"Estamos perante uma bomba-relógio que vai fazer explodir uma diversidade de problemas para os quais é muito difícil antecipar soluções", declara Filipe Pereira, diretor do certame internacional que em 2019 reuniu em Espinho, no distrito de Aveiro, cerca de 250 filmes em competição e 800 participantes no seu programa formativo.

Após um primeiro conjunto de entrevistas com personalidades estrangeiras como a atriz norte-americana Melissa Leo, o realizador britânico Peter Webber e a produtora Christine Vachon, o FEST aposta agora num segmento nacional sobre o tema "A nova realidade da indústria cinematográfica depois da pandemia de covid-19", propondo-se assim refletir sobre "o estado atual e futuro" da indústria cinematográfica portuguesa.

As primeiras entrevistas disponibilizadas pelo festival nas suas páginas oficiais da plataforma de vídeos YouTube e das redes sociais Facebook e Instagram tiveram como convidados o presidente da Academia Portuguesa de Cinema, Paulo Trancoso, e a Maria João Mayer, produtora de filmes como "São Jorge" (2016), "Diamantino"(2018) e "Um dia frio" (2009).

Para quinta-feira, sexta e segunda está anunciada a divulgação de três outras entrevistas: a do presidente do Instituto do Cinema e do Audiovisual, Luís Chaby Vaz; a de Leandro Vaz da Silva, membro da Associação de Imagem Portuguesa e operador de câmara em "Color out of Space" (2019); e a de Rodrigo Areias, realizador e produtor.

As perspetivas desses profissionais sobre o futuro do cinema serão várias, mas Filipe Pereira identifica uma nota comum nos cinco entrevistados: todos estão conscientes de que, "se os profissionais do cinema já antes viviam muito de trabalho a trabalho, em grande precariedade, agora a situação vai ser ainda pior para a cultura em geral e para a Sétima Arte em particular".

O constrangimento mais evidente é a concorrência gerada pelas plataformas ‘online’ de visionamento de filmes: "A indústria cinematográfica já estava a perder para o ‘streaming', mas agora está-se a assistir a uma consolidação brutal desses serviços, o que até é curioso, porque parece replicar o que aconteceu depois da pandemia da crise espanhola, há 100 anos, quando os pequenos profissionais enfrentaram muitas dificuldades e isso deixou espaço a que se afirmassem os grandes estúdios de Hollywood".

Tal como nessa altura, a indústria americana começou a monopolizar todo o circuito e a acumular desde produtoras a empresas distribuidoras e salas de visionamento, o que obrigou os legisladores a imporem limites à sobreposição desses canais, também na atualidade haverá que exigir algumas restrições jurídicas às plataformas que, mesmo obtendo lucros gigantescos, "pagam percentagens ridículas aos produtores".

Filipe Pereira diz que esse controlo será inevitável porque, "neste momento, o poder do ‘streaming' ainda não é avassalador, mas tudo indica que o será daqui a 10 anos".

Outra previsão já a concretizar-se e a exigir soluções inovadoras é a ameaça às salas de cinema independentes: "Os grandes ‘multiplex’ dos Estados Unidos já começaram a abrir falência e ainda estamos no início do problema, portanto, para as salas mais pequenas, a situação é dramática e não lhes será fácil sobreviver a isto".

O novo coronavírus responsável pela covid-19 foi detetado na China em dezembro de 2019 e já infetou cerca de 4,9 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 323.000 morreram. Ainda nesse universo de doentes, mais de 1,8 milhões foram já dados como recuperados.

O "Grande Confinamento" a que o planeta vem sendo sujeito para contenção da presente pandemia levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos de existência: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona Euro e de 5,2% no Japão.

Para Portugal, o FMI antecipa este ano uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9%.

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