Eusébio, figura ímpar do futebol português e um dos melhores futebolistas de todos os tempos para a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFHHS) e o compositor e pianista de Jazz, Duke Ellington, distinguido com a Presidential Medal of Freedom (condecoração americana) e com a Legião de Honra (condecoração francesa), as mais altas distinções que um civil pode receber, surgem numa inédita fotografia, lado a lado, em janeiro de 1966.

A orquestra de Duke Ellington veio a Lisboa com Ella Fitzgerald e o ícone do jazz encontrou-se com o símbolo português nos camarins. A imagem, até agora desconhecida dos “dois monstros”, da “Pantera Negra” e do “The Duke”, é um dos muitos registos da exposição “Txim, txim, txim, pó, pó, pó, pó: 100 anos de Jazz em Portugal", que está desde esta quinta-feira patente na Biblioteca Nacional, em Lisboa, e que ali permanece até setembro.

Comissariada por João Moreira dos Santos, investigador que se tem dedicado a estudar o jazz em Portugal desde há duas décadas, de entre diversa e inédita documentação, a exposição reúne várias fotografias, como por exemplo a da primeira “jam-sessions” em Lisboa, em 1948. Além disso, são de referir os recortes de imprensa com as primeiras referências ao jazz, ou ao “ragtime”, nomeadamente os escritos de Alfredo de Mesquita no livro "A América do Norte", em 1916, e a definição de jazz pela boca do professor de dança Magalhães Pedroso numa entrevista de 1917 ao jornal A Capital.

“O acolhimento do chamado 'som da surpresa' não foi pacífico em Portugal, sobretudo entre as elites”, explicou João Moreira dos Santos. E pode-se ler que em 1924, o escritor Ferreira de Castro descreveu o Jazz como uma “música de selvagens, donde se levitam gritos de desbravadores de selvas, onde há mãos que rufam tambores como nos batuques africanos, mãos negras que tangem peles de veado distendidas sobre troncos ocos”. Quatro anos depois, Mário Azenha considerou-o “o triunfo dos negros ou a escarumbocracia” enquanto para o cronista Fernando Pamplona, na revista ABC, chegara a “hora preta”, com a emergência de um género musical em que sentia “a voz das árvores e dos macacos, a voz ébria, ruidosa, do sertão”.

Há ainda as primeiras referências ao Jazz em Portugal através de excertos de filmes nomeadamente nos filmes "Fátima Milagrosa" (1928), de Rino Lupo, e "A Castelã das Berlengas" (1930), de António Leitão.