A exposição foi organizada pelo The Metropolitan Museum of Art (The Met) de Nova Iorque e pelo Grand Palais, em colaboração com a Fundação Irving Penn, para marcar o centenário do nascimento de "um dos maiores artistas do século XX", disse à Lusa Jeff L. Rosenheim, um dos comissários da exposição e curador responsável pelo departamento de fotografia do The Met.
"É um dos maiores artistas do século XX que escolheu a fotografia depois de ter estudado outras artes. Penn dedicou-se a realizar as melhores fotografias possíveis de naturezas mortas, retratos, moda, beleza e trouxe à fotografia um incrível conhecimento de equilíbrio e forma, cor e luz. Ele era particularmente sensível a coisas a que a maioria dos fotógrafos não eram, como o desenho, as linhas", descreveu o comissário.
Ainda que seja conhecido "essencialmente como o ícone da fotografia de moda desde meados do século XX até ao final do século", a exposição apresenta imagens experimentais de Irving Penn, como uma série de mulheres nuas com volumes generosos em composições atípicas e fotografias em grande formato de beatas de cigarros em grande plano.
"Sim, há um classicismo, mas também um modernismo e até um surrealismo em muitos casos. Sim, há uma luz clássica, mas há também uma apreciação moderna de novas formas de fazer um retrato, novas formas de realizar um nu, uma imagem de moda ou uma natureza morta. Há retratos onde as paredes não estão limpas, o chão tem fibras de carpete. Ele fotografava pessoas conhecidas como se fossem pessoas comuns num ambiente um pouco surrealista", explicou Jeff L. Rosenheim.
Ao longo das salas do Grand Palais, de forma cronológica e temática, são retratados 70 anos da carreira de Irving Penn, com 238 fotografias reveladas pelo próprio artista - a grande maioria a preto e branco - alguns desenhos, várias capas da revista Vogue e a cortina que lhe serviu de pano de fundo ao longo de meio século.
A exposição começa com as primeiras naturezas-mortas que Irving Penn fotografou para a revista Vogue a partir de 1943 e que ilustram a sua forma de fazer entrar a pintura na fotografia, como "Beef Still Life" e "Still Life with Watermelon". As naturezas mortas regressam, quase no fim da mostra, com restos de lixo, frutos podres e uma caveira a evocar as 'vanitas' da pintura holandesa.
Há "Retratos Existenciais" de personalidades do mundo da cultura, realizados entre 1947-48 para a Vogue, de Salvador Dali a Marcel Duchamp, de Alfred Hitchcock a Truman Capote, e "Retratos Clássicos", realizados nos anos 50 e 60, com celebridades como Audrey Hepburn, Pablo Picasso, Yves Saint Laurent e Francis Bacon, retratados em cenários despojados de adornos, sob um fundo neutro.
"A arte moderna europeia e a arte clássica estavam a ser mostradas nos museus em Nova Iorque e ele estava lá quando Picasso e Matisse emergiram. Mas também gostava de arte antiga, adorava Rembrandt. Ele estudou a história do retrato e o uso da luz. Ele usava a luz natural, de uma janela do norte, algo que aprendeu de Rembrandt", continuou o comissário.
Destaque, ainda, para a série de fotografias realizadas em dezembro de 1948, em Cuzco, no Peru, onde os habitantes, com trajes tradicionais de lã, se transformaram nos modelos de um fotógrafo cada vez mais atento aos detalhes das texturas, padrões dos tecidos e simplicidade do cenário.
São também apresentadas imagens "En Vogue" que marcaram a história da moda e da fotografia, realizadas a partir de 1950, quando Penn foi enviado para Paris pela revista Vogue e trocou as passarelas por um pequeno estúdio no último andar de um prédio antigo onde chegava a luz natural.
Paris foi determinante para o artista que também retratou pasteleiros, peixeiros e carteiros na série "Pequenas Profissões", todos fotografados com o mesmo pano de fundo, a cortina que encontrou em Paris e que utilizou ao longo de toda a carreira.
"Ele trabalhava de forma paciente, era realmente um artista de atelier enquanto a maioria dos fotógrafos do século XX, incluindo alguns que ele adorava, fizeram todas as suas fotografias na rua", acrescentou Jeff L. Rosenheim, sublinhando que ele era como "um velho mestre da pintura" que "queria controlar tudo no ateliê", tendo transformado as suas tendas em estúdios nas várias viagens que fez.
Irving Penn trabalhou mais de 60 anos na revista Vogue e "fez mais capas de revista que qualquer outra artista da sua era", acrescentou o comissário, considerando que esta exposição "é uma bela lição sobre o trabalho de revelação analógica", porque as tiragens foram feitas "por um mestre e têm uma qualidade incrível".
"Ele era um grande criador de imagens, ele compreendia as formas, mas também revelava as próprias fotografias. Esta exposição é obrigatória para quem se interesse pela história da fotografia, porque ele imprimia o seu próprio trabalho, ele era um mestre da fotografia mas também um mestre da revelação", afirmou.
A exposição Irving Penn esteve, em formato mais reduzido, no The Metropolitan Museum of Art entre abril e julho deste ano, seguindo para a Fundação C/O de Berlim de 24 de março a 01 de julho de 2018 e para o Instituto Moreira Salles de São Paulo, de 21 de agosto a 25 de novembro de 2018.
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