Em “Julia”, uma adaptação de “A menina Julia”, de August Strindberg, Christiane Jatahy, a artista convidada para a edição deste ano da bienal, construiu um cinema ao vivo, com cenas pré-filmadas e cenas filmadas no momento, tornando a peça um filme elaborado na presença do público.
A adaptação desta peça clássica de Strindberg traz também esse conflito para a atualidade, já que no dia em que se assiste à peça o público “se pergunta quem são e como se relacionam”, hoje, Julia e Jean.
Como se Christiane Jatahy colocasse uma câmara na relação entre Julia e Jean, e invadisse com o olhar do público esse encontro.
Porque, como a artista referiu em março à Lusa, quando foi apresentada como a Artista na Cidade 2018, o teatro “é sempre sobre contemporaneidade”. Porque só assim “se acerta no alvo” e se “entra na essência da obra”, sublinhou na altura.
Daí que, a artista carioca nascida em 1968, necessite de dialogar com o espetador no momento atual em todas as peças que constrói.
Com Julia Bernat e Rodrigo dos Santos, “Julia” conta ainda com a participação de Tatiana Tiburcio, no filme.
Com cenário de Marcelo Lipiani e Christiane Jatahy, a peça tem câmara ao vivo de Paulo Camacho, desenho de luz de Renato Machado e David Pacheco, figurinos de Angèle Fróes e músicas de Rodrigo Marçal.
Da criadora brasileira e no âmbito da Bienal Artista na Cidade 2018, o público poderá ainda ver, no D. Maria II, “E se elas fossem para Moscou”, de 11 a 13 de maio, e “A floresta que anda”, de 18 a 20 de maio.
No dia 20, e ainda no D. Maria II, será lançado o livro “Fronteiras invisíveis: diálogos”, seguido de debate, e a artista dará, entre 07 e 09 de maio, uma oficina de trabalho subordinada ao tema “Relação. Reação. Criação”.
Entre os trabalhos da artista nascida no Rio de Janeiro, destaque ainda para “Ítaca – Nossa odisseia I”, o seu trabalho mais recente e que apresentará no S. Luiz, de 07 a 11 de junho.
Esta será a primeira parte de um díptico, inspirado na “Odisseia”, de Homero, que vai prosseguir em 2019, com um projeto sobre viagens, revelou Christiane Jatahy à agência Lusa.
Um projeto – disse – em que irá documentar “as verdadeiras odisseias, as verdadeiras travessias, levando a ficção para essas travessias diárias [de imigrantes e refugiados], e depois documentar a obra”.
Para elaborar a segunda parte do díptico, a criadora irá trabalhar sobre as viagens que se fazem “nos nossos dias em África, na Europa, no Brasil e nas suas fronteiras, assim como em toda a linha do Mediterrâneo”.
Christiane Jatahy sucede ao bailarino e coreógrafo congolês Faustin Linyekula, que foi Artista na Cidade de Lisboa em 2016. O dramaturgo e encenador britânico Tim Etchells, em 2014, e a coreógrafa belga Anne Teresa de Keersmaeker, em 2012, foram os anteriores convidados da bienal que junta diferentes palcos e instituições da cidade.
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