
No segundo episódio do podcast A Revolta: moções que mudaram governos, Francisco Sena Santos recorda a moção de censura que derrubou o primeiro Governo de Cavaco Silva, altura em que Mário Soares como Presidente da República. Uma moção que abriu o caminho a eleições antecipadas, a 19 de julho de 1987, seguidas de duas maiorias absolutas para o PSD.
Num mundo de transformações, novos movimentos reclamavam a liberdade e recusavam divisão bipartidária do mundo, regido apenas pelas grandes potências americanas e russas. Por momentos, novas forças europeias surgiam com respostas para as crescentes tensões mundiais.
Em Portugal, em 1983, o único governo de Bloco Central de Mário Soares, do PS, precisava de Carlos Mota Pinto, PSD, para resolver a crise económica e política do país, e aproximá-lo da Europa. Mas foi difícil controlar a escalada do caos financeiro, com a inflação acima dos 20% e uma reforma fiscal do FMI avassaladora.
A contestação na rua ia do PCP ao CDS, havendo inclusive dissidentes dentro do partido que, num último momento, levaram à demissão de Mota Pinto em 1985. Cavaco Silva assumiu assim a liderança do partido ainda nesse ano, no Congresso da Figueira, e acabou com o Bloco Central. Dois anos depois, o FMI já tinha deixado o país e o governo acabava de concluir o processo de adesão formal à CEE (Comunidade Económica Europeia).
Nas legislativas de 1985, Cavaco ganha sem maioria absoluta e tem mais dificuldades em governar. Surge então o PRD com uma percentagem surpreendente de votos. Sob a imagem e patrocínio de Ramalho Eanes, o partido do presidente, de centro-esquerda, conjugava o espírito do 25 de abril e do 25 de novembro e recusava o bipartidarismo central de PS e PSD.
Nesse ano, a conflitualidade no Parlamento, a “falta de transparência e profissionalismo”, e uma descrença cada vez maior nas instituições, forneceram o pano de fundo para o PRD avançar com uma moção de censura, e deixar cair o governo.
No entanto, as eleições antecipadas a 19 de julho deram a Cavaco Silva duas maiorias absolutas, as primeiras na história da democracia.
A primeira temporada de A Reviravolta focou-se em momentos que mudaram eleições, em três momentos específicos na relação entre a esquerda e a direita e pode ser ouvida aqui.
Recordemos que por essa altura o SAPO24 se focou no duelo entre Ramalho Eanes e Soares Carneiro, em 1980, no histórico embate entre Mário Soares e Freitas do Amaral e, uma década depois, o fim da maioria absoluta de Cavaco Silva. Como três momentos em cada uma destas eleições decidiram o futuro da política e do país.
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A Reviravolta é um podcast com produção e ideia original da MadreMedia. A pesquisa, texto e voz é de Francisco Sena Santos.
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