Por: Sofia Branco da agência Lusa
“There is a little hippie in all of us” ("todos temos um bocadinho de hippie") é o lema inscrito numa placa que acompanha a matrícula do carro onde Neuza passa as noites do festival. “Não tenho colchão, estou um bocadinho dorida das costas”, conta à Lusa.
Este ano, a algarvia decidiu juntar o útil ao agradável e aproveitou o Festival Músicas do Mundo para vender os produtos naturais – cremes, sabão, desodorizantes, champôs – que aprendeu a fazer sozinha, com a ajuda da internet. “Costumo dizer que em todas as receitas boas da vida o ingrediente é o amor”, partilha.
Neuza teve um trabalho tradicional, “nove horas dentro de uma sala”, mas aquilo não era para ela. Prefere “apanhar plantas, estar em contacto com a natureza”.
O parque de campismo oficial está fechado há tempos e a autarquia “sentiu necessidade” de improvisar um espaço para acolher os festivaleiros, explicou à Lusa o presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas.
As instalações do designado parque de campismo ocasional “surpreenderam” Neuza, que não esperava tanto de um local de acesso gratuito. “Ter casas de banho, chuveiro com água quente, o autocarro que nos vem buscar a partir das cinco até às duas da manhã. Acho muito bom, é um bom exemplo. É um apoio para as pessoas mais jovens”, considera.
Já as duas funcionárias que asseguravam a limpeza das instalações sanitárias quando a Lusa visitou o espaço lamentavam a ausência de civismo de alguns utilizadores, que insistem em depositar os papéis onde não devem, provocando entupimentos.
As sombras são poucas para tantas caravanas e tendas, mas espaço não falta, até para os carros. Com tanta gente, Neuza não se sente sozinha. Além disso, o ambiente é de festa. “Guitarras, violas, djambés, sempre a fazerem música por todo o acampamento”, relata.
A 500 metros deste parque improvisado está um espaço com tendas ecológicas onde o mínimo por noite supera os 40 euros e pode ultrapassar os 160.
Com capacidade para acolher duas centenas de campistas, este parque erguido pela empresa Sleep-em-all já “está lotado” para os três dias de festival que ainda restam, diz Rita Martins, na receção.
Aluna na Escola Superior de Hotelaria do Estoril e a fazer um estágio remunerado no parque de campismo ecológico, Rita Martins explica à Lusa que “há imensos estrangeiros” entre os campistas. “Pessoas mais velhas, pessoas mais novas, há de tudo um pouco. Também temos uma família, com crianças pequeninas e um bebé”, relata, assinalando que o local é “muito calmo, não tem nada a ver (…) com o outro campismo”.
O presidente da Câmara Municipal de Sines reconhece que a falta de um parque de campismo é a “grande lacuna” da cidade de Sines.
A entidade a quem o espaço foi concessionado em 2013 para remodelação “tem adiado a execução” do projeto, lembra.
Com uma cara “mais verde” – copo reutilizável e pulseira de pano –, a 20.ª edição do FMM contou ainda com a oferta de centenas de tendas ecológicas para o parque de campismo provisório. “As pessoas aderiram de forma muito interessante. Será uma iniciativa para repetir nos próximos anos”, antecipa Nuno Mascarenhas.
O alojamento tem sido o calcanhar de Aquiles deste festival com 20 anos e vários prémios.
As quatro mil camas existentes no concelho – espalhadas por hotéis e unidades de alojamento local – “não são suficientes”, reconhece o autarca.
Lembrando que há “algumas entidades interessadas em investir no concelho”, Nuno Mascarenhas acredita que a “necessidade premente” de aumentar a oferta de alojamento estará salvaguardada “nos próximos anos”.
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