Por ano, cerca de 8.000 crianças e jovens usufruem das atividades proporcionadas pelo Centro de Educação e Desenvolvimento Francisco Margiochi (CEDFM) na Quinta do Arrife, uma propriedade com 62 hectares, na fronteira do concelho de Santarém com o de Alcanena, doada à Casa Pia de Lisboa (CPL) por um benemérito, Mário Maurício dos Santos, na década de 1970, vocacionada para a educação e animação agroambiental.
“Começamos a ser uma grande referência a nível de quintas pedagógicas”, disse à Lusa Jorge Duque, diretor do CEDFM, realçando as “sinergias” criadas com recursos locais, patentes nos protocolos celebrados com as câmaras municipais de Santarém, de Alcanena e, mais recentemente, de Torres Novas, mas também com a cooperativa Terra Chã, de Chãos (Rio Maior), e com o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros/Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (PNSAC/ICNF).
As 10 visitas temáticas, adaptadas aos currículos dos vários níveis de ensino, estão disponíveis não só para os diversos colégios e instituições da CPL, mas para todas as escolas do país, sendo gratuitas para os estabelecimentos dos concelhos com protocolos, que, em contrapartida, emprestam autocarros, limpam terrenos, dão acesso livre a piscinas, complexo aquático e praia fluvial, salientou.
Da cooperativa Terra Chã chega o apoio para o programa das abelhas e do PNSAC/ICNF para o das aves, entidades que também beneficiam das atividades que o espaço proporciona e que os técnicos do CEDFM potenciam com ações de “team building” (construção de equipas), pensadas para responder a necessidades da instituição, mas abertas também a empresas e à comunidade.
Alunos do colégio Nossa Senhora da Conceição finalizavam uma ação de campo de três dias no dia em que professores e educadores do ensino integrado de música do colégio Nuno Álvares Pereira, ambos da CPL, estiveram na quinta, para a terceira edição do programa “CooLaboração — Construindo Equipas”.
Com molhos de orégãos nas mãos, as crianças, contaram como descobriram, na subida pela serra até ao planalto, casas abandonadas, um cemitério e um moinho reconstruído, para logo conferirem a lista de aromáticas que tinham por missão apanhar, num percurso que as levou a olhar para a paisagem humana e natural e a identificar as espécies dominantes.
“Só não encontrámos uma, tomilho”, disse Sara, fazendo coro com o grupo a enumerar as plantas descobertas: rosmaninho, orégãos, alecrim e murta.
“Já fizemos queijo, manteiga, demos comida aos animais, BTT e tomámos banho de mangueira”, resumiu, com Rafael a acrescentar que, apesar das feridas, a atividade de BTT (bicicleta todo-o-terreno) foi a sua preferida, sem esquecer os animais, que, “aqui, são muito calmos, fofos”.
Luna vai planeando como usar os orégãos quando chegar a casa, descrevendo a entrada com tostas, queijo, tomate e azeite. Diana não esquece o passeio de burro e Tatiana conta, empolgada, a subida à montanha.
Na chegada, cruzam-se com os professores do colégio Nuno Álvares Pereira, atarefados na definição da melhor estratégia para que o seu grupo atinja pontuação máxima nas três etapas do desafio que têm pela frente.
Antes do almoço, há ainda tempo para dar um “aperitivo” aos animais. Esticam as mãos, pequenas “manjedouras”, para os burros, entram nas capoeiras e lançam os grãos para galinhas, galinholas, pavões e seguem depois para o refeitório para o último almoço de uma estada que esperam que se repita.
Terão oportunidade de regressar num fim de semana ou nas férias escolares, quando ficam cinco dias na colónia balnear da Areia Branca e seis dias no Arrife, com saídas pela região e atividades noturnas.
Se as visitas temáticas se articulam com os programas curriculares, as atividades de animação têm um caráter meramente lúdico, estando igualmente abertas à população mais idosa, sendo regulares as visitas de grupos seniores, salientou Jorge Duque.
Isabel Sá, diretora do colégio Nuno Álvares Pereira, realçou o contributo pedagógico do CEDFM também para as aprendizagens “do saber ser e do saber estar” das crianças, bem como o papel que tem desempenhado na estratégia que definiu para a criação de “espírito de grupo” e para melhorar a comunicação nas escolas que dirige, incluindo com os encarregados de educação.
João Paulo Jordão, professor de educação física, tem participado no programa “CooLaboração”, tanto com colegas como com encarregados de educação e com alunos, por sentir que o “ambiente positivo” vivido no Arrife tem impacto no trabalho desenvolvido ao longo do ano.
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