No filme de Susana Sousa Dias o júri destacou “o uso de uma proposta estética e narrativa própria com um desenho sonoro muito cuidado”, promovendo “uma reflexão que transcende e convida a atingir o ‘poço escuro’ da memória”, de acordo com a decisão anunciada na noite de sábado, em Madrid.
Na competição internacional de curtas-metragens, foi igualmente atribuída uma Menção Especial do Júri ao documentário “A gis”, do realizador brasileiro Thiago Carvalhaes, sobre Gisberta Júnior, a mulher transexual assassinada na cidade do Porto, em 2006.
“City of the Sun” (“Cidade do sol”), documentário do realizador georgiano Rati Oneli, sobre uma mina abandonada e o impacto na cidade vizinha, foi o vencedor da Competição Internacional de Longas-Metragens da DocumentaMadrid 2017.
“Machines”, longa-metragem de estreia do realizador de origem indiana Rahul Jain, residente nos Estados Unidos, partilha a menção especial do júri com Susana Sousa Dias, através do testemunho de uma fábrica de têxteis na região de Gujurat, no noroeste da Índia.
O prémio internacional de melhor curta-metragem foi para “Manodopera” (“Mão de obra”, em tradução livre), do grego Loukianos Moshonas.
“Luz Obscura”, de Susana Sousa Dias, insere-se no trabalho de “arqueologia” que a realizadora tem vindo a fazer sobre a ditadura do Estado Novo – e os arquivos da polícia política, em particular – que está também na base de “48”, de 2010, e de “Natureza morta”, de 2005, no qual revisita atualidades da época, reportagens de guerra, documentários de propaganda, além fotografias de prisioneiros políticos.
“Processo-crime 141/53 – Enfermeiras no Estado Novo”, de 2000, o documentário de estreia de Susana Sousa Dias, como realizadora, aborda a situação de enfermeiras, presas durante a ditadura, em Caxias, por se terem oposto à proibição de trabalharem nos hospitais civis, por serem casadas ou viúvas, com filhos.
No mais recente documentário, “Luz Obscura”, Susana Sousa Dias prendeu-se às fotografias de cadastro de presos políticos, em que estes aparecem acompanhados dos seus filhos, centrando-se em particular na família do militante comunista Octávio Pato (1925-1999) – o mais novo dos três irmãos nasceu na clandestinidade e aparece ao colo da mãe, na fotografia da PIDE.
“Ouvimos testemunhos de familiares de comunistas assassinados, explicando como se viram arrastados para processos de humilhação — crianças tratadas como prisioneiros, sendo que muitas delas nunca mais viram os pais”, destaca a realizadora na sinopse do documentário, que teve estreia nacional na sexta-feira, no âmbito do festival IndieLisboa.
“Cidade Pequena”, curta-metragem que valeu a Diogo Costa Amarante o Urso de Ouro no festival de Berlim, foi exibido na secção competitiva Fugas, para filmes “inovadores e ousados e com um acentuado ênfase político e experimental”.
Na competição nacional espanhola da DocumentaMadrid, o prémio de melhor longa-metragem foi para Laura Herrero Garvín por “El Remolino” (“O Remoinho”), uma coprodução mexicana rodada em Chiapas, o de melhor realizador foi para Chico Pereira, por “Donkeyote”, e o de melhor curta-metragem para “25 Cines”, de Luis Macías.
A longa-metragem “We make couples”, do canadiano Mike Hoolboom, e a produção alemã “Find fix finish”, de Mila Zhluktenko e Sylvain Cruiziat, são as vencedoras da secção Fugas.
O DocumentaMadrid – Festival Internacional de Documentário decorreu, desde o passado dia 04, na Cineteca de Madrid.
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