“A Mulher-Sem-Cabeça e o Homem-do-Mau-Olhado” é o resultado de um processo criativo de cinco anos, uma “obra única, de grande riqueza e fulgor literário, recorrendo à tradição narrativa da oralidade e do fantástico”, em que o autor recoloca o humano e a história numa dimensão mitológica que distorce, para mostrar melhor e explorar aquilo que é a natureza humana, descreve a editora.

Com esta obra de ficção, Gonçalo M. Tavares, um dos escritores mais traduzidos da literatura portuguesa, dá início a um novo mundo literário ao qual chamou “Mitologias” e que estará disponível nas livrarias a partir de dia 20.

Este mundo das Mitologias é descrito por Gonçalo M. Tavares como “um universo que será bem largo”, onde as personagens se movem em tempos indistintos e passarão de uns livros para os outros.

“A Mulher-Sem-Cabeça e o Homem-do-Mau-Olhado” “é uma ficção que se passa num tempo mitológico. Um tempo que até pode tocar em acontecimentos da história que reconhecemos, mas que os recoloca numa energia narrativa completamente diferente – em que não interessam datas, nem o antes nem o depois”, explica o escritor, na apresentação da obra.

Neste “novo mundo literário” há também uma “certa velocidade narrativa”, a ideia de que “o destino avança sem análises, porque não há tempo; as personagens agem ou reagem ao que vai acontecendo”, continua.

“É um regresso ao ‘Era uma Vez’ colocado num tempo mítico, que mistura datas e troca ordens narrativas, num espaço sem localização geográfica. Há uma suspensão das leis físicas normais. Há uma outra lógica, outras leis narrativas. É um espaço de liberdade”, acrescenta Gonçalo M. Tavares.

O autor esclarece que não pretende, com esta obra, transmitir qualquer tipo de mensagem, podendo o livro ter diferentes interpretações, que só cabem ao próprio leitor.

“Eu apenas quis escrever o que escrevi. Não há simbolismos, nunca uso simbolismos. Uma coisa não quer significar outra. Os acontecimentos são o que são. Aqui estamos diante de uma narrativa pura, de um contar de acontecimentos. O centro destas mitologias é, em parte, a energia da narrativa tradicional que relata o que aconteceu sem análises. As repetições, as lengalengas, tudo isso me interessa aqui”, afirma.

Nestas mitologias, animais, humanos, natureza, objetos, máquinas e espaços são colocados ao mesmo nível e os próprios nomes das personagens estão muitas vezes ligados às suas ações e à sua aparência física.

A exceção é feita com cinco meninos que têm nomes próprios e que se constituem como uma resistência do humano naquele mundo mítico. Estes “Cinco-Meninos” serão, em livros seguintes, personagens centrais destas Mitologias.

O enquadramento que Gonçalo M. Tavares faz destas Mitologias na sua obra é de algo “paralelo ao Reino”, mas num espaço mitológico e do mundo do impossível.

No entanto, o autor considera “A Mulher-Sem-Cabeça e o Homem-do-Mau-Olhado” também um estudo “sobre o mal, sobre a desordem, sobre as tentações do humano”, embora com uma lógica diferente da lógica do mundo real.

O livro conta a história de “um homem de mau-olhado” que sai de casa para ver o mundo e cruza-se com homens, objetos, animais e máquinas, enquanto uma revolução avança, um homem alto exige imobilidade, outro homem está dividido em dois, mães procuram filhos e filhos gritam pela mãe. Não se sabe como tudo aconteceu, mas no final, alguém é castigado de forma exemplar.

Ao longo de 15 anos de escrita, Gonçalo M. Tavares ganhou mais de 20 prémios, e teve várias outras nomeações, os seus livros estão publicados em mais de 50 países e traduzidos em 36 línguas.