre acreditei que o festival se tornasse num evento incontornável naquilo que se faz ao nível da música ao vivo em Portugal e até também na Europa”, vinca, prometendo que o FMM “está para continuar”, enquanto houver “um mundo da música a descobrir”.
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