Foi em 08 de outubro de 1998 que a Academia Sueca anunciou que o Prémio Nobel da Literatura tinha sido atribuído ao romancista português, então com 76 anos, nascido na povoação de Azinhaga, concelho da Golegã, em 16 de novembro de 1922.

“Fizemos à volta de 200 mil livros, numa máquina nova que tínhamos acabado de instalar”, disse hoje à agência Lusa Ana Maria Ribeiro, dona da Tipografia Lousanense, fundada em 1885 pelo seu bisavô, o republicano Júlio Ribeiro dos Santos.

Na área dos livros, a Caminho, editora de Saramago, e a Almedina, especializada em obras jurídicas, estavam entre as principais clientes da empresa da Lousã, no distrito de Coimbra, que na época empregava 65 pessoas, mantendo atualmente a laboração com cerca de 25 trabalhadores.

“Era muito difícil imprimir na altura tantos livros, mas queríamos fazer o melhor que pudéssemos”, recordou Ana Ribeiro, que tem vindo a transferir responsabilidades na gráfica para os três filhos: Filipa Torres, Ana Torres e Tiago Mendes.

A Tipografia Lousanense é gerida há 137 anos por membros de cinco gerações da família Ribeiro, que nas primeiras décadas de atividade esteve ligada à edição dos jornais republicanos Commercio da Louzã e Alma Nova, entre outros.

“Perante sucessivas encomendas da Caminho, foi muito complicado fazermos um pouco de cada título de José Saramago. Em dois meses, porém, conseguimos organizar tudo”, regozijou-se Ana Ribeiro.

Sublinhou que a pressão era maior porque estava a aproximar-se o Natal, época que as livrarias aproveitam habitualmente para aumentar as vendas, neste caso com as obras mais procuradas do único Nobel da Literatura português.

“Lembro-me de trabalharmos nas impressões até muito tarde. Houve dias em que saímos perto da meia-noite”, contou.

Ana Ribeiro era na altura a sócia gerente da Tipografia Lousanense, numa sociedade com os pais, Júlio Ramos Ribeiro dos Santos e Marília Galhardo, entretanto falecidos.

Cada livro de Saramago saía da vetusta gráfica da Lousã com uma cinta a destacar que o autor era, nesse ano, o Prémio Nobel da Literatura.

Na Tipografia Lousanense, foram igualmente produzidas obras de Manuel Tiago (Álvaro Cunhal), Mia Couto, Pepetela e Luandino Vieira, entre outros autores lusófonos.