“Vim apresentar a outra faceta da Paula Rego, a que não está representada nesta exposição. Acho que esta exposição precisava cá estar para fazer a ponte com o conhecimento que os franceses têm da pintura inglesa e portuguesa, mas vim apresentar a Paula Rego mais violenta, mais sexual, mais indisciplinada, mais empenhada social e politicamente”, disse João Pinharanda, que é também o diretor do Centro Cultural do Instituto Camões em Paris, em declarações à Lusa, no âmbito da conferência “Un portrait de Paula Rego”, inserida no contexto da exposição patente no Museu de L’Orangerie.

Travando conhecimento com Paula Rego em 1985, João Pinharanda apresentou na conferência organizada pelo museu francês o percurso da pintora através dos seus quadros desde os anos 1950 até à atualidade.

Antes desta exposição, apenas com participação numa exposição coletiva sobre a escola de Londres e duas exposições na delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, João Pinharanda considerou que o conhecimento sobre Paula Rego era “praticamente nulo” em França. Algo que se poderia explicar pela dificuldade de transposição dos temas tratados pela pintora portuguesa para a cultura francesa.

“A Paula Rego é difícil de ser entendida em França porque faz o cruzamento de duas culturas que são muito alheias ao racionalismo da cultura francesa. Por um lado, a parte portuguesa que é a cultura popular, a religiosidade, a superstição, a produção artesanal. E, por outro lado, a cultura inglesa. Ao juntar o que vem do irracional português com o ‘nonsense’ inglês, precisa de uma contextualização aqui em França que racionaliza, de alguma forma, o irracional. E esta exposição é o primeiro passo”, afirmou o conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em França.

A exposição “Os contos cruéis de Paula Rego” foi inaugurada em outubro e ficará patente até 14 de janeiro de 2019. O ciclo de conferências à volta da exposição incluirá ainda conferências sobre a Escola de Londres e os artistas portugueses exilados nos anos 1950 e 60.

A exposição “Os contos cruéis de Paula Rego” junta, no Museu de l’Orangerie, em Paris, todas as “mulheres, homens, bichos, muitos bichos” do imaginário da artista portuguesa, numa mostra que pretende dar “o reconhecimento que ela merece em França”.

A exposição é inspirada na infância, nos contos e na crítica social, tendo cerca de 70 obras de Paula Rego, desde grandes formatos em acrílico e pastel, a gravuras e bonecos que ela moldou no seu ateliê, em Londres.

“(A exposição) trata dos meus bonecos todos que eu fiz. É simplesmente isso. Mulheres, homens, bichos, muitos bichos, o porco, muita coisa”, descreveu à Lusa a artista de 83 anos, em outubro.

Paula Rego contou que a exposição é um universo de histórias, aquelas que a embalaram e aquelas que a assustaram em criança.

Na altura, também a diretora do Museu de L’Orangerie e comissária da mostra, Cécile Debray, disse aos jornalistas que “esta exposição é uma aposta porque Paula Rego é muito pouco conhecida em França”.

“Para mim, Paula Rego é uma artista imensa que não tem o reconhecimento que ela merece em França. É muito conhecida em Portugal, um pouco em Londres, mas não o suficiente. Para mim, ela merece a notoriedade de uma Louise Bourgeois e penso que isso vai acabar por acontecer”, explicou a diretora do museu que escolheu expor, também, obras de Louise Bourgeois, Goya, Edgar Degas, Odilon Redon, Édouard Manet, David Hockney e Ron Mueck com Paula Rego.

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