Caro leitor, apenas deve prosseguir esta leitura no caso de estar disposto a soltar umas gargalhadas e ler histórias fantasiosas. De quem estamos a falar, afinal? O Jovem Conservador de Direita é uma personagem fictícia, criada no Facebook, que odeia pobres, venera os mercados, pretende anexar o CDS ao PSD e roda já na alta finança como consultor da Goldman Sachs. Lá para a frente falaremos da relação que tem com Durão Barroso. Ou com Nuno Melo, essa mais complexa.

A entrevista surge a propósito do lançamento do seu primeiro livro, “A Era do Doutor - Retrato do génio que vai salvar Portugal”. Pensámos numa abordagem combativa, que o levasse à contradição e desvendasse as falácias do modelo social que quer implementar (para já) em Portugal. Mas ficámos de tal forma deslumbrados com a sua persona (e quem controla alarmes de edifícios muito mais facilmente conseguiria domar jornalistas) que o melhor é prestar-lhe reverência e deixá-lo brilhar. Mais uma vez.

Antes de passar ao que nos trouxe aqui, precisamos só de esclarecer uma questão que nos tem intrigado. Por que razão não há relatos sobre o Doutor Jovem Conservador de Direita no livro “Eu e os Políticos” de José António Saraiva? Está a chantagear de alguma forma o arquiteto para que não publique nada sobre si?

Jovem Conservador de Direita: Não, isso foi falado abertamente. O arquiteto Saraiva é um amigo próximo e telefonou-me na altura em que estava a escrever o livro. Perguntou-me se podia falar daquele caso que corre na internet que envolve um gnu, dois anões e três migrantes da Serra Leoa. Em primeiro lugar, eu disse-lhe que aquelas pessoas não são de Serra Leoa, são nitidamente da Mauritânia, e é tudo uma montagem escabrosa para caluniar a minha pessoa. Portanto, ele optou por não incluir.

 Achei curioso foi ele não incluir o famoso episódio que o envolve a ele. Porque ele é conhecido nas redações, como deve saber, como o papa-flamingos, por causa do famoso caso de andar sempre com o flamingo atrás. Dizia-se que podia algo maior que a simples relação entre um flamingo e o seu proprietário. E ele garantiu-me que não, é mentira. Havia um flamingo mas não era um flamingo, era uma flaminga. A relação foi meramente platónica, não teve nada de físico. Mas sobre o livro do arquiteto Saraiva, é óbvio que é uma porcaria, é óbvio que ele não devia ter escrito o que escreveu sem pedir autorização às pessoas, ainda por cima muitas delas já tinham falecido, mas é o mercado. O mercado gosta de porcaria, o arquiteto Saraiva deu-lhes porcaria.

Teve oportunidade de dizer ao arquiteto que o livro era uma porcaria? E parabenizá-lo por isso?

JCD: Sim, sim, claro, só merece os parabéns por saber explorar o mercado que existe. Jamais leria aquilo, e jamais apoiaria aquilo, mas nunca vou criticar ninguém que está a fazer pela vida, mesmo que isso envolva estar a remexer em lixo.

Mas o mercado não gosta só de porcaria, a avaliar pelo sucesso do livro do Doutor Jovem.

JCD: Óbvio que não. É o contraponto. Não sei se leu, o estagiário do arquiteto Saraiva escreveu uma crónica em que faz um elogio público ao livro do arquiteto, dizendo que é uma obra-prima, e por sua vez ao meu livro, que saiu no mesmo dia, fez uma crítica feroz, acusando-me de ser uma arma do Bloco de Esquerda.

Mas também li um elogio nessa crónica, quando José Lemos Esteves escreveu que «as crónicas do Doutor Jovem Conservador de Direita têm muito de política e muito pouco de humor». Ainda fica corado ao ler elogios destes?

JCD: Não, ainda bem que ele percebeu que isto é um livro de política, só não percebeu foi o ângulo. O meu livro não tem piada nenhuma e é bom, foi feito para não ter piada, até porque eu não estou para perder tempo com coisas menores como humor e comédia. Quem tem mais que fazer expõe os seus assuntos de forma séria e cuidada, e não necessita de recorrer a esse tipo de figuras de estilo ridículas como a ironia e o sarcasmo, que só servem para desviar as atenções do que é importante.

Mas não deixa de ser verdade que o Doutor granjeia uma grande admiração junto de vários políticos de esquerda, como é o caso da Doutora Marisa Matias, que apresentará o seu livro no Porto. Estamos perante um paradoxo? Ou é um sinal de que, acima de esquerda e direita, existe já a ideologia Jovem Conservador de Direita?

JCD: Ainda bem que diz isso. A Doutora Marisa Matias é nossa admiradora, é um facto. É uma senhora muito bonita, muito popular e é normal que goste de mim mesmo tendo uma ideologia completamente diferente da minha. E a questão é muito simples: o problema das senhoras de esquerda é que são de esquerda porque convivem com muitos homens moles. É natural que quando aparece um jovem pujante, bonito, carismático, com a minha presença, elas sintam alguma atração e penso que tem a ver com isso.

Deixe-me só contar-lhe um episódio: a Doutora Marisa Matias, posso já dizer, é uma amiga pessoal. Quando preparei a festa surpresa do Doutor Nuno Melo no Parlamento Europeu enviei-lhe um e-mail para ela fritar croquetes e ela fê-lo com muito cuidado. Ela também está para apresentar o meu livro no Porto porque vou fazer-lhe um elogio público por ter ajudado a direita nas Presidenciais e a mim pessoalmente.

Permita-me uma pergunta de âmbito mais pessoal, porque atrás de um político vive uma pessoa com sentimentos. Sente alguma mágoa pelo afastamento do Doutor Nuno Melo? Se fosse agora, faria alguma coisa diferente?

 JCD: Eu não faria algo diferente porque eu estou correto e o Doutor Nuno Melo está errado. Ele escusava de ter tido uma atitude que eu diria mesquinha. Para alguém que é de direita não esperava que fosse tão estúpido. Verdade seja dita, uma pessoa que se dedicou sempre a cuidar do Doutor Nuno Melo, a dizer que as coisas que ele dizia (às vezes muitas barbaridades) estavam bem ditas… E mesmo assim, a partir do momento em que o ultrapasso em likes no Facebook, ele bloqueia-me. Facebook, Twitter… Não me responde aos e-mails. Todos os domingos lhe mando um e-mail a contar o meu sonho, que eu sonho com ele aos sábados à noite e ao domingo de manhã está lá o e-mail. Ele nunca se dignou a responder. Mas somos adultos ou não?

Isso ainda o magoa?

JCD: Todos os dias. Enviei-lhe o meu livro num cabaz junto com mon chéries, três abacaxis e um vinho que o faz arrotar muito. Ele começa a cantar a Internacional em arrotos e diverte toda a direita! E não compreendo como é que o Doutor Nuno Melo não retribui a uma pessoa que se dedica diariamente a ele. Convém também atacar alguns rumores que correm por aí acerca de uma suposta relação homossexual entre mim e o Doutor Nuno Melo, talvez isso o possa ter afastado de mim. Mas, caramba, somos amigos, ele sabe muito bem qual é a natureza da nossa relação. Aliás, deixei isso bem explícito no meu livro, não há qualquer tipo de sentimento homossexual. Podem pegar em todos os nossos fatos, colocá-los sob luz negra e não verão qualquer vestígio de homossexualidade ou de fluidos que possam insinuar uma certa relação desse género.

É estritamente ideológica?

JCD: Estritamente ideológica, por isso é que me magoa.

Mais tarde ou mais cedo terá de formar governo. Nuno Melo estará já fora desta equipa?

JCD: Nunca. Há sempre uma porta aberta no meu governo, em minha casa, no meu coração e no meu livro. Aliás, reservei um capítulo do meu livro para falar sobre ele. Quando ocupar o cargo de Primeiro-Ministro, conto ser eu o Primeiro, ele o Ministro e o hífen somos nós de mão dada.

Tem já alguma ideia do resto da equipa de governo? Quais lhe parecem ser os políticos mais brilhantes desta geração?

JCD: O Doutor Pedro Chagas Freitas tem lugar garantido como Ministro da Cultura. Se quiser, obviamente. Para tornar a cultura um bem mais comercializável, porque a cultura tem de gerar riqueza, não pode ser só um poço de subsídios que servem para alimentar pseudo-artistas que querem viver à custa do Estado e não querem trabalhar. Tendo em conta a sua experiência a vender livros com letras, o Doutor Pedro Chagas Freitas poderá ter um papel muito importante. Para Ministra das Finanças, precisamos de uma pessoa que não seja atacada pela esquerda, alguém que seja sexy, e como é óbvio vamos buscar a Doutora Manuela Ferreira Leite. Ela não é aquele sexy tradicional que pode aparecer em revistas femininas, mas não há nada mais sexy que uma mulher competente a gastar o seu tempo em frente ao Excel para tornar as nossas contas mais eficientes. Ou ela ou a Doutora Cristina Ferreira, sem dúvida. 

São conceitos diferentes de sexy. Um sexy conservador...

JCD: E um sexy empreendedor. A Doutora Cristina Ferreira poderá ir para a Economia.

No entanto, surgem agora alguns rumores de que o Doutor Jovem se prepara para concorrer à Câmara Municipal de Lisboa.

JCD: Totalmente mentira. Aliás, vou deixar uma via aberta para a Doutora Assunção Cristas. A partir do momento em que eu assumir a liderança do PSD vou anexar o CDS. Os membros do CDS que valem a pena, que são praticamente todos menos o Joãozinho - estou a falar do João Pinho de Almeida -, vão ter um cartão PSD Premium. A Doutora Assunção Cristas vai para a Câmara de Lisboa para ter um posto, que eu não a quero ver desempregada. Para quê candidatar-me à Câmara de Lisboa se vou assumir já as rédeas do país?

A dúvida é se a Doutora Assunção Cristas, como mulher (e não interpretem mal, não quero ser já atacado por feministas) terá capacidade para gerir uma organização importante como a Câmara de Lisboa. Terá de estar muito bem acompanhada. E eu, como líder do PSD e com a minha capacidade de trabalho, poderei ser uma espécie de Presidente da Câmara oficioso: ela dá a cara e aparece nas cerimónias públicas, mas o trabalho a sério será feito por mim.

O imposto sobre o Património Imobiliário foi batizado como imposto Mariana Mortágua. Como será o imposto Doutor Jovem Conservador de Direita?

JCD: Se houvesse um imposto, seria precisamente o contrário. Nós não podemos estar a premiar quem não trabalha, quem não cria riqueza. Isto é, não podemos penalizar quem consegue obter um imóvel modesto de 500.000€ e deixar que as pessoas preguiçosas, desempregadas, continuem a ver as suas vidas privilegiadas por um governo de esquerda. O que eu vou fazer vem na continuidade do que fez o Doutor Pedro Passos Coelho, que é penalizar os desempregados e quem produz pouca riqueza, quem consegue auferir ordenadozinhos na ordem dos 200.000€/ano. Não é para mal deles. Ser pobre tem de ser o mais desconfortável possível, para que haja uma vontade muito forte de querer sair dessa situação deplorável. Este imposto da Mariana Mortágua representa uma certa inveja de quem tem sucesso.

Talvez a mesma inveja que muitos sentiram pelo Doutor Durão Barroso quando foi para a Goldman Sachs. Já teve oportunidade de o parabenizar?

JCD: Não é oportunidade, neste momento já estou é farto de o ver. Como sabe, o Doutor Durão Barroso tem um percurso sinuoso, que começou na esquerda radical e depois viu a luz, mas se há uma característica dele que é juntar-se sempre aos mais populares para conseguir singrar na sua vida política. O que acontece na Goldman Sachs é que, a partir do momento em que o Doutor Durão Barroso me viu lá, não me largou. Ele foi para lá gozar a sua reforma e sempre que eu vou nos corredores começam todos a gozar, a dizer «lá vem o cardume». Se ele é o cherne, a mim chamam-me o bacalhau da finança. E isto é uma tristeza. Já pedi, e já aconteceu, instalarem-lhe o Minesweeper no gabinete e ele está lá, quietinho.

Mas não me interpretem mal, é um grande homem, que soube fazer pela vida, ser um polvo e ter a capacidade de se acomodar aos recipientes e a fazer aquilo que esperavam dele. Se há ódio em relação ao Doutor Durão Barroso é puramente motivado por duraobarrosofobia. As pessoas têm inveja do sucesso dele e da incapacidade de fazerem aquilo que ele fez para chegar onde chegou. Por exemplo, o Doutor Cristiano Ronaldo marca meia dúzia de golos pela Equipa de Futebol de Portugal e toda a gente o recebe no aeroporto; o Doutor Durão Barroso chega a chairman de uma das instituições mais importantes do mundo financeiro e é insultado. Acho que temos de rever as nossas prioridades. Acho que já organizávamos uma grande manifestação a favor do Doutor Durão Barroso, porque ele neste momento está muito triste e merece. O país tem de agradecer tudo o que ele tem feito.

A sua base de apoio é cada vez mais sólida, basta ver os mais de 35.000 likes no Facebook. Já pensou em mandar criar uma Juventude do Doutor Jovem Conservador de Direita? Pelo menos para ajudar nas manifestações.

JCD: Por acaso não, mas se estiver interessado… Eu não tomarei a iniciativa. Ficar-me-ia muito mal haver um movimento criado por mim para me apoiar. Eu conto com uma vaga de fundo que faça isso autonomamente sem eu ter de intervir. E se não o fizerem o problema não é meu, vivo bem como estou. O problema é deles, que se arriscam a que eu não chegue tão longe como poderia chegar.

Realmente, para questões logísticas pode contar com estagiários. Normalmente, quanto tempo é que um estagiário se aguenta sob as suas ordens?

JCD: Depende… Eles começam a chorar ao fim de três horas, mas depois de 15 dias com o Doutor Cesar Millan, não sei se conhece, o encantador de cães, aguentam à volta de 21 horas de trabalho por dia. Tenho uma média, sei lá, de duas semanas por estagiário. Mais ou menos isso. Duas semaninhas.

Viu ou mandou alguns dos seus estagiários ver o debate presidencial dos Estados Unidos?

JCD: Vi. Foi uma vitória muito clara da Doutora Hillary Clinton. Também não é difícil quando o opositor é um orangotango. Já me referi muitas vezes a esta situação lamentável: o Doutor Donald Trump é um entertainer fantástico, um grande empreendedor, chegou muito longe, mas sou da opinião de que ele não está preparado para ser o Presidente de um país tão importante como os Estados Unidos da América. É um esquerdalho que está infiltrado no Partido Republicano para dar força à Doutora Hillary Clinton. Pessoalmente não me importo, porque a Doutora Hillary Clinton é uma grande candidata de direita, uma candidata amiga das instituições de Wall Street e tem lidado muito bem com o Doutor Donald Trump. Pode dar-se o caso de ele ganhar, o que pode ser gravíssimo porque faz implodir a direita.

A única coisa que falta à Doutora Hillary Clinton para ser uma grande política é arranjar um técnico informático de jeito. Mais nada. Ela tem de dizer aquelas coisas meias esquerdalhas, de apoiar o casamento gay e assim, e eu provavelmente um dia também terei de o fazer para não perder eleitorado, porque penso que chegaremos a um ponto em que não será possível reverter isso, e os homossexuais vão poder casar na mesma e vão todos parar ao inferno sem que eu o possa evitar, mas o problema é deles. Às vezes temos de dar um passo atrás para dar dois em frente.

O Doutor Jovem consegue produzir opinião sobre todos os assuntos?

JCD: Claro que sim.

Vá lá, admita, diga-me um assunto sobre o qual ainda não tenha opinião.

Tampas de saneamento. Mas se quiser...

Quanto ao alarme, como suspeitávamos, era falso. Decerto uma extravagância do Doutor Jovem, que acha coisa de pobre tocar à campainha.