Com direção de Rui Catalão, o espetáculo abre o ciclo “Portugal em vias de extinção”, a decorrer no teatro nacional, até março, que integra espetáculos de teatro, dança, concertos, oficinas, conferências e debates.
Sem qualquer formação em jornalismo ou representação, um elenco composto por doze pessoas funciona como uma redação, com ideias e materiais a serem discutidos em grupo, com o objetivo de aprender a observar, seguir acontecimentos, comunicar, verbalizar histórias e testemunhos.
A escolha do elenco dependeu dos próprios participantes desta oficina de trabalho, explicou hoje à imprensa Rui Catalão, no final do ensaio da peça, que vai ser representada na sala Estúdio.
Um dos pressupostos para o espetáculo foi fazer com que o elenco aproveitasse também o anonimato de cada um, levando para o palco histórias e situações que viveram na realidade.
E a realidade pode ser dura como um penedo. Por isso, é um penedo que está em palco, constituindo o único elemento cenográfico da peça.
O resto passa pela mesa onde se encontram os “jornalistas/atores” e, pontualmente, numa personagem de cara tapada e vestes até aos pés, que vai cruzando o palco.
“Não me interessa abalar a sociedade, interessa-me mais falar sobre as realidades individuais, porque com estas também estamos a falar de convenções ou, melhor, de convenções quebradas e ultrapassadas”, explicou Rui Catalão.
No elenco que funciona como uma redação estão Ana Teresa, Beatriz Garrucho, David Silva, Fábio Assunção, Jéssica Ribeiro, Joãozinho da Costa, João Esteves, Raquel do Vale Martins, Rolaisa Embaló, Rui Catalão, Sónia Castro e Tiago Martins.
A cenografia é de Sara Franqueira e os figurinos de Carlota Lagido. O espetáculo é um projeto financiado pela APAP – Performing Europe 2020, no âmbito do programa Europa Criativa da União Europeia.
“Portugal em vias de extinção” é um ciclo que tem por objetivo olhar e debater a desertificação de Portugal, a “gentrificação” dos bairros, a impossibilidade de passagem de testemunho de artesanatos tradicionais a novas gerações, por falta de aprendizes, o desaparecimento de indústrias que compunham a identidade das comunidades e uma ideia de jornalismo que o digital e a assimilação da economia pelo mundo financeiro asfixiam.
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