“A Ninfa”, um retrato de tema mitológico em óleo sobre tela, estava, antes do restauro, atribuído ao pintor Pierre Narcise Barron-Guerin (1774-1883), mas a intervenção veio a revelar uma assinatura que comprova a autoria da obra a Louise Mauduit (1784-1862), uma artista francesa sua contemporânea.

A obra da artista Louise Marie-Jeanne Hersent, nascida com nome de família Mauduit, em Paris, faz parte do legado de 11 pinturas de Maria Luisa Dilley Pina Moutinho entregue ao Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) em 1987, indica o museu, num comunicado enviado à agência Lusa.

Na altura, ainda referenciada como um “Retrato de Senhora”, a pintura viria a ter uma intervenção de conservação e restauro em 2021, a cargo do conservador-restaurador Raul Leite, do Laboratório José de Figueiredo, em Lisboa.

Nesta intervenção, foi possível encontrar-se uma assinatura que comprova a autoria da obra, não ao pintor a que estava atribuída, Pierre Narcise Barron-Guerin, mas a Louise Mauduit, e “o encobrimento da assinatura original ter-se-á devido a motivos comerciais, na tentativa de fazer passar a pintura como obra de um artista mais conhecido e mais valorizado”.

A pintura representa provavelmente uma ninfa, dentro dos temas mitológicos que interessaram a Louise Mauduit durante a sua aprendizagem com Meynier, já que “a pose e as vestes podem aliás ser comparáveis com outras pinturas do tema, como ‘A Ninfa’, de Rosalba Carriera (1653-1757), do Museu do Louvre”, indica o MNAA.

Louise Marie-Jeanne Mauduit – que depois do casamento tomou o nome de Louise Hersent – nasceu em Paris, em 1784, filha de Antoine-René Mauduit (1731-1815), um arquiteto régio, professor na École des Ponts et Chaussées, e na Académie Royale d’Architecture, e autor de uma série de importantes livros de geometria, astronomia e aritmética.

Aprendeu pintura com dois famosos pintores neoclássicos de cenas históricas e mitológicas, primeiro com Guillaume Léthière (1760-1832), e depois com Charles Meynier (1768-1832), que apadrinhou a sua primeira apresentação no Salão de 1810, em Paris.

Louise deve ter visto a sua carreira artística apoiada, ou pelo menos não obstruída, pela família, já que o seu irmão Antoine François Mauduit (1775-1854) foi arquiteto e a sua irmã, Catherine Mauduit, foi casada com o pintor Antoine Honoré Louis Boizot (1774-1817).

A própria Louise Mauduit viria a casar, em 1821, com o pintor Louis Hersent (1784-1862), um discípulo de Jacques-Louis David, tomando o nome de Louise Hersent.

Na casa de ambos, na Rua Cassete, em Paris, Louise criou uma escola de pintura destinada a mulheres, continuada pela sua discípula Louise Adélaïde Desnos, pintora que, em 1835, executou um retrato de Louise Hersent, atualmente detido pelo Museu do Château de Versailles.

Assinada ainda pelo seu nome de solteira e, por isso, provavelmente anterior a 1821 – data do seu casamento -, a pintura corresponde a um ativo período em que a pintora expôs repetidamente no Salão de Paris, entre 1810 e 1824, e também nos Salões de Lille e de Douai, em 1825.

Em 1817 e 1819, ganhou a Medalha de Ouro 1.ª classe no Salão de Paris, certame dedicado à arte.

Após a Revolução Francesa (1789), a abertura do Salão a todos os artistas, a partir de 1791, mesmo aos não académicos, e a própria abertura da Academia às mulheres, com o rompimento das suas limitações de número, em 1793, levaram a uma visibilidade maior das mulheres pintoras e a um rápido crescimento do seu número, contextualiza o MNAA. Até então, e desde 1667, o Salão era uma seleta exposição de arte que se realizava no Louvre.

Apesar dos clamores em contrário, como os de Abade de Fontenay, em 1785, contra “a mania” das mulheres pintoras, a crescente reputação de artistas como Anne Vallery-Coster (1744-1818), Adelaïde Labille-Guiard (1749-1803), Louïse Vigée-LeBrun (1755-1842) e Marguerite Gérard (1761-1837), entre outras, levaram ao destaque crescente da mulher na arte, recorda ainda o museu.

“A Ninfa”, de Louise Mauduit, vai ficar patente na sala 60 da Galeria de Pintura Europeia do MNAA, até 27 de março de 2022.

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