
As marcas de moda podem reservar a sua sósia digital para sessões de fotografias sem que precise viajar. Uma solução que "economiza tempo", disse à AFP a manequim, que está a desfilar pessoalmente na London Fashion Week, que terminou esta segunda-feira.
Na moda, a IA permite gerar visualizações em sites de comércio eletrónico ou campanhas publicitárias sob medida a um custo menor. Embora essa tecnologia abra novas possibilidades e dê origem a novas profissões, os críticos temem que a IA também prejudique profissionais como modelos, maquilhadores e fotógrafos, e opõem-se à beleza artificial e padronizada.
"Espiral infinita de opções"
Num vídeo, modelos masculinos esculpidos flexionam os músculos ao lado de mulheres glamourosas, tendo como pano de fundo piscinas de mármore e espelhos dourados. Mas nada disso é real. Esta campanha de Natal foi gerada inteiramente com o uso de IA pelo estúdio Copy Lab para a marca sueca de roupas íntimas CDLP.
"Somos uma empresa pequena que não tem dinheiro para alugar uma casa em Beverly Hills", diz um dos cofundadores da empresa, Christian Larson.
De acordo com Larson, a fotografia "real" tem as suas limitações. "Com o filme, só se pode tirar um certo número de fotos, o sol põe-se, a luz desaparece com ele e o orçamento esgota-se", disse Larson à AFP. "Com a IA, estamos numa espiral infinita de opções", acrescenta.
A montagem de uma campanha publicitária envolvendo uma sessão de fotos nos Alpes franceses para óculos de ski normalmente levaria vários meses e poderia custar 30 mil euros, mas pode ser feita virtualmente por apenas 500 euros em poucos dias, disse Artem Kupriyanenko, citando uma campanha realizada pela sua empresa de tecnologia Genera.
A Genera, com sede em Londres e Lisboa, tem um catálogo de 500 modelos gerados por IA, dos quais diz possuir os direitos de autor.
Os avatares podem ser personalizados pelos clientes. "Podemos criar qualquer formato de corpo, qualquer género, qualquer etnia", diz Keiron Birch, ex-funcionário da Calvin Klein e atual diretor de arte da Genera.
A Inteligência Artificial tende a criar um tipo de rosto distinto, que difere de gerador para gerador, diz Carl-Axel Wahlstrom, cofundador do Copy Lab, um "estúdio criativo de IA" com sede em Estocolmo.
O MidJourney, por exemplo, tem uma tendência a gerar modelos com lábios mais cheios. Essas modelos são incluídas em bancos de imagens, muitas vezes retocadas, refletindo uma estética "branca e ocidental", explica Carl-Axel Wahlström, cofundador do Copy Lab.
Para obter resultados menos genéricos, o ex-consultor de publicidade refina as descrições que fornece aos mecanismos de inteligência artificial.
Controlo do uso da IA
Alexsandrah Gondora lamenta que "algumas marcas usem imagens criadas a partir de bancos de dados extraídos da Internet e não precisem de pagar por um modelo". Outras poderiam praticamente duplicar os melhores manequins sem o seu conhecimento.
A Fashion Workers Act (Lei dos Trabalhadores da Moda), que entrará em vigor dentro de alguns meses, visa abordar estas situações, permitindo que os modelos controlem o uso de IA na reprodução da sua imagem. Mas a sua aplicação prática parece complicada.
Alexsandrah Gondora é paga pelos serviços do seu alter ego digital e tem a palavra final sobre o resultado.
O mesmo acontece quando ajuda a dar vida a Shudu Gram, uma top model negra gerada por IA. Essa personagem virtual, criada em 2017 e anunciada como a "primeira supermodelo digital do mundo", é seguido por 237.000 contas no Instagram.
Alexsandrah Gondora e outras modelos emprestam as suas características em diferentes ocasiões.
Shudu, por exemplo, apareceu na capa da revista Vogue australiana, “interpretada” por Alexsandrah Gondora.
Usada de forma ética, a IA não priva modelos de diversas origens de oportunidades, diz a londrina, que até afirma que a tecnologia lhe“abriu algumas portas”.
Semana de Moda de Milão começano meio da crise do setor de luxo
A Semana de Moda de Milão, que começa esta terça-feira, tentará reavivar um mercado em baixa com as novas coleções femininas outono/inverno 2025-2026, num contexto de crise no setor de luxo.
A grande festa começará à noite com a Gucci, símbolo desta recessão: o proprietário, o grupo de luxo francês Kering, anunciou há 15 dias que os lucros cairam em 2024, afetados pela queda drástica de 23% nas vendas da sua principal marca, que enfrenta dificuldades há vários anos.
A saída do seu diretor artístico Sabato de Sarno em 6 de fevereiro, depois de apenas dois anos no cargo e vinte dias antes do desfile, teve um efeito explosivo.
"A fase de transição acabou. Estamos agora na fase de retomada", que "envolve uma nova direção artística", disse o presidente da Kering, François-Henri Pinault, durante a apresentação dos resultados anuais, sem revelar quem sucederá Sabato de Sarno.
O grupo de luxo francês, que também é dono da Saint Laurent e da Bottega Veneta, viu o seu lucro líquido cair 62% no ano passado, para 1,13 mil milhões de euros. A receita caiu 12%, para 17,19 mil milhões de euros.
Setor em crise
Para o presidente da Câmara Nacional da Moda Italiana, Carlo Capasa, a Semana de Moda de Milão pretende "responder ao momento complexo que o setor enfrenta" através da "criatividade, pragmatismo e flexibilidade, que sempre caracterizaram o Made in Italy".
Globalmente, espera-se que apenas um terço das marcas de luxo cresçam até 2024, segundo uma análise de janeiro da Bain & Company.
O setor de moda italiano, que inclui óculos, joias e beleza, gerou uma faturação de pouco menos de 96 mil milhões de euros em 2024, uma queda de 5,3% em relação a 2023, segundo a Câmara Nacional da Moda.
Ausência de Bottega Veneta
O governo italiano destinou mais de 110 milhões de euros em 2024 e 2025 para enfrentar a crise de emprego no setor da moda.
Enquanto isso, a festa continua a todo vapor em Milão, com cerca de 153 eventos, incluindo 53 desfiles, até domingo.
Entre as datas importantes está o centenário da casa Fendi com um desfile de aniversário (masculino e feminino) liderado pela sua diretora artística interina, Silvia Venturini Fendi. A grife canadiana DSquared celebrará o 30º aniversário, enquanto a Kway celebrará o 60º.
Prada, Giorgio Armani, Versace, Max Mara, Ferragamo e Dolce&Gabbana estarão presentes, mas Bottega Veneta não aparecerá nas passarelas, adiando para setembro o primeiro desfile idealizado pela nova diretora artística, Louise Trotter, após a saída de Matthieu Blazy para a Chanel.
*Com AFP
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