Magistrada, autora da lei francesa de despenalização da interrupção voluntária da gravidez, instituída na década de 1970, feminista, republicana, Simone Veil foi a primeira mulher a assumir as funções de ministra de Estado, em França, assim como a primeira a presidir o Parlamento Europeu.
Nascida em julho de 1927, no seio de uma família judia e laica, foi deportada em 1944 para o campo de extermínio nazi de Auschwitz. De toda a família, apenas três irmãs sobreviveram.
“Penso que sou uma otimista, mas não tenho ilusões desde 1945”, diria mais tarde Simone Veil, que sempre alertou para as “derivas pela extrema-direita” e que confiava na construção europeia, para superar os totalitarismos: “Somos todos responsáveis pelo que nos unirá amanhã”.
Antiga curadora da Fundação Champalimaud, Simone Veil terá a escultura que lhe é dedicada, da autoria de Maria Ana Vasco Costa, na Praça Europa, em Corpo Santo, junto ao rio Tejo. A inauguração conta com o ministro português da Cultura, Pedro Adão e Silva.
A iniciativa faz parte do programa de encerramento da Temporada, a decorrer até domingo, em Lisboa, que inclui ainda, no dia de hoje, uma sessão no Museu Nacional de Arte Antiga, que passa a exibir o quadro “Retrato do Artista”, de Nicolas Poussin, emprestado pelo Louvre, a apresentação da instalação “Querido Futuro Eu”, do artista francês Irvin Anneix, na Galeria da Boavista, e a “Monumental Tour”, uma festa de música eletrónica com ‘videomapping’, a decorrer à noite na Praça do Município.
A Temporada Cruzada encerra no domingo com a última apresentação da peça de teatro “Ça ira (1) Fin de Louis”, do dramaturgo e encenador francês Joël Pommerat, no Teatro Nacional D. Maria II. Trata-se de uma ficção política inspirada na Revolução Francesa, que aborda relações de poder e dos cidadãos com os seus representantes, para falar de aprendizagem e dificuldades de estabelecimento da democracia.
Iniciada em fevereiro, a Temporada promoveu mais de 200 iniciativas culturais nos dois países, que mobilizaram mais de três milhões de pessoas, segundo os números mais recentes, divulgados no início de outubro.
Inaugurada com um concerto da pianista Maria João Pires, na Philharmonie de Paris, a programação estendeu-se por diferentes cidades francesas e portuguesas, destacando-se iniciativas como a mostra dedicada a Maria Helena Vieira da Silva, no Museu Cantini, em Marselha, e exposição do Renascimento Português, no Museu do Louvre, o projeto conjunto de Pedro Costa, Rui Chafes e Paulo Nozolino, no Centro Pompidou, assim como a programação de diferentes peças do encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues, que este ano assumiu a direção artística do Festival de Avignon, como “Catarina e a beleza de matar fascistas”, “Coro dos amantes” e “Na medida do impossível”.
A Temporada Cruzada resultou de uma iniciativa de diplomacia bilateral entre Portugal e França, com o objetivo de aprofundar o relacionamento cultural entre os dois países. Presidida pelo programador e encenador luso-francês Emmanuel Demarcy-Mota, teve como comissária geral, pela parte portuguesa, Manuela Júdice, secretária geral da Casa da América Latina e, pela parte francesa, a programadora Victoire Bidegain Di Rosa.
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