A lista de compras na mão revela que o trabalho de casa foi feito, mas os olhos também “comem” e, como tal, a abóbora, com mais de 12 quilogramas, isolada na banca do mercado, foi a primeira aquisição dos quatro elementos.

Ao longo de uma hora, os músicos visitaram o mercado municipal de Viseu, onde também despertaram curiosidade.

A vendedora ofereceu-se para partir a abóbora, até para facilitar o transporte, mas a ideia era seguir inteira, afinal, “ela vai virar um instrumento de precursão”, explicou a tradutora que acompanha a Orquestra Vegetal de Viena, que está em Viseu pela primeira vez.

“Se é para fazer um instrumento musical tinha lá uma abóbora em casa muito boa, que dava para fazer um lindo violino”, disse, apressada, a vendedora do lado, que não escondeu o interesse na conversa vizinha.

À abóbora juntaram cebolinho, espinafres, salsa, cebolas brancas e roxas, batatas, que eram escolhidas pela sua forma e tamanho, cabeças de alho, cogumelos e dois grandes limões, afinal “na Áustria são mais pequenos, não são assim tão grandes”, soltou um dos elementos, que esclareceu que a ideia era para usar o sumo na sopa e, “à partida, não será para nenhum instrumento”.

Os clientes do mercado, que ao sábado são sempre mais do que nos dias de semana, foram prestando atenção às conversas e alguns, mais afoitos, questionaram a veracidade da orquestra: “vão mesmo tocar com os legumes?”.

Incrédula, uma senhora já de alguma idade, prometeu ir, às 21:00, ao Parque Aquilino Ribeiro “ver e ouvir se aquilo era mesmo verdade”.

Compras feitas, os quatro elementos juntaram-se a outros tantos, no parque da cidade, para colocarem mãos à obra e, dali, criarem “entre 40 a 50 instrumentos de sopro, percussão e de cordas”, explicou o vereador da Cultura da Câmara de Viseu.

Jorge Sobrado acompanhou o périplo pelo mercado e, aos jornalistas, admitiu que a autarquia já “tinha comprado o grosso dos legumes, cerca de 400 quilogramas”, com base numa lista fornecida pela orquestra, até porque desta compra “vão ser feitas duas panelas enormes de sopa para distribuir no fim do concerto”.

“Precisamos de muitos legumes, principalmente alface, mas muitos legumes, no geral cerca de 50 quilos, para fazermos perto de 50 instrumentos e isto leva o dia todo, porque desde as compras, mais umas duas horas para fazer os instrumentos e mais duas para os afinar”, explicou um dos músicos.

Jörg Piringer contou também que “o mais importante é a frescura” dos produtos, mas não só, “também tem a ver com o tamanho, porque depende sempre da variedade do instrumento que se quer construir”.

“É difícil dizer qual a prioridade na hora de comprar, mas no geral têm de ser frescos e de boa qualidade”, acrescentou Jörg Piringer, que defendeu que este é um concerto “especial": "Afinal, fazer instrumentos com vegetais já é só por si especial, por isso, a música só pode ser especial”.

O espetáculo tem na base música clássica, jazz e contemporânea, mas “com arranjos da orquestra” e as pessoas irão conhecer “alguns ‘covers’ de músicas” que os elementos também trabalham para emprestar uma “outra sonoridade” a alguns êxitos.

“Isto pode ser bastante difícil, porque preparamos um instrumento e depois não soa como queremos e temos de recomeçar, porque depende muito do vegetal”, admitiu Jörg Piringer, que também frisou que para os músicos “já não é assim tão difícil, porque há 20 anos” que se dedicam a isto.

Em cima da mesa de trabalho há todo o tipo de vegetais, tubérculos, legumes, frutas e um sem fim de utensílios de cozinha e de instrumentos, como os vários berbequins espalhados na banca e que são usados para furar, por exemplo, as cenouras que dão origem às flautas.

À noite, sobem ao palco os oito elementos, quatro mulheres e quatro homens, que do público esperam “aceitação e que se aproximem” da orquestra, até porque, lembrou Tamara Wilhelm, o concerto é ao ar livre.

Na bagagem, a orquestra não traz instrumentos, carrega os bens pessoais, roupa preta, que é a “farda de trabalho”, e os utensílios para trabalharem os produtos alimentares, a fim de criarem a sua arte musical. No domingo à tarde, os elementos promovem um ‘workshop’ para a população que tenha interesse neste ofício.