“Estar em Veneza trouxe muito visibilidade ao filme. Existirá um ‘antes de Veneza’ e um ‘depois de Veneza’. Sou absolutamente grata ao facto de Veneza ter coragem de seguir e, de uma forma adaptada e nova, não deixar cair as coisas”, afirmou Ana Rocha de Sousa à agência Lusa.
Num ano atípico no calendário dos festivais internacionais, por causa da pandemia da covid-19, o festival de Veneza manteve a edição em moldes tradicionais, com sessões em sala, com um protocolo mais apertado de segurança e higiene e as habituais secções competitivas.
Numa das competições, “Horizontes”, está “Listen”, primeira longa-metragem da atriz e realizadora Ana Rocha de Sousa, inspirada em factos reais. É um drama familiar de uma família portuguesa emigrada no Reino Unido, a quem os serviços sociais lhe retiram os três filhos menores, por suspeita de maus tratos.
A realizadora recua a 2016 para falar da criação deste filme, depois de ter vivido e estudado em Londres, de ter sido mãe e de ter tomado conhecimento de casos de emigrantes que viveram aquele drama, retratado em “Listen”.
“Não é de todo um filme contra ninguém em específico, mas pretende levantar questões; se não haverá outras formas de salvaguardar o superior interesse estas crianças e destas famílias para lá da adoção. (…) A grande dificuldade do tema são algumas definições demasiado subjetivas em termos legais que tornam o sistema [social] muito falível”, contou.
“Listen” tem coprodução luso-britânica, foi rodado nos arredores de Londres com elenco português e inglês, encabeçado por Lúcia Moniz, Ruben Garcia e Sophia Myles.
“Filmar no Reino Unido é extremamente mais complexo, no entanto também existe um acesso a meios de uma forma diferente. O filme foi muito bem apoiado em termos de trabalho de equipa e acaba por ter abertura para outros campos”, contou.
Veneza é só mais um passo no percurso de Ana Rocha de Sousa, que entrou no cinema pela porta da representação, sobretudo em ficção televisiva, como “Riscos”, “A raia dos medos”, “Morangos com açúcar” e “Jura”, e que passou para o outro lado da câmara a realizar curtas-metragens.
“Sempre soube que, vinda de um meio que o cinema acaba por considerar menos nobre, que é a televisão, e tendo tido essa experiência, existe essa tendência imediata e espontânea, sem sequer se procurar pensar nisso, de julgamento muito prévio e muito redutor. Mas as coisas são o que são. Não tenho um discurso derrotista. É lidar com as coisas como elas são. Nem o meu filme vai agradar a toda a gente e o importante é ter o foco e ter convicção até ao fim”, afirmou.
Atualmente a escrever o próximo filme, Ana Rocha de Sousa diz estar concentrada sobretudo na realização, mas não descarta voltar a representar, “em projetos específicos”.
“Listen”, que chegará aos cinemas portugueses em 2021, terá exibições no festival de Veneza nos dias 07, 08 e 09 de setembro.
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